Santo remédio? Benefícios e riscos dos chás tomados pelos recifenses Parte da "medicina popular", infusões se disseminam, mas há quem garanta que efeitos não passam de "placebo"

Por: Paula Paixão

Publicado em: 21/05/2017 15:08 Atualizado em: 21/05/2017 15:26

Há 34 anos no Mercado de São José, Ceça garante ter mais de mil tipos de ervas em seu box. Foto: Anderson Freire/Esp.DP
Há 34 anos no Mercado de São José, Ceça garante ter mais de mil tipos de ervas em seu box. Foto: Anderson Freire/Esp.DP
Chá de camomila para acalmar, chá de boldo para a digestão, chá de eucalipto para problemas respiratórios, chá-mate para queimar colesterol, e por aí vai. Numa lista quase infindável, os chás se convencionaram como “remédios”, fortalecidos na tradição popular. No Recife, especificamente no Mercado de São José, é possível encontrar uma variedade enorme desses produtos. No prédio fundado em 1875, entre os boxes espalhados pelos corredores está Maria da Conceição Tavares, de 57 anos, mais conhecida como Ceça. Ela faz parte da história do mercado há 34 anos, sendo uma das principais vendedoras de ervas do local. A sua especialidade é herança de infância e ancestral. É descendente de índios e o seu conhecimento manual sobre ervas fez com que conseguisse se manter no mercado por tanto tempo, com um estoque que ultrapassa os mil tipos de plantas, boa parte delas utilizados para fabricação dos chás.

Sabe exatamente o que os recifenses mais procuram pelo mercado. Muitas vezes, inclusive, vira “instrutora” e tem que dizer quais os efeitos de cada erva. “Algumas têm mais de um nome, então é preciso saber todos eles para vender corretamente. É uma medicina popular e nós estamos lidando com a vida humana, então eu faço muitas perguntas: por qual motivo a pessoa quer a erva, qual é a idade de quem vai ingerir, se a pessoa faz algum tratamento controlado”, enumera.
 
Maitê Santos, 49 anos, por exemplo, é cliente assídua do mercado, em busca de chás. Na sua casa, os mais consumidos são o de hibisco, camomila, erva-doce e romã. “O de romã é o que mais uso, faço gargarejo, também uso para ajudar na circulação de sangue e como calmante”. Ela conta que, no Mercado de São José, o que a atrai, além do preço e variedade, são os vendedores com conhecimento sobre os produtos. Se não acha respostas na internet, já sabe que lá poderá tirar suas dúvidas sobre efeitos e contraindicações das ervas.

De acordo com José Paulo da Silva, de 43 anos de idade, 32 deles trabalhando no mercado, ervas como canela, boldo e erva-doce nunca param nas prateleiras por muito tempo, mas a popularidade é diretamente influenciada pelo quanto o seu uso ganha destaque na TV e internet. Qualquer estudo, pesquisa ou análise feita em relação ao consumo dessas plantas que ganha destaque traz uma nova leva de clientes ao mercado.

Atualmente, para ele, esta é a causa da alta nas vendas do chá de hibisco - que promete emagrecimento – fazendo com que os vendedores aumentem o estoque daquela erva. Gerente de uma loja especializada em produtos naturais, também na Rua da Praia, Gerlayne Maria da Silva, afirma que lá, também, nenhuma outra planta é tão procurada quanto o hibisco. “Escolhemos a nossa seleção a partir da necessidade do cliente e da procura, mas antes fazemos um controle de qualidade para termos certeza de que a erva é confiável”, explica.

O esforço não é à toa. Iara Meireles, de 74 anos, é cliente fiel do local. Na sua lista de compras encontram-se itens como capim-santo, canela e erva-cidreira, sempre compradas in natura.”Não compro sempre, prefiro ir pegar as ervas. Alguns amigos meus plantam e trazem para mim, acho mais saudável. Eu sou do interior, fui criada tomando chá da folha. Não acho que tenha o mesmo sabor quando já foram desidratadas”, conta.

Já para Jane Pinheiro, o consumo de chá está sendo muito bem acompanhado por uma nutricionista, que fez questão de adicionar as ervas ao dia a dia dela. “É com ela que eu monto como vai ser minha alimentação. Tem óleo de coco, leite de soja, castanha do Pará e qualquer tipo de chá, mas sabendo o efeito dele. Gosto muito do de camomila, pois me acalma. Eu fazia tratamento de ansiedade, então substitui as medicações por chá”, contou.

É preciso evitar a “automedicação”
Letícia teve insônia por conta do consumo excessivo do chá preto. Foto: Anderson Freire/Esp.DP
Letícia teve insônia por conta do consumo excessivo do chá preto. Foto: Anderson Freire/Esp.DP

Pesquisadores ainda se aprofundam em estudos para entender qual a função exata de cada chá.  Mesmo para quem bebe apenas pelo sabor, é preciso muita atenção  sobre o que é consumindo e os efeitos que pode gerar. O chá preto, por exemplo, tem o uso excessivo ligado à labirintite. “É preciso entender que chá não é um alimento qualquer. Contém propriedades ativas que produzem efeitos no corpo”, explica a coordenadora do curso de medicina do Universidade Católica de Pernambuco, Erideise Gurgel da Costa.

Letícia Rocha foi vítima do consumo incorreto. Tinha costume de tomar chá preto várias vezes ao dia, todos os dias. Não demorou até sentir os efeitos da erva, que possui altos níveis de cafeína. “Passei a ter muita insônia e não sabia qual era o motivo, até que fiz uma pesquisa e descobri que era por causa do chá preto. Hoje em dia, só tomo de manhã para despertar”, afirma a estudante, que ainda toma chá de boldo para problemas no estômago.

A internet pode ser uma fonte de conhecimento sobre os chás. “Ao saber que tem algum problema, é bom pesquisar quais cuidados deve ter. Pode achar que tomar chá é algo bom, mas provocar algo ruim. Não é parar de tomar chá, mas se informar”, explica o coordenador de Ciências Biológicas da Unicap Luiz Oliveira da Costa Filho.

Efeitos sentidos no corpo
"A diferença que eu sinto é que o meu corpo responde bem. Não preciso tomar rivotril para dormir, por exemplo. Tomo um chá morno e isso me acalma", explica Andrea.
"A diferença que eu sinto é que o meu corpo responde bem. Não preciso tomar rivotril para dormir, por exemplo. Tomo um chá morno e isso me acalma", explica Andrea.

Seguindo as ideologias da física quântica, a professora da Unicap, Andrea Trigueiro, percebeu que seu corpo reage ao que ela consome. Por ser diabética, costumava tomar muitos medicamentos. Para ela, a reação do seu corpo era notável. Hoje, tem consciência de que, ao consumir chá, coloca para dentro do corpo algo que faz parte da natureza e é saudável. “A diferença que eu sinto é que o meu corpo responde bem. Não preciso tomar rivotril para dormir, por exemplo. Tomo um chá morno e isso me acalma”, aponta.

Andrea só passou a conhecer melhor o que estava consumindo em 2016, quando ampliou o uso a partir de leituras, experiências que fazia com o próprio corpo e conversas com outras pessoas que têm os mesmos hábitos. “Eu tinha enxaqueca e descobri que a má digestão pode ser uma causa, mas como hoje faz parte da minha rotina tomar chás digestivos, isso favoreceu ao não aparecimento da enxaqueca. Em casos de crises muito grandes, eu junto os dois, chá e remédio, mas em 90% dos casos, eu realmente fiz uma substituição do medicamento pelo chá”, aponta.

Apesar da boa experiência com as ervas, Andrea nunca conversou com nenhum médico ou nutricionista sobre seus hábitos de consumo ou a sua tendência de substituição do remédio. E adverte: nada em grande quantidade faz bem.

Diferentes métodos de cultivo e consumo

INICIATIVA: Jaíse Costa começou uma horta de plantas medicinais  e hortaliças em seu trabalho. Foto: Shilton Araújo/Esp.DP
INICIATIVA: Jaíse Costa começou uma horta de plantas medicinais e hortaliças em seu trabalho. Foto: Shilton Araújo/Esp.DP


Para o consumo do melhor chá, todos os detalhes fazem muita diferença. Na hora de plantar, o adubo deve ser preferencialmente natural. Já a colheita exige mais atenção ainda: o processo de fotossíntese da planta pode diminuir ou aumentar a quantidade de água presente nela, ou seja, é indicado a colheita durante a manhã. “A pessoa também tem que saber por quanto tempo tomar e a quantidade ideal para conseguir o efeito que deseja. Dessa forma, é possível até evitar o consumo de certos comprimidos e dar preferência a alternativa natural”, aponta o mestre em saúde pública e especialista em medicina natural da UFPE Celerino Carriconde. As diferentes formas de fervura também fazem diferença na hora de beber chá.

Jaíse Costa é diretora da biblioteca da Universidade Católica de Pernambuco e recentemente tomou a iniciativa de começar uma horta de plantas medicinais e hortaliças no terreno por trás do prédio onde trabalha. Entre as plantas encontradas na horta estão várias ervas de chá. Com ajuda de outros funcionários, ela consegue manter a horta que já rendeu vários projetos com alunos e já ofereceu degustação de chá para visitantes.

Para ela, dois dos principais objetivos são ensinar aos participantes como fazer e manter uma horta e desestressar, melhorando a qualidade de vida. “Os funcionários já estão com hortas na própria casa, na casa da mãe, pai, tomaram gosto. Nós fizemos um grupo e eles postam fotos sobre o que estão conseguindo fazer. Fizemos oficina de como plantar e eles levaram para casa, isso já é um dos nossos ganhos”, explica.

A demanda, procura e sucesso do projeto de Jaíse já está rendendo frutos - e muitas ervas. No momento, a diretora está organizando um terreno maior para poder plantar mais espécies e também há a expectativa de criar um projeto de extensão dentro da universidade para qualquer pessoa que possa vir a se interessar pela plantação caseira. “É uma atividade excelente, a gente aprende muito. Tem grandes ganhos, a gente aprende a comer de forma saudável e a se livrar dos agrotóxicos. Isso é o principal”, destaca.


Apoio  na física quântica

A física quântica diz que tudo no universo tem energia e frequência. Ao ingerir alimentos com agrotóxicos, portanto, a energia não seria compatível com o corpo humano, pois ele não foi programado para receber uma quantidade tão grande dessas substâncias. Já a ingestão de alimento orgânico é aceita com mais facilidade, e ao atender às carências nutricionais, pode diminuir o risco de doenças e problemas de saúde diminuem, ao ponto de eliminar a necessidade de suporte químico, de acordo com o pesquisador em física quântica e especialista em qualidade de vida e transformação pessoal Wallace Liimaa. “Essas práticas naturais eliminam pelo menos 80% das doenças. Criamos um estilo de vida que vai matando as pessoas aos poucos. Nosso corpo rejeita a química, os conservantes e corantes. Não fomos programados para isso”, afirma.

O hábito de uma alimentação saudável junto ao costume de praticar atividades físicas e banhos de sol regulares podem prevenir até 100 doenças crônicas, de acordo com Wallace. Porém, em seus estudos com foco em saúde, ele percebeu que há preconceito com produtos naturais. “Isso ocorre por causa da indústria farmacêutica que vai sempre contra o natural. Procurei trazer a base da ciência para que as pessoas acreditem na medicina natural e para poder explicar o funcionamento dessa medicina. Tudo tem base científica”, explica Wallace.

A ciência por trás da medicina natural ajudou na mudança do estilo de vida de Andrea Trigueiro. Hoje faz parte da sua rotina, o consumo  de alimentos e chás a partir do que sente que o corpo demanda. “O chá que eu normalmente levo para a sala de aula é de camomila ou capim-santo. Eu sou uma pessoa ansiosa, sou agitada, e a camomila vai me dando um pouco mais de serenidade e tranquilidade”, exemplifica.

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