Diario de Pernambuco
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A vez dos invisíveis

Terezinha Nunes
Ex-deputada estadual

Publicado em: 23/07/2020 03:00 Atualizado em: 23/07/2020 06:28

“Não há mal que não traga um bem”, diz a sabedoria popular, pontuando que, sempre que algo de ruim nos acontece, uma boa lição pode ser aprendida.

Desde que a pandemia do coronavírus causou perplexidade no mundo, atingindo todas as classes sociais e ameaçando, igualmente, de um mangnata a um morador de rua, a terra virou uma casa comum onde um inimigo oculto expõe a todos.

A obrigatoriedade do isolamento social, todavia, tem feito com que as pessoas reflitam melhor sobre suas vidas e enxerguem além de uma tela de computador ou celular o meio em que vivem e uma maneira de se conduzir melhor daqui pra frente.

E, na busca por enxergar além do próprio nariz, saltou aos olhos de todos, por exemplo, os mais de 50 milhões de brasileiros que  vivem praticamente a mingua, não suportando sequer um dia de quarentena, sob pena de passar fome.

O despertar para as diferenças sociais se refletiu não só nos países mais pobres, onde se teve que providenciar auxílio emergencial e cestas básicas, mas nos mais ricos, onde a exclusão social se dá não só pelos diferenciais de renda, mas também pelos preconceitos de toda ordem.

Não à toa os Estados Unidos foram abalados por multidões nas ruas em pleno isolamento, exigindo punição a um policial branco que covardemente assassinou um homem negro e indefeso. Não que em outros momentos os americanos tenham deixado de protestar por crimes semelhantes, mas desta vez o movimento ganhou tal dimensão que o presidente pensou de usar as Forças Armadas para contê-lo.

Ninguém mais duvida, nos Estados Unidos ou fora dele, que a luta pela igualdade racial ganhou uma dimensão jamais vista e deve se espalhar pelo mundo.

Chegou, portanto, o momento de desnudar a hipocrisia que vinha nos fazendo cegos diante dos diferentes como se pudéssemos viver além deles.

Não só essas pessoas estão se organizando para enfrentar e vencer o preconceito como ganham cada vez mais apoio. Além dos pobres, dos negros, dos índios, dos homossexuais, chegou o momento de enxergar as pessoas com deficiência e um dado da pandemia exibiu de forma límpida a falta de cuidados para com elas.

Mesmo tão vulneráveis como os idosos pelas comorbidades de que são portadoras e representando um quarto da população brasileira, elas foram totalmente esquecidas no planejamento a nível federal, estadual e municipal quando se deu a crise. A vacina contra a gripe, por exemplo, só foi disponibilizada para elas na terceira fase quando já não era mais possível sair de casa para ir a um posto de saúde.

Clínicas terapêuticas foram fechadas e não se criou um atendimento domiciliar, fazendo com que, terminada a crise, todos tenham que voltar à estaca zero nos avanços que vinham conseguindo. De quem é a culpa? Não há outra explicação: do preconceito que a crise está ajudando a desnudar. Falta agora a sociedade reagir.

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