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A saúde no Brasil está doente! (1)

Marcos Miranda Filho
Presidente do Lide Saúde (com colaboração do comitê de trabalho do Lide Saúde)

Publicado em: 17/08/2022 03:00 Atualizado em: 17/08/2022 00:38

Após escutarmos o descontentamento generalizado do setor, nós, que compomos o comitê de trabalho do Lide Saúde, decidimos aprofundar o debate sobre a situação atual no país e realizar escutas qualificadas de diversos tomadores de decisão do segmento, como presidentes de planos de saúde, juízes de Direito e secretários de Saúde. Adicionalmente, compartilhamos a rica experiência adquirida por nossos integrantes na vivência da prestação de serviços, da gestão e também como clientes que somos desse ecossistema. O método consistiu em perguntas pré-elaboradas para nortear as conversas, na tentativa de fluir de uma forma mais lógica, escutando as “dores” e anseios dos convidados.

Constatamos, entre outras, a dor de conseguir gerir um orçamento público que, apesar de gigantesco, é insuficiente para o volume da demanda daqueles que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde. Algumas razões aqui foram identificadas, tais como: gestões precárias; sistemas mal ou pouco informatizados e com escassa competência de acompanhamento real time; fragmentação excessiva dos dados e análises incipientes da informação disponível; falta de uma política pública clara sobre quais são os deveres do Estado; falta de um plano estratégico para o emprego de recursos e predominância da liberação de recursos de forma espástica para atender a demandas pontuais.

Por outro lado, observamos também pontos positivos, como a percepção de que os sistemas público e privado se complementam – fato bastante evidenciado durante as fases mais críticas da pandemia da Covid-19 –, com destaque para o eficiente papel da vigilância epidemiológica, dos programas públicos de imunizações e transplantes, entre outros.

Em relação aos planos de saúde, escutamos a preocupação com o crescimento galopante dos custos sem a contrapartida igualitária da receita, e a preocupação de um colapso nos próximos anos, uma vez que não existe economia no mundo que suporte esses gastos. E as razões para isso são muitas: passam pelo tão falado desperdício – seja por exames ou procedimentos mal indicados, sistemas operacionais que não conversam, novas tecnologias que não entregam valor ou pela falta de atendimento aos fluxogramas pré-estabelecidos por parte de quem solicita os exames – até a inadimplência e perda de clientes com as crises que se arrastam no país desde 2014, além de importantes mudanças de regras da Agência Nacional de Saúde durante o jogo.

Quanto a essas mudanças de regras da ANS, propomos algumas reflexões: o rol da ANS deve ser taxativo ou apenas uma referência? E o papel de uma agência reguladora para a saúde suplementar – em um país de dimensões continentais, com diferentes comportamentos culturais e desigualdades sociais – e após todos estes anos de funcionamento e experiência, não teria que se ajustar para atuar muito mais de forma educativa e preventiva do que simplesmente reguladora?

Nas escutas do comitê no Lide Saúde ficou claro que os principais pontos positivos das fontes pagadoras são que cada vez mais elas estão atentas ao imperativo de uma gestão eficiente de recursos, redução de desperdício e entrega de valor ao cliente final – tanto na avaliação de pertinência do tratamento empregado como na definição de indicadores de desfecho mensuráveis e de uma experiência positiva.

Já os prestadores de serviço (aqui incluímos empresas e profissionais pessoas físicas) que atuam na ponta do atendimento direto ao cliente, vêm experimentando uma forte percepção de perda de valor do seu produto ao longo dos últimos anos por conta do aumento de custos (boa parte deles atrelados ao dólar) desproporcional à correção das tabelas de remuneração, o que os faz pensar se realmente devem seguir adiante.

Somados a um mercado de prestadores fragmentado e, na maioria das vezes, assimétrico em tamanho quando comparado aos tomadores de serviço, esses desafios têm catalisado os movimentos de fusões e aquisições no mercado. Aqui deixamos uma excelente dica de filme: Queda livre: a tragédia do caso Boeing. É quase uma aula de MBA sobre os riscos e ganhos envolvidos no processo de fusões, que de toda forma estarão sob a ótica do mercado de ações.

De pontos positivos constatados na escuta realizada pelo comitê do Lide Saúde que iniciamos a detalhar ontem, verificamos o grande avanço na qualidade e segurança do atendimento ao paciente através da evolução e disseminação de conhecimentos técnicos e dos movimentos de acreditação e certificação.

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