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A nova fase "régia" da cultura - ato 1

Alfredo Bertini
Economista, professor e pesquisador. Autor do livro Economia da Cultura, editado pela Saraiva. Foi Secretário Nacional do Audiovisual e da Infraestrutura Cultural do então MinC. Em 2019, foi presidente da Fundação Joaquim Nabuco. Atua como consultor e gestor cultural privado

Publicado em: 07/02/2020 03:00 Atualizado em: 07/02/2020 08:24

Já tive aqui neste espaço (e noutros) a oportunidade de me manifestar a respeito do futuro da cultura, nesses momentos turbulentos que o país assiste, em termos de política publica para o setor.

Fiz tais comentários com a segurança de quem já esteve recentemente na alçada pública. Neste caso, como secretário do ministério (por duas vezes) no Governo passado e como proponente no grupo técnico do atual Governo, que até então discutia o tema ainda no fervor da campanha. Também como quem se motiva a estudar e pesquisar o modus operandi das distintas produções culturais, que dão cara a essa diversidade que pauta a cena cultural do país. E, por fim, na condição de quem tem atuado como gestor privado há muitos anos, na medida em que o tempo me dê o privilégio desse ofício.

Assim, em todas essas abordagens pessoais destaquei dois pontos. Em primeiro, a urgência da interlocução diante da agudização dos debates por vias extremas, algo que engessou o setor. Em segundo, a necessidade de se romper, definitivamente, com o discurso singelo e tímido de apenas se falar do viés econômico. Neste particular, ao contrário de só se teorizar a respeito, é uma questão de sobrevivência setorial se exercitar uma prática efetiva, que ponha a economia como um firme pilar de sustentação da Cultura.

Por esses caminhos, é importante que se veja agora os passos que foram dados recentemente, na direção de um esforço pelo soerguimento do setor, enquanto uma politica pública, da parte do governo federal.

Sim, há novidades no ar, além dos aviões de carreira. Sem aqui dar cartaz à saida pirotécnica de quem no cargo fez discurso de apoteose nada democrático, o importante é saber que o setor está agora numa nova fase - ou num novo ato. Na torcida para que não seja apenas uma questão semântica, dá-se início ao momento régio da Cultura. O setor está nas mãos de uma protagonista de reconhecido peso e valor artístico-cultural. Trata-se de Regina Duarte. Sim, ela mesma, a Regina Duarte e...da ARTE.

No contexto da premissa inicial de que interlocução é o passo inicial e essencial, ninguém melhor do que Regina para fazê-la. As razões são simples: tem apoio irrestrito do presidente, por ser do ofício tem conhecimento setorial e, por fim, goza de credibilidade e empatia suficientes para por em prática a árdua missão de negociar.

Duas questões derivam desse contexto, que tem muito a ver com o perfil de Regina. São aspectos que soam como criticas, que se não se revelarem com o tempo como descabidas, são no mínimo inoportunas. Fazem parte de uma grita (ou quase histeria), que não deveria ser tão acentuada. O primeiro trata da falta de experiência pública. O segundo da resistência radical de alguns integrantes do meio, que falam mais pelas suas ideologias, do que pela vontade de apostar positivamente pelo setor e pelo país.

Sobre o aspecto da inexperiência pública, na curta história das gestões do setor, houve casos semelhantes. Mesmo em igual contexto, as críticas foram mínimas, o que dá a entender que há outro verniz por trás. E isso é, exatamente, o que explica o segundo aspecto. A carga ideológica que advém do outro extremo, levanta contra Regina todas as suposições cabíveis para que o senso comum seja o da mantra: não vai dar certo!.

Acontece que, se o certo é o alvo, a prudência e sensatez precisam ser postas antes, para que se avalie depois. Isso se chama “crédito de confiança”, que parece ser algo vital agora. Afinal, sem que alguma “ponte” seja edificada e com quem tem condições para tal, o setor ficará em letargia.

De qualquer modo, ainda haverá outro passo, caso Regina exerça bem seu papel, nesse que chamei de “primeiro ato”. Trazer à baila um direcionamento econômico que seja real é também vital. Esse é o ponto básico do “segundo ato”, que trato em texto sucedâneo.

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