A alegria do riso é um bálsamo

Raul Manhães de Castro
Médico, professor emérito da UFPE e membro da Academia Pernambucana de Ciências

Publicado em: 30/01/2024 03:00 Atualizado em:

Charles Darwin já no século XIX, estudando as espécies, inclusive o homem, constatou princípios gerais da expressão corporal, sobretudo as faciais, os meios de expressão nos seres, as expressões características de animais, as expressões peculiares do homem. Expressões essas associadas em especial aquilo que denominamos emoções. Ele descreveu detalhadamente tais características físicas aparentes para todos os observadores, provenientes das mais distintas espécies, as expressões por essas externadas diante de situações comportamentais bem caracterizadas.

Depois de tantos anos, hoje nós cientistas sabemos que não há nada mais humano, mais emocional do que rir, mais terno que sorrir, e rir parece ter uma função social importante na preservação humana. Será que hoje rimos e sorrimos menos? O homem é um espécime eminentemente social. É verdade que rir mitiga as dores da alma, e semelhante a qualquer emoção se reflete no corpo individual. Entretanto, o mais surpreendente, o riso e o sorriso também contagiam as pessoas, o próximo torna-se mais próximo, e neles causam metamorfoses psicológicas e físicas fantásticas, agregando o corpo social. E pode-se afirmar que em geral essas mudanças provocadas pelo sorriso ou riso são extremamente benéficas.

Há assim evidências científicas de que o ato de rir revigora a imunidade, induz o bom humor, podendo inclusive diminuir a dor. Não parece haver nada melhor que uma boa risada ou um simples sorriso, ambos terapêuticos, para auxiliar qualquer tratamento, sobretudo junto aos pacientes, desde crianças aos idosos, especialmente em recuperação. Mente e corpo parecem entrar, pelo menos em um lapso de tempo infinitamente afetivo e deveras prazeroso, em equilíbrio e sintonia com o cosmo. Todos nós podemos constatar esse alívio gratuito da alma, contudo ele é poderoso nos pacientes; sobretudo, naqueles acometidos de doenças graves. Ressalto aqui os risos das criancinhas enfermas, durante a passagem por exemplo dos Doutores da Alegria, ou do nosso querido Dr. Bruno Severo Gomes da UFPE, conhecedor profundo e feliz da terapia do riso. Sorrir ou rir libera neurotransmissores endógenos associados ao bem-estar, serotonina, dopamina etc.

Pasmem! Até o riso de forma forçada tem efeito positivo no humor. Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, analisaram dados de 3.878 participantes de 19 países. Os autores do estudo, liderado por Nicholas Coles, apontaram que tantos os que forçavam o sorriso quanto os que imitavam essa expressão a partir de fotos que eram colocadas diante deles apresentavam alterações positivas em seus níveis de felicidade. Rir alivia a tensão física e o estresse dos dias difíceis. Rir certamente diminui a ansiedade e a tensão. O riso e o sorriso unem os seres humanos. Ele é muito mais do que um simples e comum gesto. É uma ferramenta poderosa e que une emoções, revela segredos e liga culturas. É algo que não se aprende, é inato. Aparece na face como um reflexo. Um susurro da alma que procura comunicar alegria, conforto e cumplicidade. Portanto, acredite no dito por Charles Chaplin em “Smile” (Canção criada para o filme Tempos Modernos, de 1936) “Sorria, embora seu coração esteja doendo, sorria, mesmo que ele esteja se partindo, sorria, mesmo quando houver nuvens no céu, você vai sobreviver. Se você sorrir durante a dor e a tristeza.. você verá o sol brilhar”. Chaplin sabia que a alegria do riso é um bálsamo para a vida.

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