O nazismo e o fascismo foram (e seguem sendo) parte do movimento para atender os interesses da burguesia

Thiago Modenesi
Professor na UFPE, Doutor em Educação, Especialista em Ciência Política, membro do INCT iCeis

Publicado em: 20/05/2024 03:00 Atualizado em: 20/05/2024 05:53

O nazismo e o fascismo marcaram de maneira terrível o século XX no mundo, não são um ponto fora da curva e nem tão pouco parte apenas de uma pauta antissemita ou contra uma ideologia específica, ou mesmo a simples materialização do ideário de seus líderes, Adolf Hitler e Benito Mussolini. São parte de um movimento que, toda vez que seja necessário, surge para atender as demandas da grande burguesia, e não algo extraordinário.

Tais movimentos ganham força e se inserem na crise do capital nos anos 20 e 30 do século XX, servindo também para defender interesses dos capitalistas, em particular a burguesia do ocidente. Sempre é bom lembrar que Hitler contou com apoio de expressivos setores da burguesia alemã para interromper o crescimento do Partido Comunista daquele país e impedir o que tais setores acreditavam ser uma possível transição ao socialismo.

Aqui é onda mora o perigo: a máquina de propaganda potencializada em particular em tempos de redes sociais e internet, transforma fenômenos como esse em exceção. O século XXI e a nova crise do capitalismo, a terceira grande crise, segundo Karl Marx, nos trazem o retorno com força desse fenômeno como parte da engrenagem de sobrevida do regime, isso vai ocorrendo por dentro do sistema eleitoral tradicional mesmo, na Alemanha também foi assim, com o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (o Partido Nazista) atingindo maioria no parlamento e conseguindo articular alianças que viabilizaram a indicação de Hitler como chanceler, que logo depois dissolve o gabinete ministerial e começa uma escalada autoritária de concentração de poder.

Tal semelhança com as atitudes dos fascistas do século XXI alçados aos governos pelo voto não é aleatória, adotam agendas de cunho autoritário, via de regra ameaçando os demais poderes da República, e tentando triturar interesses da classe média e dos trabalhadores para dar sobrevida aos do grande capital. Se apresentam como algo “novo”, diferente, mas na verdade são uma versão agudizada dos interesses que movem o sistema e o status quo.

Com a crise cíclica do capitalismo tendo traços nunca antes vistos, acabam por ganhar setores da grande população que dão um tiro no próprio pé, elegendo seus algozes para retirarem seus direitos e desmontarem os serviços sociais dos Estados nacionais mundo afora. Tal agenda para ser executada não sobrevive na democracia plena, daí os movimentos para reforças os poderes dos fascistas do momento e diminuir os dos parlamentos, da sociedade e da justiça, basta olharmos para a Argentina, para Hungria e para o que foi o Brasil sob a batuta de Bolsonaro, que ainda deixou sequelas que aos poucos vão sendo desmontadas.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL