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Porque os ratos não voltaram para as sarjetas

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicado em: 19/03/2024 03:00 Atualizado em: 19/03/2024 05:46

Um primo querido, Fernando Van Der Linden de Vasconcellos Coelho, publicou um post nas redes sociais em outubro de 2022 em que previa que já em novembro/2022, Lula estaria eleito. Argumentou que, por consequência, “os ratos já estariam de volta às sarjetas.” O Brasil voltaria à normalidade. Estaríamos livres de truculências e ameaças. Discussões sobre o país voltariam a ser fontes de aprofundamentos de ideias e de conhecimento da realidade, e não apenas geração de ameaças e agressões. Os indivíduos superficiais e sem argumentos, que outrora foram formados em escolas tolerantes à baixa qualidade de aprendizado, não se aventurariam a dar tantas opiniões, pois pouco conseguiriam apresentar mais do que revelações de suas esquizofrenias. Infelizmente, caro primo, isso não aconteceu. Os ratos continuam a circular à luz do dia, sem sequer buscar as sombras.

A origem de fenômenos como o bolsonarismo no mundo tem sido estudada por vários ramos das ciências sociais. Como pessoas altamente ignorantes, preconceituosas e violentas resolvem repentinamente se expor socialmente e até terem orgulho de suas posturas. As conclusões têm sido que há determinantes psicológicos e sociais para esse fenômeno. Pessoas com criação autoritária, de poucos argumentos e muita repressão e rispidez na sua formação enquanto crianças e adolescentes, são as mais propensas a aderirem ao bolsonarismo e doutrinas religiosas radicais. Elas possuem um forte componente daquilo que Theodor Adorno chamou de personalidade autoritária. Os indivíduos absorvem ideias a partir de duas fontes de convencimento psíquicas: a percepção de razoabilidade lógica e empírica delas, dadas as suas informações e formações anteriores, e a sua propensão psicológica a aceitá-las. Quanto mais rasa a sua formação educacional efetiva, mais a segunda fonte é importante.

Os Bolsonaristas, possuem baixa formação educacional efetiva. Mesmo quando têm nível superior, geralmente são intelectualmente fracos. Contudo, o desenvolvimento tecnológico permitiu que esses indivíduos se conectassem entre eles, via redes sociais. Como são de baixa formação efetiva, a comunicação entre eles exige pouca racionalidade e rigor lógico. Por conseguinte, apelos psicológicos são capazes de mobilizá-los em torno de um conforto psíquico, sobretudo se derem uma sensação de não inferioridade intelectual e que sejam coerentes com suas propensões forjadas a partir de suas personalidades autoritárias. Daí o apelo de ideias autoritárias, discriminatórias e odientas, quando dirigidas a alguns grupos, terem tanta receptividade.

A nossa sociedade patriarcal e escravocrata no passado deixou uma herança perversa na educação doméstica de um contingente importante da população. Isso tem facilitado o surgimento da personalidade autoritária. O problema estende-se a todas as classes sociais. Soma-se a isso a frustração de indivíduos menos qualificados para o nível de educação formal que receberam por terem menos sucesso financeiro do que gostariam. Em confrontações frequentes com outros em situação educacional supostamente similar deparam-se com seus fracassos subjetivos. Aí surge o bolsonarista em potencial. Basta pôr um discurso de ódio diante dele que ele se revela. Infelizmente, caro primo, para os ratos voltarem para as sarjetas vamos precisar melhorar o sistema educacional e ter um sério trabalho de comunicação social. Não bastou ganhar uma eleição!

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