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Março Amarelo, mês de combate à endometriose

Laís de Albuquerque
Formada em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e em Obesidade e Emagrecimento pelo Hospital Albert Einstein. Cursando especialização em Endocrinologia Ginecológica pelo Hospital Sírio Libanês. Curso de Hormonologia na Harvard University - Boston (EUA).

Publicado em: 21/03/2024 03:00 Atualizado em: 21/03/2024 05:57

Pensei muito antes de escrever esse texto e queria passar uma mensagem diferente das que vocês encontram quando pesquisam “endometriose” no Google. Quem vive com endometriose e dor sabe o perrengue que é, o quanto atrapalha a vida social, conjugal, financeira, o quando abala o psicológico. Viver com endometriose não é fácil, mas a mensagem que eu trago hoje é que é possível viver sem dor mesmo com endometriose.

A endometriose, de modo simples, é o tecido de dentro do útero que vai parar fora do útero (ou até mesmo se infiltra em camadas mais internas do próprio útero). Se o nosso útero fosse um mamão (a fruta mesmo), assim seriam representadas as três camadas, a casca seria a serosa, o miolo seria o miométrio e as sementes seriam o endométrio.

Essas sementes se soltam uma vez por mês provocando a menstruação. No entanto, em algumas mulheres, as sementes podem refluir pelas trompas indo para a cavidade abdominal, gerando a endometriose. Os lugares mais comuns onde “grudam” essas sementes são atrás do útero, no intestino e no miométrio, mas também podem acometer órgãos mais distantes como pulmão e vesícula.

Acontece que quando esse tecido vai parar em outro lugar, surge um processo inflamatório deflagrado pelo sistema imunológico para tentar eliminar esse tecido, no entanto, alterações genéticas permitem que essas células endometriais escapem do sistema imune, perpetuando o processo inflamatório e gerando dor.

A endometriose pode se mostrar assintomática em até 22% das mulheres mas, na maioria dos casos, a sintomatologia envolve dismenorreia (dor na menstruação), dispaurenia (dor na relação), dor pélvica não cíclica (que pode surgir fora do período menstrual), disquesia (dor para evacuar), disúria (dor ao urinar), alterações nos hábitos intestinais e, frequentemente, infertilidade. No entanto, a apresentação clínica é muito variável e nenhum desses sintomas é específico para a endometriose, dificultando o seu diagnóstico.

Alguns exames podem ajudar na investigação, mas negativos não excluem a doença (visto que não possuem sensibilidade e especificidade adequados), são eles a ressonância nuclear magnética e o ultrassom transvaginal com preparo intestinal e o CA-125.

O tratamento deve ser individualizado, levando-se em conta sempre os sintomas da paciente e o impacto da doença e de seu tratamento sobre a sua qualidade de vida. Existe um tratamento medicamentoso/hormonal eficaz para o controle de dor, porém este deverá ser aliado a uma mudança importante no estilo de vida. Controle de peso, atividade física e suplementação deverão ser incluídos no tratamento. Existem indicações precisas para o tratamento cirúrgico que devem ser avaliadas por profissional especializado.

Existe vida sem dor mesmo com endometriose. Procure ajuda!

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