Recife é pouso da cena nacional: a retomada do Festival Palco Giratório

Pedro Rodrigues
Técnico de Artes Cênicas do Sesc Pernambuco., mestre em Artes Cênicas, professor, artista e pesquisador

Publicado em: 07/05/2024 03:00 Atualizado em: 06/05/2024 23:30

As festas possuem dimensões extraordinárias: elas proporcionam encontros, reunião de corpos, normalmente com entusiasmo e êxtase; celebram identidades, criações, vivências; têm um potencial poder transformador, por provocarem efusão, sinestesia e transcendência. Em paralelo a isto, camadas políticas, de resistência, permeiam as festas – elas são revolucionárias. A festa e a luta são irmãs, andam lado a lado, como reflete o historiador brasileiro Luiz Antônio Simas sobre o carnaval.

Similares dimensões estão presentes também nas festas dos artistas da cena, no Brasil e no mundo, os chamados festivais, grandes encontros onde artistas e técnicos intercambiam seus conhecimentos, teóricos e práticos, nas artes cênicas. Amir Haddad, um dos homenageados nesta edição do Palco Giratório 2024, afirma que “o teatro é uma coisa de festival, teatro é festa e nasce de um festival, que eram as festas dionisíacas. Ele tem essa natureza agregadora e é bonito quando se faz isso”, em entrevista para a Revista O Percevejo, anos 9/10, nº 10/11 - 2011/2002. O artista assegura, ainda, que “o teatro não vive sem os festivais”, e que sem estes o teatro já teria morrido há muito tempo.

Os festivais proporcionam que determinados grupos artísticos tenham visibilidade dos seus trabalhos e pesquisas cênicas, e que possam usufruir efetivamente da experiência das artes da cena que, por si só, são itinerantes, exigem movimentos, deslocamentos, encontros com outros públicos, idas a outros espaços. Quaisquer que sejam as linguagens (circo, dança ou teatro), as abordagens (amador, estudantil, profissional etc.) ou as abrangências territoriais (regionais, nacionais, internacionais), os festivais se configuram como objeto fundamental para a cena artística nacional, pois auxilia, entre outras coisas, a colocar o Brasil ao nosso alcance.

Para os artistas da cena, é fundamental o exercício de apreciar e dialogar com artistas de outros territórios (geográficos e subjetivos), uma oportunidade de fruição de diversas estéticas e éticas; um panorama mínimo, mas já relevante, da produção das artes cênicas no Brasil. Os festivais são, ao mesmo tempo, efeito e causa de cenários sociais: são resultados de seleções articuladas, de conceitos curatoriais estratégicos que apresentam possível panorama de uma produção artística que reflete determinados contextos socioculturais; ao mesmo tempo que têm o poder de causar alterações neste panorama previamente traçado, pois inquieta, fricciona e faz mover aquele corpo coletivo – político – de cidadãos envolvidos em suas etapas: artistas, técnicos, públicos e os próprios curadores e programadores.

Os festivais, ao mesmo tempo que nos conectam a uma tradição do passado (sabe-se que o movimento de criação de festivais no Brasil foi iniciado pelo produtor, crítico, autor e diretor, Paschoal Carlos Magno), nos auxiliam a compreender e discutir o presente, e, mais ainda, nos prospectam para um futuro no qual os agentes do teatro continuem a encarar o Brasil e o mundo com luta e com festa.

O Festival Nacional Palco Giratório em Pernambuco terá sua 26º edição realizada no período de 16 de maio a 01 de junho de 2024. O Palco Giratório em Pernambuco fortalece o empenho do Sesc que, há anos, assume relevante responsabilidade frente às artes cênicas no estado. Este ano, nos empenhamos em enriquecer a programação do festival com uma curadoria que contemplou 17 espetáculos de diversos estados do país, de todas as regiões, tendo um 1 espetáculo de Pernambuco selecionado para a circulação nacional (“Quatro Luas”, do Bando Coletivo de Teatro). Além disto, receberemos outros 29 espetáculos locais, de grupos do interior do estado até a Região Metropolitana do Recife. Outras atividades também estão previstas para como nossa programação, como o Pensamento Giratório, intercâmbios, oficinas e, estreando em 2024, o Seminário Nacional Sesc de Teatro para as Infâncias, onde homenagearemos o ator, diretor, escritor, poeta e músico André Filho, falecido em setembro de 2023.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL