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Editorial Elo fraco

Publicado em: 12/11/2019 09:00 Atualizado em:

Costuma-se dizer que os jovens são o futuro da nação. Nas mãos deles se deposita a esperança de melhoras que cada geração acrescenta à antecedente. Ousados e confiantes, eles enfrentam os desafios dos novos tempos porque são contemporâneos das mudanças que se sucedem nas diferentes áreas do conhecimento.

Daí por que causam profunda preocupação os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada. A Síntese dos Indicadores Sociais mostra que 23% dos brasileiros com idade entre 15 e 29 anos figuram no grupo nem-nem — nem estudam nem trabalham. O percentual significa quase a quarta parte da população dessa faixa etária.

A realidade captada pela pesquisa não nasceu nos anos recentes. É histórica, com raízes profundas. Quase metade dos adultos — nada menos de 49% — não concluiu o ensino médio. A baixa qualificação constitui barreira para o ingresso no mercado de trabalho. Quando transposta, dá passagem para ocupações mal remuneradas e sem condições de promover ascensão social. Em português claro: perpetua a pobreza.

Comparados com os indicadores dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), clube para o qual o Brasil quer ingressar, vê-se o tamanho do desafio a ser enfrentado. Na média da OCDE, 27% dos cidadãos de 25 a 64 anos deixaram de concluir o ensino médio. E apenas 13,2% dos jovens não estudam nem trabalham. Diminuir o hiato constitui tarefa difícil. É bem-vindo, pois, o programa lançado ontem pelo Planalto que prevê a redução de encargos para estimular as empresas a contratar jovens.

A razão é simples: escolaridade não se compra em supermercado. A travessia implica políticas públicas de atendimento escolar com dois focos — tempo e qualidade. O ensino médio, abarrotado de disciplinas desconexas e voltado para o Enem, afugenta os jovens. A reprovação e a evasão se unem para criar o cenário desalentador retratado pelo IBGE.

Longe de abrir as portas da liberdade e das descobertas, o ensino médio funciona como ponte pela qual se passa para sair do fundamental e chegar à universidade. Muitos ficam pelo caminho. Sobretudo os socialmente vulneráveis tornam-se vítimas naturais da violência e candidatos a engrossar as fileiras do crime organizado.

Não só. A massa de talentos desperdiçados cobra alto preço ao país porque deixa de contribuir para o desenvolvimento nacional. Nenhuma nação — principalmente a que muda o perfil demográfico como a brasileira — pode se dar ao luxo de abrir mão de parcela importante da juventude.

Trata-se do pior dos mundos. Diferentemente da Europa, que envelheceu rica e educada, nós estamos envelhecendo pobres e carentes de educação. Impõe-se correção de rumos. Entre os desafios, três sobressaem: a melhora da qualidade do ensino, a aprovação na idade certa e a retenção do estudante na escola. Não é pouco. Mas, como dizem os chineses, toda marcha começa com o primeiro passo.

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