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A escola pública vive e triunfa

Raimundo Carrero
Jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 18/11/2019 03:00 Atualizado em: 19/11/2019 09:46

Continuo com a convicção de que nunca se leu tanto no Brasil. E que a escola pública atravessa um momento de grande afirmação. Esta semana estive na Escola Estadual de Referência Conde Pereira Carneiro, em São Lourenço da Mata, para testemunhar momento surpreendente: alunos do exemplar segundo grau, orientados pela professora Andreza Figueiredo, lançavam a adaptação de dois clássicos - Dom Casmurro, de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka – e de um contemporâneo – A Dupla Face do Baralho –de minha autoria.

Aliás, isso é muito mais do que ler. É ler, compreender e viver. O que não só me surpreendeu, mas deixou-me a convicção de uma escola pública em Pernambuco, muito mais atuante, vivencial e triunfante do que em geral se imagina. Dizer que estes meninos não leem é muito mais do que uma ofensa, é uma indignidade. Convenço-me de que nunca se leu tanto no Brasil e de que os professores nunca estiveram tão preparados.

Andreza Figueredo é um desses exemplos de mestras e doutoras saídas dos bancos universitários, que hoje em Pernambuco é de uma realidade incontestável. E que não se esqueça aí a presença de professores universitários, orientadores em absoluto, do porte de Lourival Holanda, Luzilá Gonçalves Ferreira, Ermelinda Ferreira e Anco Márcio, que se dedicam a conduzir o caminho dos cursos onde esta nova geração se prepara e aprimora.

Temos nestes e noutros professores, cujos nomes não me recordo agora, o melhor do ensino e da crítica literária brasileira, transformando, por exemplo, o estudo, examinando-se na obra a reflexão e o questionamento da sociedade. Não só leitura idealizada, mas crítica social de profunda importância. É de um enriquecimento cultural que poucas vezes examinamos com exatidão.

Senti nos alunos uma enorme vontade de questionar, debater, reflerir. Sobretudo quando Hemmily se Debruçou sobre A Dupla Face do Baralho, que ela adaptou com tantas qualidades. Deu-me a seu modo também uma lição. Algo que me emocionou e renovou. De repente, estava ali nas minhas mãos uma nova Dupla Face do Baralho, com seus personagens críticos e antagônicos, a examinar nosso dia a dia.

E esta, porém, uma segunda experiência magnífca que tenho em escola pública, com livros. Realizei uma oficina de criação na Escla de Referência Alcides Lins, em Camaragibe, quando os participantes escreveram o livro A Eclosão da Alma, publicado pelas edições Bagaço, algo verdadeiramente encantador.

Só para concluir, lembro que a leitura convencional, aquela que se faz sem exame crític,o é pouco, muito pouco, quase natal, talvez inútil. É preciso examinar a relação do texto com a realidade, o comportamento dos personagens, as frases que o autor coloca na confissão dos narradores, a adequada destruição de cenas.

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