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Eu e os governadores...

João Alberto Martins Sobral
Jornalista

Publicado em: 13/06/2020 03:00 Atualizado em: 13/06/2020 06:06

O título deste artigo lembra o livro Eu e o Governador, lançado em 1977 por Adelaide Carraro, sobre um possível relacionamento com um governador. Um texto pornográfico para a época e que hoje seria para crianças. Embora ela nunca tenha revelado, na época se dizia que era Jânio Quadros. Lembro de algumas histórias que vivi com governadores de Pernambuco, com os quais, permitam-me a imodéstia, me tornei amigo.

Nilo Coelho: Um dia me convidou para almoçar com ele num domingo. Cheguei na hora marcada e ele já me esperava com Maria Tereza e duas filhas. E fomos almoçar no Galo de Ouro, que era o restaurante favorito dele, na Camboa do Carmo. Pois bem, nada de carro, fomos e voltamos a pé, sem seguranças. E também voltamos, ele trazendo na mão quentinha com uma sobremesa que ele me disse seria para o jantar. Outros tempos, sem dúvida.

Marco Maciel: No Recife ele morava num edifício vizinho ao meu. Certo dia, em torno das 10h, eu saia da garagem no meu carro, na mesma hora que ele. Ao me ver, atencioso, como sempre, desceu do carro oficial, para me cumprimentar. Foi quando brinquei, dizendo que estava explicada a fama dele só dormir duas horas por noite. Teria acordado àquela hora. Ele riu e disse: já recebi três auxiliares para despachar em casa. E me contou que vivia recebendo cartas (na época não havia WhatsApp), com conselhos para curar insônia. E garantiu que apesar de tudo que se falava, sempre dormia pelo menos cinco horas por noite.

José Ramos: Um gentleman na melhor acepção do termo, era casado com Socorro, que tinha sido Miss Petrolina. Assumiu em 1982, por ser o presidente da Assembleia Legislativa, quando Marco Maciel saiu para ser candidato a senador e o vice, Roberto Magalhães, para disputar o governo do estado. Um dia, fui conversar com ele no Campo das Princesas, quando seu filho, um garoto de uns cinco anos, entrou correndo no gabinete e ficou no colo do pai. Recordei cena parecida com o filho de John Kennedy na Casa Branca, que correu o mundo.

Roberto Magalhães: Moysés Margolis era um dos seus maiores amigos, há muitos anos. Fez o lançamento de uma linha de relógios de luxo na sua loja Clock’s, e ele foi um dos convidados. O diretor da marca o presenteou com um relógio, sabedor que ele era colecionador. Ele me disse que não poderia aceitar, ficaria mal. Eu retruquei dizendo: governador, o senhor não pediu nada, ganhou presente, não haveria problema de ficar com o relógio. Ele concordou e aumentou sua coleção.

Gustavo Krause: Num domingo pela manhã, como sempre gostava de fazer, saia com amigos para digamos jogar conversa fora. Algumas vezes me chamava. Numa delas, fomos para um barzinho à beira-mar em Candeias, que estava na moda. Foi quando chegou a presidente de uma empresa do estado, usando o carro oficial. Foi uma das poucas vezes que o vi com raiva. Mandou que ela voltasse e colocasse o veículo na garagem e retornasse de táxi. Ela não voltou e ele voltou a tomar tranquilamente sua vodca, sua bebida favorita.

Miguel Arraes: Quando ele voltou do exílio, em 1979, fui o primeiro a entrevistá-lo no programa João Alberto Confidencial, que na época eu fazia na TV Universitária, levado por Ricardo Leitão. Foi na ocasião que revelou torcer pelo Ibis, fato lembrado pelo resto da vida dele. Disse que era para não contrariar os filhos, que tinham times diferentes. Quando perguntei sobre charutos, disse que os únicos que prestavam eram os cubanos. Dando aquela risada aberta que era tão característica dele, disse: “Os outros são qualquer coisa, menos charutos.”

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