Diario de Pernambuco
Busca
Crítica Os Dez Mandamentos é mal acabado, mas consegue contar uma história Cenas ficaram curtas demais e mal costuradas. O que parecia cinematográfico na televisão ficou com cara de vídeo no cinema.

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/01/2016 15:50 Atualizado em: 29/01/2016 16:14

Relação entre Ramsés (Sérgio Marone) e Moisés (Guilherme Winter) começa coerente e depois fica caricata (Record/ Divulgação)
Relação entre Ramsés (Sérgio Marone) e Moisés (Guilherme Winter) começa coerente e depois fica caricata
 
Transformar uma novela de 176 capítulos em um filme com menos de duas horas era uma ideia que tinha tudo para dar errado. O resultado, entretanto, até que funciona, apesar das soluções improvisadas. Nos cinemas, Os dez mandamentos realmente consegue contar uma história. Os defeitos são explícitos, mas o conteúdo é transmitido.

Clique aqui para ver os horários dos filmes em cartaz

Qualquer espectador perceberá que as cenas do filme são rápidas demais. Alguns diálogos são cortados abruptamente. Outros continuam em off até a cena seguinte (ou as vozes são ouvidas antes da entrada dos personagens). Os sons são cortados de forma muito direta, o que expõe uma mixagem feita às pressas. Na qualidade da imagem, em comparação com o que foi visto na TV, as cores perdem a força e as sombras não ficam tão escuras como deveriam. Mesmo que não incomodem o grande público, esses detalhes que empobrecem o produto, vendido por ingressos com o mesmo preço de produções com melhor acabamento. O que parecia cinematográfico na televisão ficou com cara de vídeo no cinema.

A adaptação dos testamentos não adota sutilezas. Representado por uma voz e por efeitos especiais, muitos deles bastante artificiais, Deus é impiedoso e até mesmo chantagista com quem não o seguir. A religião dos egípcios é praticamente ridicularizada, como se toda a sua riqueza de símbolos servisse apenas para a vaidade e a ganância dos faraós.

O fenômeno das Sete Pragas do Egito é mostrado como um acontecimento puramente mágico e sobrenatural, sem margem para outras interpretações plausíveis, como fez recente o filme norte-americano Êxodo: Deus e reis, de Ridley Scott, que também dava mais verossimilhança às motivações dos egípcios. Em Os dez mandamentos, tudo é muito direto e didático. O público é levado a aceitar o que vê e não a refletir ou questionar. Qualquer dúvida vira risco de punição.

Em comparação com Êxodo, o personagem de Moisés criado pelo ator Guilherme Winter é mais pacifista e bondoso, enquanto Christian Bale optou por um caminho mais raivoso (para enfatizar o passado militar do personagem). A versão brasileira, portanto, teoricamente é mais cristã. Ramsés, vivido por Sérgio Marone, começa equilibradamente coerente e depois fica mais puramente malvado, concluído como um impiedoso e teimoso vilão.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL