Folia

Virgens do Bairro Novo garantem a diversão de milhares de foliões em Olinda

Fundado em 1953, o bloco é um dos mais tradicionais do carnaval do estado

Publicado em: 04/02/2018 15:22 | Atualizado em: 04/02/2018 16:17

A organização do bloco estima que 300 mil pessoas tenham participado do evento. Foto: Rafael Martins/DP
Pelo 65° ano consecutivo, milhares de pessoas tomam, neste domingo (4) as principais ruas do bairro de Bairro Novo, em Olinda, para participar de um dos mais tradicionais blocos do carnaval pernambucano: as Virgens do Bairro Novo. A prévia é conhecida pela irreverência dos foliões, especialmente os homens, que aproveitam a festa para se fantasiarem com roupas femininas e participar o concurso de fantasias, que premia aqueles que mais chamaram a atenção dos jurados. De acordo com a organização, a expectativa é de que 300 mil circulem pelo local.

No fim da manhã deste domingo, a Praça 12 de Março já estava repleta de pessoas que aguardavam o bloco sair. A concentração teve início às 9h. Isolados por uma corda ao redor do trio, os participantes do concurso de fantasias chamavam a atenção de todos  e não desanimavam nem mesmo com o forte calor que fazia no local. “Já desfilo há mais de 30 anos e tenho seis títulos em categorias diferentes”, afirmou o personal trainer Leguito Gomes, que na edição deste ano se fantasiou de Juju Danoninho, personagem que, segundo ele, é “a versão light da (cantora de funk) Jojo Todynho”. “Tenho 48 anos e hoje o meu lado mulher é sapatão”, brincou.

Já o pintor imobiliário Uapurã Florêncio apostou na fantasia de “Maria vai com as outras” para participar das Virgens. Ele faz questão de marcar presença no bloco desde 1978 e falou que a prévia é “o maior teatro masculino com guarda-roupa feminino” do carnaval, e que a festa também serve como termômetro para mostrar como serão as festas de momo a cada ano.

O produtor de eventos Carlos Mota chamou a atenção com a sua fantasia de Ivete Zangado. Foto: Rafael Martins/DP
Entre as fantasias, uma das que mais chamou a atenção foi a do produtor de eventos Carlos Mota. Morador de Camaragibe, na Região Metropolitana, e frequentador das Virgens desde 1992, ele encenou o nascimento das gêmeas da cantora Ivete Sangalo, que na versão criada pelo folião se chamava “Ivete Zangado”. Com uma das “filhas” nos braços e a outra saindo do ventre, a fantasia contava ainda com a ajuda do “doutor Trick”, responsável por fazer o parto. “Quem não é fã de Ivete? Essa foi a forma que eu encontrei de homenageá-la”, comentou Carlos, que já coleciona 19 títulos.

A pequena Rivânia Silva, que em julho do ano passado emocionou o país ao salvar o s livros diante da enchente que atingiu a sua casa, em Sirinhaém, no litoral sul do estado, também foi homenageada. “Aquela menina é um exemplo de vida”, comentou o pesqueiro Altaíro Barbosa, que estava acompanhado da mulher, Jardina Conceição.              

"Como ela se candidata ao Ministério do Trabalho devendo aos funcionários? Tem que dar o exemplo%u201D, disse o mecânico Rubem Lourenço, que se fantasiou de Cristiane Brasil. Foto: Rafael Martins/DP
Houve espaço também para manifestações políticas: em meio a polêmica envolvendo a nomeação da deputada federal Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho, o mecânico Rubem Lourenço carregava uma faixa que dizia “Cristiane Brasil: a quase ministra do trabalho que virou fantasia de carnaval pela juíza federal”, numa referência à decisão da presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmém Lúcia, que suspendeu a posse de Cristiane. “A fantasia é uma representação da política brasileira,  que é corrupta. Como ela (Cristiane) se candidata ao Ministério do Trabalho devendo aos funcionários? Tem que dar o exemplo”, criticou.

O professor Allan Carneiro, que foi caracterizado como a deusa romana Iustitia (símbolo da Justiça), disse que sua fantasia era uma forma de criticar o tratamento diferenciado dado pelo Judiciário brasileiro a réus. “Queremos mostrar como a Justiça é falha. Na nossa fantasia, colocamos a venda em apenas um dos olhos (na estátua original, os dois olhos da deusa são vendados) para mostrar como as decisões são tomadas de maneiras diferentes”, explicou.

Estrutura
Presidente executivo do bloco, Kaká Maranhão ressaltou que o formato da atração jamais sofreu modificações ao longo das décadas de existência. “A nossa expectativa é de um carnaval tranquilo, bem popular”. Foram 10 trios elétricos e quatro orquestras com 100 músicos cada, que percorreram um trajeto de 1,6 quilômetros pela avenida Getúlio Vargas. As bandas Asas da América e Som da Terra foram algumas das atrações. “Sempre prezamos atrações locais para valorizar pessoas da nossa terra. Não trabalhamos com artistas de fora”, frisou o organizador.

De acordo com a autarquia de trânsito de Olinda, 28 agentes trabalharam ao longo de todo o trajeto do bloco. Eles estavam motorizados, em viaturas e a pé, posicionados no início e no fim do percurso, além de estarem também na rua Alberto Lundgren, utilizada como saída de emergência. A Polícia Militar informou que 500 agentes foram escalados para garantir a segurança dos foliões.
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