Eleições 2024, um museu de grandes novidades

Felipe Sampaio
Foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; cofundador do Centro Soberania e Clima; dirigiu o SINESP no Ministério da Justiça; chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública.

Publicado em: 01/05/2024 03:00 Atualizado em: 01/05/2024 07:12

Foi-se o tempo em que a expressão ‘zeladoria urbana’ resumia as funções de uma prefeitura. O prefeito não é o síndico da cidade. Essas visões refletem um pensamento careta das classes A e B. Aquela turma que desfruta da melhor vista no melhor asfalto da cidade.

Pretendentes ao emprego de prefeito das 5.568 cidades brasileiras têm, outra vez, a oportunidade de ouvir e sugerir planos e soluções para tudo aquilo que a sociedade está cansada de apontar (sociedade aqui inclui a maioria pobre).

Mas, sejamos francos, se perguntassem a Cazuza hoje o que ele espera das próximas gestões municipais, era bem capaz de ele responder “Eu vejo o futuro repetir o passado”, porque continuamos fazendo as coisas do mesmo jeito.

A distribuição (e a qualidade) territorial das políticas públicas nas cidades, por exemplo, ainda seguem o farol dos grandes negócios imobiliários. E o automóvel individual ainda é o sujeito dominante nesse modelo de urbanismo. Nada de novo sobre saneamento, espaços de convivência, áreas de risco, mobilidade, gestão participativa, saúde, trabalho, planos de desenvolvimento, resultados etc.

Ou seja, o eixo fundante da vida urbana segue sem resposta: o direito à cidade. Dito de forma mais profunda, cadê o direito ao Estado? Nesse ponto, se abrirmos parênteses para incluir na nossa conversa o velho conceito de Estado de direito, vamos acabar chegando a uma redação radical (e vexatória) para a questão: “o direito ao próprio direito”.

Se formos por esse caminho, os futuros prefeitos precisarão responder uma pergunta crucial e inusitada: Na sua cidade, quem você acredita que mereça o ‘direito a ter direito’?

Como se não bastasse, acrescente-se dois complicadores ao sucesso dos futuros prefeitos. O primeiro, e mais intrigante, é essa atual ilusão de que seus selfies e likes rendem melhores frutos do que o planejamento democrático e a redução de desigualdades. O segundo é a verdade incontornável de que as mudanças climáticas galopantes já estão bagunçando geral a vida urbana desde Nova York até Bodocó.

Cazuza sabia que, em um país onde 85% da população mora em cidades, “o tempo não para”.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL