Ensinando na era da IA: estimulando o cérebro e preparando as novas gerações para o futuro

Christiana Cruz
Educadora, diretora do Colégio Madre de Deus

Publicado em: 02/05/2024 03:00 Atualizado em: 02/05/2024 01:21

Não há mais como voltar atrás. A onipresença da inteligência artificial (IA) marca a nova era, uma realidade que permeia a vida cotidiana, especialmente para as gerações emergentes. No entanto, é crucial ponderar sobre o impacto desse avanço tecnológico no desenvolvimento cerebral das crianças e adolescentes, cujas mentes estão em constante formação.

Informação ao alcance das mãos em celulares que parecem fazer parte do corpo. A crescente presença da IA levanta questionamentos pertinentes sobre até que ponto a praticidade de ter respostas instantâneas pode influenciar negativamente a plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de se adaptar e aprender ao longo do tempo. Afinal, a conveniência de ter acesso imediato a informações pode, inadvertidamente, desencorajar a busca ativa pelo conhecimento e comprometer a capacidade de raciocínio crítico.

Um exemplo claro desse dilema reside no aprendizado de línguas estrangeiras, como o inglês. Apesar de avanços significativos na tradução automática fornecida pela IA, é imperativo que as escolas continuem investindo no ensino de idiomas. Por quê? Porque a simples capacidade de tradução não substitui a riqueza cultural e cognitiva que o aprendizado de uma nova língua proporciona. Além disso, estimular o cérebro com desafios linguísticos não só fortalece as habilidades cognitivas, mas também promove a plasticidade cerebral, garantindo uma mente ágil e adaptável.

Mas como identificar se o cérebro está se acomodando diante da comodidade oferecida pela IA? Os sinais podem variar, mas geralmente incluem uma redução na curiosidade intelectual, uma dependência excessiva de respostas prontas e uma relutância em enfrentar desafios intelectuais que exigem esforço cognitivo.

Diante desse cenário, é fundamental encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da IA como ferramenta educacional e a promoção de atividades que estimulem o desenvolvimento cognitivo e a plasticidade cerebral. A IA pode ser uma aliada valiosa para estudantes, fornecendo recursos educacionais personalizados, feedback imediato e acesso a vastos bancos de conhecimento. No entanto, é essencial que seu uso seja complementado por estratégias pedagógicas que promovam o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas.

Portanto, diante dos desafios impostos pela proliferação da inteligência artificial, cabe às instituições educacionais e aos pais incentivarem uma abordagem equilibrada que valorize tanto os benefícios da tecnologia quanto a importância de cultivar uma mente flexível e adaptável.

A chave para transcender os desafios deste mundo está na prática da leitura. É através dela que nossas crianças e adolescentes serão capacitados a decifrar e interpretar com perspicácia a linguagem da inteligência artificial, que, afinal, é apenas um intricado algoritmo matemático acessível através da linguagem. Nesse diálogo entre mente humana e IA, é a inteligência das perguntas que moldará a profundidade e a sagacidade das respostas obtidas.

Somente assim poderemos garantir que as futuras gerações estejam preparadas para enfrentar os desafios de um mundo em constante evolução. Há coisas que o robô fará cada vez melhor do que nós, mas amplitude como enxergaremos o mundo, isso ele não nos ensinará.

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