Entre o passado e o agora - a essencialidade atual de Arendt
Orlando Morais Neto
Sócio de Paurá Advocacia, especializado em Direito Eleitoral, mestre e doutorando em Direito pela Unicap e pela Universidade de Pisa
Publicado em: 06/05/2025 03:00 Atualizado em: 05/05/2025 22:44
Publicado em 1951, Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt, é uma das obras mais influentes da teoria política moderna. Nela, a autora analisa como fatores históricos, sociais e culturais — como o colapso das estruturas liberais, a dissolução dos vínculos comunitários, a crise da autoridade e a ascensão de ideologias totalizantes — possibilitaram o surgimento de regimes como o nazismo e o stalinismo. Para Arendt, o totalitarismo não é um desvio acidental ou episódico, mas uma ameaça estrutural inerente à modernidade, capaz de renascer sempre que a verdade é corrompida, o pensamento é neutralizado e a política se reduz a um mero instrumento de dominação.
Dividido em três partes — antissemitismo, imperialismo e totalitarismo — o livro mostra como, ao longo do século 19 e início do 20, foram sendo preparados os alicerces de uma forma inédita e radical de governo que pretende controlar não apenas a ação humana, mas também a própria consciência individual e coletiva. O totalitarismo, segundo Arendt, aniquila a individualidade, transforma a política em uma engrenagem de obediência cega, instrumentaliza o terror como mecanismo permanente de controle e impõe uma ideologia que substitui os fatos objetivos por ficções convenientes ao poder. O resultado é a criação de massas atomizadas, desprovidas de senso crítico e desconectadas da realidade comum.
Na atualidade, o diagnóstico de Arendt permanece alarmantemente pertinente. A normalização do discurso de ódio, o uso sistemático de desinformação, a construção deliberada de inimigos internos, a fragilização das instituições democráticas e a ascensão de líderes carismáticos que se colocam acima da lei são fenômenos cada vez mais presentes em diversas democracias contemporâneas. A lógica totalitária se infiltra de modo sorrateiro, não apenas pela coerção, mas sobretudo pela apatia coletiva, pelo isolamento social, pela manipulação das emoções e pelo enfraquecimento do espaço público como lugar de debate, confronto e construção da verdade.
O risco maior, segundo Arendt, reside no momento em que as pessoas deixam de distinguir entre fato e ficção, entre verdade e mentira, entregando-se a uma realidade construída artificialmente por narrativas manipuladoras. Hoje, em meio à hiperconectividade digital, à radicalização dos afetos políticos e à exploração midiática das inseguranças sociais, esse cenário se desenha com nitidez crescente e exige vigilância constante.
Revisitar Origens do Totalitarismo é, portanto, um gesto urgente e necessário. Arendt nos alerta de que o totalitarismo pode retornar sempre que a dignidade humana for relativizada, a verdade abandonada e o pluralismo atacado em nome da unidade. Em tempos de instabilidade global e erosão democrática, o livro reafirma que a única defesa possível contra essa ameaça é o compromisso inegociável com a liberdade, a responsabilidade ética e o exercício permanente e ativo da cidadania. Trata-se, acima de tudo, de recusar a indiferença e de reconstruir o espaço comum onde a política possa voltar a significar ação, diálogo e construção compartilhada do mundo.
Dividido em três partes — antissemitismo, imperialismo e totalitarismo — o livro mostra como, ao longo do século 19 e início do 20, foram sendo preparados os alicerces de uma forma inédita e radical de governo que pretende controlar não apenas a ação humana, mas também a própria consciência individual e coletiva. O totalitarismo, segundo Arendt, aniquila a individualidade, transforma a política em uma engrenagem de obediência cega, instrumentaliza o terror como mecanismo permanente de controle e impõe uma ideologia que substitui os fatos objetivos por ficções convenientes ao poder. O resultado é a criação de massas atomizadas, desprovidas de senso crítico e desconectadas da realidade comum.
Na atualidade, o diagnóstico de Arendt permanece alarmantemente pertinente. A normalização do discurso de ódio, o uso sistemático de desinformação, a construção deliberada de inimigos internos, a fragilização das instituições democráticas e a ascensão de líderes carismáticos que se colocam acima da lei são fenômenos cada vez mais presentes em diversas democracias contemporâneas. A lógica totalitária se infiltra de modo sorrateiro, não apenas pela coerção, mas sobretudo pela apatia coletiva, pelo isolamento social, pela manipulação das emoções e pelo enfraquecimento do espaço público como lugar de debate, confronto e construção da verdade.
O risco maior, segundo Arendt, reside no momento em que as pessoas deixam de distinguir entre fato e ficção, entre verdade e mentira, entregando-se a uma realidade construída artificialmente por narrativas manipuladoras. Hoje, em meio à hiperconectividade digital, à radicalização dos afetos políticos e à exploração midiática das inseguranças sociais, esse cenário se desenha com nitidez crescente e exige vigilância constante.
Revisitar Origens do Totalitarismo é, portanto, um gesto urgente e necessário. Arendt nos alerta de que o totalitarismo pode retornar sempre que a dignidade humana for relativizada, a verdade abandonada e o pluralismo atacado em nome da unidade. Em tempos de instabilidade global e erosão democrática, o livro reafirma que a única defesa possível contra essa ameaça é o compromisso inegociável com a liberdade, a responsabilidade ética e o exercício permanente e ativo da cidadania. Trata-se, acima de tudo, de recusar a indiferença e de reconstruir o espaço comum onde a política possa voltar a significar ação, diálogo e construção compartilhada do mundo.
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