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Cristo e a Liberdade de Expressão

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 14/01/2020 03:00 Atualizado em:

Dona Severina sai do seu barraco todos os dias, anda cerca de quatro quilômetros para chegar ao seu ponto: a calçada de uma igreja católica na Rua do Imperador, nesta capital. Lá, se junta a outros pedintes e fica à espera da caridade dos transeuntes. Um cidadão para e pergunta a ela: A senhora levando essa vida sacrificada, quais os momentos em que sente alguma alegria de viver? – Quando estou orando para Jesus. Ele está sempre comigo. Dona Severina é apenas uma entre milhões de cristãos cuja fé divina no Filho de Deus lhes mantém conectados ao nosso Criador. Basta sairmos às ruas para perceber a presença de Jesus, seja nas inscrições de para choques de veículos – Jesus te ama – seja em camisetas – Estou com Jesus – e não raras vezes através de pregadores que circulam com microfones e alto falantes à propagar a doutrina do Círio de Nazaré. Ocorreu que recentemente, um grupo teatral denominado Porta dos Fundos resolveu encenar uma peça de mau gosto, intitulada  A primeira tentação de Cristo. Seu enredo retrata um Cristo adolescente, viciado em drogas, que nutre um romance homossexual com o diabo e acredita que Deus é seu tio. Já nosso Criador é arrogante e debochado, debocha de José e tem um relacionamento extraconjugal com Maria, retratada como promíscua e interesseira. Desde o início de dezembro passado, quando entrou no ar, o título vem sendo alvo de inúmeras manifestações de repúdio de católicos, evangélicos e da opinião pública. A Netflix é que patrocina a difusão da obra.  Dom Henrique Soares, Bispo da Arquidiocese de Palmares-PE, foi às redes sociais e divulgou o cancelamento de sua assinatura no serviço de streaming: Tinha que desfazê-la! Era o mínimo que poderia fazer! Desfi-la e senti-me feliz, contente, como quem presta uma homenagem a Alguém muito amado. A Anaji – Associação Nacional dos Juristas Islâmicos, através de seu presidente Girrad Mahmoud Sammour aderiu à coalisão ecumênica contra a Porta dos Fundos e a Netflix. Ele afirmou ser solidário aos nossos irmãos cristãos em face de que Deus diz no Alcorão para nós nos auxiliarmos na virtude e piedade e não no pecado e hostilidade. Ele disse que a produção representa um ato catalizador de ódio. Não há nenhuma indicação de que Jesus tenha sido homossexual, seja do Torá, no Evangelho ou no Corão. Estão criando algo que não existe, colocando as pessoas umas contra as outras. Apesar de A primeira tentação de Cristo ser um trabalho deletério, desprovido de qualquer sentimento artístico, produzido com o objetivo de causar polêmica e assim provocar uma divulgação anômala, que nada mais é do que  um golpe publicitário. Decreta a Constituição Federal no seu artigo 5º, inciso IV – Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Como se vê, se é certo que os autores do Porta dos Fundos, ao debocharem da comunidade cristã nacional, fizeram-no dentro dos limites do dispositivo constitucional retrotranscrito, não é menos certo que sua ação materializou um desrespeito ao sentimento religioso. Penso que resta-nos exercer o direito à reprovabilidade da espécie, e repudiar esses pseudos artistas cujo talento é duvidoso e discutível, pois não é difícil vislumbrar a natureza dos seus caracteres. É evidentemente maligna. Só uma cultura em decadência pode dar vazão a esses malsinados instintos profissionais, que, aproveitando-se da imunidade da liberdade de expressão, passam a ridicularizar os valores do cristianismo, que representam os sentimentos de religiosos de 86% da nossa população. Ainda assim, devemos perdoá-los; afinal eles não conhecem Deus como nós conhecemos.

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