Diario de Pernambuco
Busca
Esquerda e pseudo liberalismo do governo

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 27/02/2021 03:00 Atualizado em: 27/02/2021 07:48

Esta semana, após intervenção desastrada na Petrobras, o presidente tentou, a todo custo, afirmar seu compromisso com uma visão liberal de governo. Após 28 anos no Congresso Nacional defendendo pautas puramente corporativas e contrárias à visão liberal, ele já parte de uma situação de pouca credibilidade. A intervenção de rompante, motivada pela incapacidade de baixar os preços dos combustíveis, levou à tal atitude impensada e que custou tão caro ao país. Além de acentuar a falta de credibilidade na pauta liberal, ainda houve uma desmoralização do ministro da Economia, que tem sido seu fiador em tal concepção junto aos agentes do mercado financeiro e do meio empresarial. Para tentar recompor a imagem, o presidente anunciou as privatizações dos Correios e da Eletrobrás, além de tentar convencer que não irá interferir nos preços dos combustíveis. Na realidade paralela dos Bolsonaristas, sempre embriagados por fake news, surgiram as notícias de corrupções na Petrobras ligadas a sindicalistas, ainda sob a influência do PT. Essa manobra de fake news tentou afastar, dos seguidores fanáticos, a ideia de que ali não teria havido a revelação de um presidente como ele é de verdade, mas sim um ato heroico contra os interesses dos brasileiros. É incrível, mas existem pessoas que acreditam nessa versão.

Em livro publicado pela Alta Books na semana passada (A Esquerda Hoje), argumento que para a verdadeira esquerda, com pilares alicerçados na sua essência, desde sua origem, um Estado enxuto faz parte de suas prioridades, principalmente no que diz respeito ao seu engajamento em atividades econômicas. Justiça, educação, saúde, segurança, pesquisa e inovação tecnológica e proteção social seriam as prioridades do Estado. Além dessas atividades, seu envolvimento reflete apenas interesses corporativos e por tal deve ser evitado. Infelizmente, os movimentos de esquerda foram capturados por tais interesses de grupos específicos, que tanto atrapalham o desenvolvimento econômico, no Brasil e na maioria dos países do mundo.

Essa visão deveria criar um dilema para os verdadeiros esquerdistas. O atual presidente representa um atrapalho para o desenvolvimento das forças produtivas, igualdade social e democracia, que são as verdadeiras prioridades da esquerda. A privatização de empresas públicas e estatais e a não intervenção política na Petrobras representam contribuições efetivas para essas três prioridades. Aparecendo como proposta do presidente, a verdadeira esquerda pode duvidar da ideia de apoiar essas propostas. No entanto, temos que entender que o presidente e seus seguidores não compreendem muito bem os nexos de causalidade envolvendo as ideias que defendem. Na verdade, eles nem defendem privatização. Apenas acham que a articulação com liberais é importante para seu governo. Então cabe à verdadeira esquerda dar apoio a tais propostas que convergem para o seu ideário. O foco deve ser derrotar politicamente a direita que apoia o presidente naquelas ideias que são contrárias aos ideais de esquerda, como intervenções em estatais, destruição do meio ambiente e armamento da população.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL