Diario de Pernambuco
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Os meninos e o casarão

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 21/01/2020 03:00 Atualizado em: 21/01/2020 10:06

Eles chegam aos grupos, ansiosos, barulhentos, logo se aquietam, impressionados com a beleza do lugar: a grande maioria nunca entrou numa casa tão antiga e tão bonita. Chegam de escolas diferentes, particulares como o Colégio Damas, o São Luis, o Agnes, alguns com várias turmas. Ou escolas públicas, do Recife ou cidades distantes, Belo Jardim, Sirinhaém, Carpina, Limoeiro, Escada,  em grupo  de 40, 60. Vão visitar a sede da Academia Pernambucana de Letras, construída no século XIX, segundo o gosto da época belíssimo exemplar da arquitetura recifense. Amanda, Andréa, Marleide, nossas secretárias, acolhem os grupos, em geral acompanhados por professores. Eles ouvem a história da casa, do Recife de então, dos objetos raros, dos móveis e retratos, se surpreendem e riem diante das escarradeiras de louça, no salão onde se fumava. Um aluno não resiste ao piano antigo, espalha os dedos pelas teclas. Os livros dos acadêmicos, expostos nas antigas vitrines, são motivo de curiosidade e perguntas: - O que é preciso para ser acadêmico? – Escrever livros, é a resposta de Anna Maria César. E a menininha com os olhos brilhantes: - Então eu vou ser acadêmica quando crescer. E Anna pensa: nossa permanência está garantida.

Espantam-se com a grande sala de reunião. Margarida explica: aqui era a sala de jantar. Ante as solenes 40 cadeiras: –“ Sala de jantar? Danou-se,” diz um menino. Quer saber o que representam os murais pintados por Lassailly. E ouve uma rápida explanação sobre a presença de artistas franceses no Recife daquele tempo. Em direção à Biblioteca ( “os acadêmicos já leram esses livros todos?” ) passeiam pelos jardins, sob as mangueiras e palmeiras centenárias. E na Sala Frei Caneca se acomodam, silenciosos, para  ouvir e conversar sobre literatura. “O que é preciso para ser escritor?”  Cícero Belmar, Luzilá, Anna Maria, respondem: “Ler, ler, ler. Depois, escrever.” Impressionado por ver acadêmicos de perto, surpresa de um menino: - “Então escritor é vivo?” Raphaela projeta documentários sobre alguns dos nossos, doação da Globo via Jô Mazarollo, que nos presenteou com mas de 80 vídeos de Ariano, entre outros. E a turma pode conhecer um pouco da nossas vidas e realizações. Como esses encontros acontecem, em geral, em horário de aula, o entusiasmo nos faz às vezes ultrapassar o tempo previsto. E um dia desses, um professor de Física se queixou, muito justamente, estavam atrasados para a aula dele. O que provocou a observação de uma aluna: “Mas literatura é mais importante do que Física.” Esta colunista vibrou, mas ficou caladinha., já se vê. Nota: o Museu da APL está funcionando agora nas férias, para crianças e grupos de adultos. Basta telefonar 32682211, para aproveitar essa pausa de beleza recifense, lembrando que, no ano passado, o número de visitantes ao museu, incluindo estudantes, turistas, curiosos, ultrapassou o número de mil. A Biblioteca se prepara para a reabertura diária, lugar de estudo para alunos das escolas e pesquisadores.

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