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O acaso e o caso de M. - 1ª parte

Og Marques Fernandes
Ex-repórter do Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/09/2021 03:00 Atualizado em: 14/09/2021 06:10

A vida de uma mulher traficante de drogas com mais de 20 anos de reclusão a cumprir pode ser uma história de pecado e redenção. Aqui, o acaso, esse construtor de destinos, tratou de converter culpa em acolhimento.  Conto o que se passou com M., cuja vida bandida recebeu ares de esperança a partir de incríveis coincidências.

Os personagens poderiam ser extraídos de algum livro de ficção policial ou num episódio de A vida como ela é, do dramaturgo Nélson Rodrigues. No entanto, precioso leitor, conferi os fatos em conversas com as principais fontes e verifiquei documentos.

Comum na maioria dos casos da criminalidade feminina, M. foi arrastada para o submundo pelo bicho homem. Era casada com um ex-policial traficante de drogas, assassinado numa dessas esquinas do mundo.

Viúva, seguiu o caminho que lhe parecia mais fácil. Assumiu a chefia do tráfico numa grande cidade do país, próxima dos centros de distribuição de cocaína. Além de inteligente, era articulada e, digamos, operosa.

Em pouco tempo conquistou a confiança de uma rede criminosa da região Sul da qual recebia e repassava o entorpecente no varejo. Tornou-se a maior fornecedora de cocaína e derivados do lugar, envolvendo filhas e genro no comércio ilícito.

Logo notória pela atividade, M. passou a ser observada pelo setor de combate ao narcotráfico da Polícia Federal, disparando os radares de Marcelo, agente que chefiava a unidade. De olho nas ações daquela mulher, os dois iriam se encontrar como num duelo, tantas foram as investigações e coleta de provas comandadas pelo policial.

Surgiram as primeiras prisões. O genro foi condenado. Nesse meio, estipula-se a culpa pelos insucessos a quem está do outro lado da corda. Com a lógica e o inconformismo próprios, a líder do grupo compreendeu a sentença condenatória do parente e as investidas policiais como resultado da perseguição do homem da lei:

- Tantos outros vendem droga na área e Marcelo só enxerga a mim e aos meus!, berrava para a filha.  

M. passou a detestar Marcelo, que não detestava ninguém. Fazia as coisas do ofício, difíceis de aceitar quando se é caça diante do caçador. Pelo sim, pelo não, a mulher sentia-se perigosamente próxima de um inferno chamado cadeia. Marcelo era o inimigo íntimo a ser vencido.

Pouco a pouco, o negócio ia se esgarçando pelas ações repressivas da Polícia Federal. A raiva contra o agente aumentava. O que fazer? O pior estaria por vir. Mas isso fica para o nosso próximo encontro.%u202F

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