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Covid-19: Outro legado será a forma do brasileiro se planejar

Nuno Pedro David
Chief Marketing Officer da MAG Seguros
opiniao.pe@diariodepernambuco.com.br

Publicado em: 13/07/2020 03:00 Atualizado em: 13/07/2020 05:46

Estudo realizado pela consultoria norte-americana Bain & Company revela que o setor de seguros é um dos que deve ter alta demanda na crise e a longo prazo. Para se ter uma ideia, segundo a Swiss Re Sigma e o Banco Mundial, a penetração per capita de seguros de vida sobre o PIB brasileiro foi de 0,2% em 2019. Na União Europeia este indicador foi de 1,7%, nos Estados Unidos de 1,8%, no Reino Unido de 3,5%. E mesmo aqui, na América do Sul, foi de 0,5% no Chile, o que representa 250% a mais do que no Brasil.

O diagnóstico é simples e cruel: os brasileiros não investem em proteção à vida e às suas famílias. Se compararmos com os norte-americanos, nossa preocupação em torno disso representa menos de 10% do que é investido por pessoa nos Estados Unidos. Isso, no entanto, não se explica apenas pela diferença da riqueza entre os dois países. Existem dois fortes aspectos culturais para isso.

O primeiro deles é a cultura do imediatismo. O brasileiro não renuncia ao gasto no presente para contar com um planejamento de médio e longo prazo. Há razões econômicas do passado, sim, para esta “herança”. No entanto, desde a criação do plano Real, em meados da década de 1990, não sofremos tantos soluços inesperados em relação à inflação, como os que vimos na década de 1980.

Tenho visto que a consciência em torno do planejamento financeiro tem crescido nos últimos anos no país. No entanto, entendo que caminhamos a passos muito lentos. O Instituto Datafolha fez uma pesquisa em abril que corrobora com isto.

Segundo o estudo, 40% dos entrevistados afirmaram que teriam dinheiro para se sustentar por, no máximo, um mês se perdessem os seus rendimentos. Ainda de acordo com a pesquisa, 6% disseram que já não estão conseguindo se sustentar e outros 11% afirmaram que teriam dinheiro suficiente para menos de 15 dias. Desta forma, torna-se difícil o desenvolvimento de uma cultura previdente.

O segundo aspecto cultural da minha análise é sobre abordar o assunto de morte. Os latinos de uma forma geral – e os brasileiros em especial – têm uma enorme dificuldade de discutir sobre esta temática. Há razões fortes para isso, principalmente relacionadas com a matriz religiosa predominante nestes países e com tradições seculares que nos são dadas como exemplo durante a nossa criação.

Uma crise como a que estamos vivendo nos dias de hoje, no entanto, não nos traz apenas coisas ruins. Ela também nos apresenta um horizonte de muitos aprendizados e diversas questões importantes. Em seguida, destaco alguns aspectos relacionados com este assunto.

Há no Brasil um ditado popular que diz que a morte é a única certeza que temos. Por quê, então, seguimos não querendo falar sobre isto quando ela é a parte mais natural da vida? Ou, até, mesmo, se planejar financeiramente para o impacto que a nossa falta fará a nossa família?

Quando olhamos para a importância do seguro de vida, ele passa a ser muito mais do que uma apólice. Ele se concretiza como o último ato de amor do ente querido no caso de morte inesperada. É através deste tipo de solução que a família pode tangibilizar o legado deixado, seja em forma de educação, realização de sonhos ou da própria subsistência.

Eu me lembro até hoje do dia em que fiz o meu primeiro seguro de vida, de ter dado boa noite aos meus filhos naquele momento e de ter deitado com uma enorme sensação de tranquilidade. Infelizmente, isso não será possível para muitas famílias brasileiras que perderão seus parentes durante esta pandemia.

É de extrema relevância falarmos disso e nos questionarmos sobre o que temos que mudar na nossa cultura e nas nossas atitudes a esse propósito para vivermos com um mínimo de planejamento financeiro. Afinal, como bem disse Pablo Picasso, só evite fazer algo hoje se você quiser morrer e deixar assuntos inacabados.

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