"Tudo bem ser diferente": uma crítica ao capacitismo da busca inumana pela normalidade

Carolina Ferraz
Mãe e aluna de Vinícius Ferraz, professora universitária, advogada especialista em direito antidiscriminatório; co-coordenadora e co-autora do Manual dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Publicado em: 30/04/2024 03:00 Atualizado em: 30/04/2024 05:27

A igualdade pela igualdade sem respeito às subjetividades da diferença é a antítese do respeito e da equidade, afirmo e reafirmo essa questão, e convido que façam comigo essa divagação. Na busca pela inclusão erroneamente aceitamos como marco evolutivo o direito a ser igual ou a “perigosa” afirmação de que ser diferente é normal! Mas o que é a normalidade?!

Normalidade é em essência a negação das subjetividades, necessidades e diferenças, “ser normal” é condição capacitista de entender a deficiência como algo a ser consertado ou como meta para ser transformado em uma nova pessoa e, dessa forma negando-se ao diferente o direito de existir dentro de suas capacidades, habilidades e para além da tão decantada “normalidade”.

Gosto de entender as pessoas como únicas e, compreendo acima de tudo com o avanço da longevidade por fatores como a ampliação da qualidade de vida, acompanhamento médico e condição nutricional adequada que dividiremos os seres humanos em laudados e ainda não laudados, porque de “perto ninguém é normal” já dizia a canção e, porque temos direitos a ser quem somos ou num jargão mais jurídico existe um patrimônio passível de ser protegido que é a integridade mental e psíquica das pessoas, o que em outras palavras faz surgir a “nova” alcunha de neurodireitos.

Contudo os neurodireitos existem em face do reconhecimento de que existem pessoas neurodiversas, sabe o início do texto onde demonstrávamos a nossa contrariedade com a assepsia da diferença?! Pois bem estamos fundamentados nessa nova modalidade de percepção doutrinária e legal de respeito à diferença não como um caminho a ser “normalizado”, mas como o reconhecimento que ser diferente é antes de tudo um direito, de quem é diferente, assim como de quem não é tão diferente assim aprender com a diferença do outro.

E para onde vai a questão da igualdade? Igualdade que massifica e nega o outro não deve ir para lugar algum! A igualdade que desejamos, precisamos, defendemos e queremos é a que reconhece que temos a liberdade de sermos quem somos sem nenhuma necessidade de enquadramento em moldes, rótulos ou prateleiras porque a grande mágica da cidadania plural é que todos somos imprescindíveis para a construção de uma sociedade livre de amarras capacitistas, aviltantes e desumanas.

Tudo bem ser diferente, nos ensina Todd Parr num livro para crianças, sejamos coloridos, neurodiversos, laudados ou não laudados, mas que jamais haja a negação dos direitos humanos da diferença e principalmente da dignidade da existência do outro que tem na sua expressão existencial a diferença como principal característica! A vida numa igualdade sem subjetividades seria meramente algo mecânico, artificial e despido de qualquer natureza humana.

Viva à diferença; viva aos neurodiversos e principalmente viva as pessoas que lutam para seguirem diferentes e felizes!

Para Vinícius Ferraz, minha pessoa favorita no universo, cidadão autista suporte 3, pessoa mais feliz no mundo e o maior professor que eu tenho na vida! Mamãe ama você demais, meu filho incrível!

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