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Pandemia, desafios e transformações

Raíssa Lyra
Médica endocrinologista

Publicado em: 01/06/2020 03:00 Atualizado em: 01/06/2020 05:05

Nos últimos meses, a humanidade tem vivido momentos intensos e desafiadores em meio à pandemia da Covid-19. Cada um, individualmente, com suas perdas, seus medos, suas opiniões, suas perspectivas, porém, todos, certamente, passando por dificuldades nunca antes imaginadas.

Diante de tanta turbulência emocional, me vem uma tentativa de entender a razão mais profunda para estarmos passando por isso tudo, um possível propósito por trás de tamanho sofrimento.

O fato de todos estarem “no mesmo barco” faz com que todos, de alguma forma, se unam para combater ou minimizar os danos da doença. E esta união, este pensamento coletivo, está indo na contramão do que estávamos vivenciando antes da pandemia.

Estávamos cada vez mais voltados para os nossos próprios egos, para as nossas próprias ambições, com a tecnologia avançando e nos afastando uns dos outros, nos blindando e nos deixando cada vez mais individualistas, desumanos e sem empatia pelo próximo.

Muitas vezes precisamos que algo forte aconteça para que possamos passar por autotransformações, para que possamos enxergar algum caminho indevido que estávamos trilhando, atos de desrespeito às pessoas, à natureza, à nossa própria essência.

Não que devamos só olhar para o que transcende o que está acontecendo no mundo hoje, e nas possíveis explicações filosóficas. Não podemos, de forma alguma, fechar os olhos e nos alienar da realidade atual, do sofrimento, das mortes, das questões políticas e econômicas envolvidas. Mas podemos, sim, levar essa pandemia de forma mais leve, sem deixar que o medo e a inércia tomem conta do nosso íntimo, focando nas atitudes positivas que podemos ter, em conjunto, nesse período.

Nos isolar em casa visando desacelerar a propagação do vírus e trabalhar nossa mente com atividades que nos tragam paz e bem-estar são atos que podemos fazer pensando em nós e no todo. Ser luz na vida do outro, levar boas notícias, mostrar preocupação e interesse pelos familiares e amigos, são gestos que estão ao nosso alcance, e que, no final, fazem toda a diferença na vida de quem está passando por tamanha turbulência emocional.

Como médica, e estando na linha de frente no combate ao coronavirus, gostaria de dar meu depoimento: nós, profissionais da área de saúde, pertencemos a classe mais exposta ao vírus, de certa forma mais vulnerável a sentimentos de ansiedade, medo e insegurança.  Ao mesmo tempo, somos a classe que está em contato direto com pessoas que precisam não só de uma assistência médica de qualidade, como também de palavras de segurança, de ternura, de amparo. Por isso, lhes digo: vamos em frente! vamos continuar sendo luz e distribuindo saúde a quem precisa.

Quando essa fase passar, com certeza estaremos todos mudados, transformados, e com uma nova visão sobre o nosso eu individual e coletivo. Estaremos mais dispostos a investir não só na nossa saúde física, como também na nossa saúde mental. Seremos pessoas mais empenhadas na busca de autoconhecimento, crescimento pessoal e coletivo, assim espero.

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