Uma semana difícil

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 20/04/2024 03:00 Atualizado em: 20/04/2024 06:06

Essa foi uma semana difícil para o Brasil. O governo federal baixou as metas de superávit primário para 2025 (de 0,5% do PIB para zero), o FMI também reduziu as expectativas de superávit fiscal e as expectativas de reduções nos ritmos atuais da taxa de juros enfraqueceram. Além disso, o presidente da Câmara Arthur Lira, sempre preocupado apenas com seus interesses pessoais, ainda ficou fazendo chantagem, dando chilique e ameaçando o governo federal de pôr em votação alguma pauta bomba que leve a elevados comprometimentos de recursos fiscais. Fatores externos, como a redução da expectativa de queda, em breve, da taxa de juros americana também contribuíram para os problemas. Como consequência de tudo isso, o dólar subiu e o Ibovespa caiu. Apesar de abstratos, esses fenômenos afetam a vida de todos nós. Aqueles que estão trabalhando reduzem as perspectivas de promoções e aumentos salariais. Quem se organiza para comprar bens com pagamentos parcelados deverá pagar mais por eles. Os desempregados veem cair sua probabilidade de encontrar emprego. Por isso, dizemos que foi uma semana difícil.

Muitos economistas logo se precipitaram ao criticar o reconhecimento do governo federal de que não será capaz de eliminar o déficit público no próximo ano, adiando-o para o ano seguinte. O endividamento brasileiro atual é elevado e isso justificaria o impacto importante do déficit público na inflação. Esse impacto ocorre por dois motivos. O primeiro deles é que faz com que haja na economia mais demanda do que oferta no momento em que ele ocorre. Isso torna mais fácil a elevação dos preços por aqueles que topam arriscar essa elevação para ganhar mais, sem perder fregueses. O segundo é que todos os vendedores que se defrontarem com elevação da demanda mais facilmente entenderão que ela se deve à defasagem de seus preços e por isso os elevarão. Em ambos os casos a elevação da inflação passa por um processo de expectativa. E essa é muito formada a partir das experiências passadas. Por isso, quando a inflação está caindo, esse impacto do déficit público nela é menor. Por isso, qualquer análise de dados dos últimos
25 anos mostra que a relação entre déficit público e inflação é tênue e não é muito automática.

A inflação no Brasil está caindo já há alguns meses, apesar da elevação do índice em fevereiro. Esse impacto do arrefecimento dela deve reduzir o efeito de uma perda de credibilidade do controle do déficit público. A ênfase exagerada dos economistas, contudo, alerta os agentes econômicos e aumenta esse impacto. Então, é importante que eles tenham essa consciência de que o adiamento do maior controle fiscal não é nenhuma catástrofe. Apesar disso, o papel do alerta deles é fundamental para pressionar autoridades, principalmente do Legislativo, a não excederem em gastos públicos.

O momento talvez seja de oportunidade para vender parte das reservas internacionais do país com vistas a reduzir a dívida interna e com isso diminuir o pagamento de juros nessa dívida. Esse processo reduziria o impacto do excesso de demanda na inflação e poderia ter bom retorno para o governo já que o dólar está alto. Isso reduziria o impacto do déficit na inflação e atenuaria o efeito da elevação do dólar, já que sua valorização seria reduzida.

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