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Agora a ressurreição

Raimundo Carrero
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 05/10/2020 03:00 Atualizado em: 05/10/2020 06:33

Escrevo sobre a ressurreição, não a sagrada ressurreição de Jesus Cristo que nós amamos tanto, mas a ressureição da matéria aqui por perto mesmo. A nossa ressurreição, minha e deste DP que, afinal, surgimos das cinzas. Espero contar a história com clareza, que é o meu ofício. Por força das circunstâncias passei um período sem escrever aqui. Sem ocupar este espaço, que é tão caro para mim. Por tudo que isso pode significar. O Diario é mais do que minha história. É a minha própria vida. Ocupei uma vaga na redação desde que cheguei de Salgueiro, definitivamente, em 1965 e de experimentar um período significativo tocando saxofone no conjunto o Tártaros, na companhia de amigos inesquecíveis Zé Araújo, Walter, Djilson e outro que desistiu de ser meu amigo.

Comecei aqui apenas como um foca no setor Aeroporto, onde devia acompanhar saída e entrada de autoridades, artistas, celebridades. Naquele tempo o Aeroporto do Recife credenciava-se como único em todo o país para movimentação externa para quem tinha compromissos fora. Fiquei ali porque nenhum jornalista da casa queria viver exilado do Centro da cidade. E era um esforço muito grande mesmo. Chegava às 8 horas da manhã e só voltava para casa depois das 20 horas. Se tinha alguma matéria passava pelo telefone – se conseguia alguma linha, que era uma trabalheira incrível.

No final de 1969, uma menina de Alagoa Nova, cidade pequeníssima perto de Campina Grande, anunciou que via Nossa Senhora. Os fanáticos invadiram o local. O Diario resolveu mandar um repórter fixo para a cidade, só voltando depois que a missão religiosa fosse encerrada. Outra vez, o pessoal da casa se recusou a viajar. Na qualidade de foca recém-contratado fui convocado e viajei feliz porque era minha grande oportunidade. E foi. Em Alagoa comprei uma boneca para a menina, de cujo nome não me lembro, o que facilitou meu trabalho.

Foram mais de vinte dias no mato. Voltei consagrado. Passei para a Secretaria de Redação. Ocupei, então, o setor de Trânsito e Comunicações, onde passei dois anos. Em seguida, fui para a editoria de Polícia e fiz ainda uma editoria de Classificados. Depois, passei para  a Chefia da Redação. Uma luta. Casei, meus filhos nasceram, publiquei meus primeiros livros. Em 1991, aceitei uma bolsa no International Writting Program nos Estados Unidos. Na volta, fui demitido.

Voltei ao Diario várias vezes na qualidade de colaborador. Até assinei uma coluna de futebol. Esta semana foram muitos os comentários de que o DP morria. Escrevi um artigo de despedida. Logo depois, recebi uma ligação em que a editora anunciava que eu passaria a assinar um artigo na primeira segunda-feira de cada mês. Ressuscitei. E o Diario comigo.

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