Cobertura De Ney Matogrosso a Emicida, tudo sobre a 13ª edição do Coquetel Molotov Festival promoveu encontro de gerações em 12 horas de shows na capital pernambucana

Por: Pedro Siqueira - Diario de Pernambuco

Por: Fabiana Espinoza - Diario de Pernambuco

Por: Marcela Cintra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/11/2015 14:12 Atualizado em: 01/11/2015 20:11

 
Ney, convidado especial da Banda Tono, foi uma das atrações mais esperadas da noite. Foto: Hellyda Cavalcanti/Divulgação
Ney, convidado especial da Banda Tono, foi uma das atrações mais esperadas da noite. Foto: Hellyda Cavalcanti/Divulgação

A música é coisa objeto de culto para uns, instrumento de mudança para outros. Aquele elemento em comum que une tribos de diferentes gostos, estilos e idades. A comunhão e mistura de estilos, inclusive, é um dos grandes trunfos do Coquetel Molotov, festival que aconteceu neste sábado (31), no Recife, com 12 horas de som.

O festival ocorreu pelo segundo ano consecutivo na Coudelaria Souza Leão, na Várzea, e, o que já tinha funcionado no ano passado, só melhorou. O espaço, enorme e belíssimo, é uma atração à parte do evento. Quem viu o pôr-do-Sol com a cidade inteira no horizonte e música boa nos PA's sabe do que estamos  falando. Foi uma celebração, acima de tudo, da música independente nacional, desde os novatos Sofia Freire e Mahmed, até o final apoteótico, com Cidadão Instigado, Emicida, Tono e, claro, Ney Matogrosso.

A Mahmed, do Rio Grande do Norte, foi uma das primeiras atrações do festival, se apresentando no palco Sonic, montado em um dos gramados da Coudelaria. O horário e o extenso line up não favoreceram os rapazes, que tocaram para uma tímida, mas animada plateia. O repertório instrumental passeia por sons psicodélicos, viajantes e combinou bem com o clima de fim de tarde. A banda é um dos destaques do selo Balaclava, representante do indie nacional. Interessante ver como mesmo com toda a psicodelia, o som ainda consegue ser mais “pé no chão” do que bandas como Boogarins. A Mahmed mantém sempre um pé no indie/lo-fi.

Já no Palco Sonic, montado em um dos galpões da Coudelaria, a pernambucana The Raulis apresentava seu surf rock “dos infernos”, no melhor sentido. Imagine a trilha surf do filme Pulp Fiction (1994) sendo tocada com atabaques e instrumentos de sopro. A plateia era tímida, com talvez menos de 50 pessoas, mas animada. Música mais próxima que eles têm de um hit, Chicken haole foi recebida com entusiasmo.

Os foodtrucks assumiram comes e bebes dessa edição. Foto: Flora Pimentel/Divulgação
Os foodtrucks assumiram comes e bebes dessa edição. Foto: Flora Pimentel/Divulgação


Gratas surpresas
A melhor coisa de festivais musicais é você ir sem compromisso assistir o show de uma banda que não conhece. Melhor ainda quando o show é tão bom que te deixa de boca aberta, demorando algum tempo para raciocinar o que acabou de acontecer. Foi o caso da porradaria do Cosmo Grão, banda instrumental pernambucana que tocou no Palco Sonic. O grupo faz um som “das cavernas” que pode passar por metal, punk e psicodelia em uma mesma canção. Com público já numeroso, eles apresentaram canções dos Eps. Poucas palavras, muito peso. O fato de a formação contar com dois guitarristas e o som no talo só ajudaram. Pra coroar, um cover de A song for the dead, do Queens of the Stone Age.

O Palco Sonic aliás, foi o espaço das grandes novidades e experimentações. Quem ficou por lá certamente descobriu coisas bastante interessantes, como o piauiense Serge Erege. O cara subiu no palco sem banda, só com o uso de sintetizadores e drum machines, e fez um show de um homem só que de cara foi um dos melhores do festival. O som lembra muito as bandas eletrônicas dos anos 1980, como Depeche Mode, New Order e Gary Numan, mas com aquele cheirinho de novidade que agrada os fãs mais alternativos. O primeiro que vêm à memória é o australiano Chet Faker (se não conhece, inclusive, corra atrás). No palco, Serge canta, dança, sonha. As batidas e sons etéreos criaram um clima especial, aquele momento em que artista e público se encontram na mesma sintonia.

Filhos da Tropicália
Vida de festival também é correr. A organização com muitos palcos acaba resultando em shows simultâneos, e algumas escolhas devem ser feitas. Por um lado é difícil para quem quer curtir todas as atrações, mas por outro, ajuda a evitar grande aglomeração de público em um só espaço. O fim do show de Serge Erege foi o momento de correr para ver Ava Rocha, filha do cineasta Glauber. Apesar de não tão conhecida, ela teve o maior público do festival até então. O show foi competente, mas a voz de Ava parecia prejudicada, até rouca em alguns instantes. O som é uma mistura de MPB, indie e rock, meio o que Gal Costa anda fazendo nos últimos anos. Gal inclusive foi a referência mais próxima que muitos da plateia notaram.

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Posted by Diario de Pernambuco on Domingo, 1 de novembro de 2015

A banda carioca Tono que recebeu a participação especial do Ney Matogrosso fez jus ao título do encontro mais esperado da noite. Com influências de Itamar Assumpção e Jorge Mautner, o grupo formado por Rafael Rocha (bateria), Ana Lomelino (voz), Bem Gil (guitarra), Bruno di Lullo (baixo) e Leandro Floresta (teclados e sintetizadores) mostrou a originalidade do seu trabalho para os pernambucanos.

Cidadão Instigado apresentou Fortaleza, disco mais recente. Foto:  Hellyda Cavalcanti/Divulgação
Cidadão Instigado apresentou Fortaleza, disco mais recente. Foto: Hellyda Cavalcanti/Divulgação


Do Ceará, o guitar hero Fernando Catatau e seu Cidadão Instigado apresentou repertório do mais recente disco, Fortaleza. Além do som impecável, a exibição da faixa "Deixe ela em paz" foi um momento memorável do show. Nome da campanha independente cuja ação possui o objetivo de refletir e questionar o machismo, já ganhou a adesão de milhares de pessoas de todo o Brasil. Ao vivo, as músicas do disco ganham um peso maior, quase um hard rock, mas com aspecto de poeira, de agreste. Até que enfim, Dizem que sou louco por você e Homem velho fizeram a alegria dos fãs.

Emicida fechou a noite com muita vibração e frases de efeito que tocaram toda a plateia do palco Velvet. Com certeza foi um dos shows mais aguardados do festival. O rapper se apresentou com banda completa, com direito a baixo, guitarra e bateria, o que deu mais peso a composições como Boa esperança.

Emicida encerrou a programação do Palco Velvet. Foto: Vito Sormany/Gescc-Aeso/Divulgação
Emicida encerrou a programação do Palco Velvet. Foto: Vito Sormany/Gescc-Aeso/Divulgação


Lavando a alma
As gerações mais novas provavelmente conhecem o Jair Naves melancólico, indie e poético da carreira solo, mas é como integrante do Ludovic que o cantor se solta e libera sua fúria. De volta aos palcos em turnê de reunião após oito anos e na primeira apresentação no Nordeste. O hardcore angustiado da banda ganha ainda mais potência ao vivo, com o vocalista endiabrado. Em pouco mais de uma hora, Jair pula, grita, se atira no chão e no meio do público. As peripécias renderam uma queda feia ao fim do show, quando o vocalista deixou o palco mancando, mas isso é rock 'n' roll. A plateia animada conhecia praticamente todas as músicas do repertório, o que surpreendeu o próprio Jair. “Vocês tão cantando melhor que eu”, brincou. No repertório, músicas como Servil e Janeiro continua sendo o pior dos meses.


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