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E o Oscar não vai para?

Paulino Fernandes de Lima
Defensor Público e Professor, com curso de Crítica de Cinema

Publicado em: 27/04/2021 03:00 Atualizado em: 27/04/2021 05:43

Toda vez, a história se repete. A academia escolhe os indicados para a entrega da mais cobiçada premiação do cinema e, a partir dali, todos nós viramos jurados e críticos por antecipação. Depois da entrega das estatuetas, estouram as manifestações de descontentamento, sob a alegação de que houve injustiça, por não se ter premiado um filme, ator ou atriz; ou por isso, aquilo, outro.

O que todo mundo acaba esquecendo é que apesar de o Oscar ainda ser o prêmio de cinema mais cobiçado, não é o único deste planeta, tampouco a escolha fica acima de qualquer suspeita, em termos de mérito. E não adianta culpar os novos tempos pela quebra de expectativas, em não terem escolhido o seu filme ou artista favorito, pois esse histórico de injustiças já remonta há décadas (de ouro ou não) no cinema. Frases que dizem que determinado filme merecia um Oscar, em tal categoria; ou que houve uma injustiça, não são lançamentos em matéria de cinema.

Entretanto, penso que seja possível deixarmos o subjetivismo de lado e encararmos as indicações e premiações da noite de gala do cinema, com mais leveza e desprendimento. Talvez até, movidos por certo sentimento de protesto, é que teriam inventado o Framboesa de ouro, que é aquela premiação dada ao “pior do ano”.  E quem é “bom mesmo”, ou “o melhor”, nunca se incomodou com isso. Como fez o velho Marlon Brando, com a irônica premiação como Framboesa de ouro de pior ator coadjuvante no ano de 1996, em  A ilha do Dr. Moreau. Ele nem deu bola para isso! Logo ele, que já venceu duas vezes (O poderoso chefão, de 1972 e Sindicato de ladrões, de 1954), conhecido por sua genialidade e temperamento forte e nada brando, poderia ter explodido, não é mesmo? Só que não! Mais tarde, como contou ao jornalista Robert Lindsey, em Canções que minha mãe ensinou (SP, Siciliano, 1994), ele teria pedido a uma amiga índia, que o representasse na entrega do Oscar, pois achava ridículo prestigiar uma cerimônia, de uma mesma Hollywood que, segundo ele, há anos, difamava e caluniava os povos indígenas e negros. Para os que já o admiravam como ator, essas e outras atitudes de ativismo social só fizeram aumentar seu know-how. Falando em ativismo, entre os temas mais destacados neste ano, “bombou”, seguramente, a abordagens cujo “pano de fundo” foi a diversidade ou o ativismo. Isso até foi critério de exigência definido, desde o ano passado, para as premiações futuras. E alguns filmes já implantaram a recomendação, através das produções indicadas neste ano, cuja grande maioria, vieram das plataformas de streamings.

Claro que, logo depois da premiação, começaram as queixas, como por exemplo, o fato de Anthony Hopkins ter sido o favorito, enquanto Chadwick Boseman, (falecido ano passado), ficou de fora de um Oscar (póstumo). Só que, na certa, se tivessem preferido Boseman a Hopkins, alguém iria gritar que não entende como o extraordinário veterano, aos 83 anos, só tenha recebido um Oscar, entende? Houve até os que listaram um quantitativo mínimo de estatuetas, para cada um de seus filmes favoritos. Só que ao se fazerem as contas, percebeu-se que não haveria Oscar suficiente para todo mundo.

O certo mesmo é que “o/a melhor” está no modo de ver ou nas preferências de cada espectador ou de uma “autoridade no assunto”. Aí, fica difícil não concordar, porque a visão é genuína e atemporal, como a de um nome como o do diretor John Houston, quando certa vez perguntaram quem seria o melhor ator para ele. Sem hesitar, o diretor de O tesouro de Sierra Madre, que já recebeu quinze indicações ao Oscar, respondeu: “MARLON BRANDO. E justificou, magistral e cinematograficamente: porque se se pedisse para ele repetir várias vezes uma cena, cada uma seguinte sairia mais perfeita do que a anterior.”

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