Industrialização em Pernambuco: sonho e realidade

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 07/12/2019 03:00 Atualizado em: 08/12/2019 19:43

A vinda da refinaria e da fábrica da Jeep para Pernambuco foram marcos no imaginário da população local. Esperava-se que o estado passaria a crescer mais do que o Brasil e o resto do Nordeste, o que não aconteceu, como visto no artigo da semana passada. Além disso, acreditava-se também que nossa economia cresceria, a partir de então, impulsionada pela indústria de transformação. Essa última passaria a ser o setor dinâmico que lideraria o crescimento, tal como sonhava Celso Furtado e todas as suas viúvas teóricas. Embora ainda seja cedo para avaliar os resultados desses dois empreendimentos, já se passaram alguns anos de suas inaugurações, abril de 2015 para a fábrica da Jeep e novembro de 2014 para a refinaria. Essa última, porém, ainda em operação parcial. O pouco tempo, contudo, já permite uma avaliação inicial.

Em 2002 e 2006 a indústria de transformação representava 9,6% e 10,5% do PIB do estado, respectivamente, segundo dados do IBGE. No entanto, em 2014, último ano antes do início do funcionamento das empresas, ela tinha recuado para 9,2%. Ou seja, esse é o patamar que pode indicar o início das operações dos dois empreendimentos, embora impactos já pudessem ser sentidos em vários setores industriais do estado por consequência do processo de construção das instalações. Em 2017, último dado do IBGE disponível, esse percentual atingiu 13,2%. Ou seja, após início operacional desses empreendimentos, houve uma reação da indústria local, certamente muito puxada por eles. O impacto desses empreendimentos na industrialização de Pernambuco é mais claramente percebido quando se observa os dados comparados à região Nordeste e ao Brasil. Entre 2006 e 2017, a proporção da participação da indústria de transformação no PIB de Pernambuco, quando se compara à mesma proporção para o Brasil, aumentou de 0,64 para 1,06. Ou seja, a industrialização relativa aumentou, pois a participação da indústria no PIB nacional caiu de 16,6% para 12,4%. Enquanto o Brasil se desindustrializou, Pernambuco se industrializou, mesmo que pouco, talvez menos do que sonhavam os pernambucanos. Também nos industrializamos em relação ao Nordeste, pois entre 2006 e 2017, houve uma evolução da proporção acima mencionada, só que agora para o Nordeste, de 0,99 para 1,38.

Esses números, quando postos juntos às comparações de desempenho de PIB, apresentadas na semana passada, parecem indicar que os dois empreendimentos citados, embora muito importantes para Pernambuco, não levaram a um crescimento diferenciado do estado. Além disso, se observarmos os dados de rendimento do trabalho por domicílio (PNAD Contínua, dados anuais), verificamos que houve queda da proporção do encontrado em Pernambuco, quando comparado ao estimado para todo o país e para todo o Nordeste. Entre 2014 e 2018, a proporção PE/BR caiu de 75,8% para 64,6%. A proporção PE/NE, por sua vez, caiu de 1,20 para 1,07. Ou seja, pioramos em relação ao resto do Brasil e do Nordeste em rendimento do trabalho. Isso significa que a maior industrialização do estado, provavelmente induzida por esses empreendimentos, não parece ter levado a melhor bem-estar da população. Os limites da indústria para desenvolver países e regiões já é bem conhecido na literatura econômica. Os impactos efetivos desses grandes empreendimentos provavelmente é mais uma evidência desses limites.

Claro que a crise econômica desde 2013 teve papel importante para essa frustração do impacto dos grandes projetos. Sua superação nos próximos anos deverá trazer alguns efeitos econômicos positivos adicionais. Mas, somente a educação irá realmente mudar de forma marcante o desenvolvimento do estado, como está ocorrendo no Ceará. Esse tipo de empreendimento industrial pode ter papel relevante para a industrialização e até mesmo para o PIB, como vimos nas estatísticas acima, mas eles são muito pequenos no bem-estar da maioria da população.

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