ESPETÁCULO
'Nasci para Ser Dercy', com Grace Gianoukas, chega ao Teatro de Santa Isabel
Monólogo que celebra o legado de Dercy Gonçalves é escrito e dirigido por Kiko RieserPublicado em: 07/05/2025 06:00 | Atualizado em: 06/05/2025 21:37
Foto: Heloisa Bortz |
Ousada, hilariante, indomável e dona de sua própria voz. Essas são apenas algumas das características que compõem a personalidade inconfundível de uma das maiores artistas da cultura brasileira, trazida de volta aos palcos através do monólogo Nasci para Ser Dercy, da atriz Grace Gianoukas, que retorna ao Recife sábado e domingo, no Santa Isabel.
A peça, escrita e dirigida por Kiko Rieser, que veio à capital pernambucana pela primeira vez em janeiro do ano passado, convida o público a conhecer Vera, personagem que fará um teste para interpretar Dercy Gonçalves, mas que, durante a leitura do texto, começa a se revoltar com os estereótipos do roteiro, transformando-se cada vez mais na própria artista visionária e desbravadora.
Foto: Heloisa Bortz |
Nome artístico de Dolores Gonçalves da Costa – nascida em Santa Maria Madalena, no Rio de Janeiro, em 23 de junho de 1907 e falecida em 19 de julho de 2008, aos 101 anos –, Dercy atravessou praticamente todo o século 20 em suas inúmeras transformações, enfrentando desde uma infância pobre e traumática até os vários desafios de ser uma mulher de força e sinceridade incomparáveis. Com uma trajetória distinta, mas cheia de identificações, Grace Gianoukas utiliza o monólogo para abraçar o hino da liberdade que a saudosa comediante representou, e ainda representa, para a cena nacional.
Em entrevista exclusiva ao Viver, a atriz descreve a experiência de fazer Nasci para Ser Dercy como desafiadora e também cheia de interseções pessoais. “A peça tem sido mobilizadora na minha vida porque, guardadas as devidas proporções, muitas coisas na jornada dela batem com a minha. Ela dizia o que tinha que ser dito e não tinha medo de que não gostassem dela. Sou um pouco assim”, afirma Grace. “Dercy era incrivelmente sincera e odiava hipocrisia. Sua maior bandeira era a liberdade. Fazer esse trabalho reafirma a luta das mulheres e, principalmente, das mulheres artistas”.
Foto: Heloisa Bortz |
Indicada aos prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e Bibi Ferreira na categoria Melhor Atriz pelo papel no espetáculo, Gianoukas busca ir além de falas marcantes de Dercy, que não dão conta da dimensão de seu pioneirismo. “Ela era muito mais do que os recortes que viralizam na internet. Como uma militante da liberdade, certamente estaria hoje reafirmando essa luta feminina com muita franqueza”, reflete.
Ainda na conversa, a atriz ressalta: “Sou apaixonada por Pernambuco, pelos artistas dessa terra, pelo teatro e pelo cinema locais. Existe uma tradição incrível de leitura no Recife e o público é muito culto e influenciado por pensamentos originais e consistentes”. Grace, que estourou com o espetáculo Terça Insana, criado por ela, e que brilhou em novelas como Haja Coração e Orgulho & Paixão, complementa: “Sempre que vou ao Recife, aprendo muito e volto maior. É uma cidade onde encontro pessoas que me inspiram. No caso de Nasci para ser Dercy, retornar a esta terra com certeza vai expandir o meu entendimento dessa personagem que quebrou barreiras e mudou para sempre a cultura”. É hora de celebrar novamente esse legado.