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Precisamos falar sobre Madonna...

Carolina Ferraz
Jurista, feminista, especialista em direito antidiscriminatório, coordenadora e co-autora do Manual Jurídico Feminista

Publicado em: 03/09/2021 03:00 Atualizado em: 02/09/2021 22:28

Ela nunca foi unanimidade, mas como dizia Nelson Rodrigues, existe alguma unanimidade que não seja burra?! Foi criticada por sua música inúmeras vezes – ela foi lá e conquistou o mundo para provar que não devemos deixar que as críticas guiem nossos passos – e quando era inimaginável que mulheres fossem as donas do pedaço no cenário do showbiz e da música pop ela – novamente – subverteu o patriarcado dominante e fez sua própria história.

Agora ela conta uma nova história como protagonista do cenário do envelhecimento das mulheres. Sociedades de consumo reagem negativamente ao decurso do tempo porque pautam suas bases na ótica da substituição: seja de bens de consumo ou de pessoas! Pelo mesmo motivo: o tempo passado gera o conceito de obsoleto ao invés da compreensão de que tempo é conhecimento.

Mas aí vem Madonna e sua geração que recusa o rótulo da inaptidão do arcaico – precisamos ainda frisar o quão rótulos não são razoáveis em pessoas?! – e propõe uma nova revolução a das mulheres com 60 anos ou mais desejáveis, sexys e longe de conceitos arcaicos ultrapassados que existe idade para viver uma vida com afeto, desejo e beleza.

O mundo reage melhor ao envelhecimento dos homens, um homem mais velho guarda, na ótica social das relações amorosas, charme e uma sensualidade madura. Contudo, essa visão inclusiva e afetuosa, não é destinada às mulheres mais velhas. E qual seria a razão que não o mais vil ódio às mulheres? Mulheres mais velhas são uma instituição de força feminina desprovidas das inseguranças e cobranças sociais elas usam a maturidade como sinônimo de um sentimento de poder e convicção quanto à autoestima.  Dificilmente uma mulher mais velha empoderada não é absurdamente dona de si. Então por que querem a todo custo reduzir as mulheres a um mero e irrelevante intervalo de tempo? O mundo realmente teme o envelhecimento feminino ou teme o poder das convicções do feminino?

Enquanto somos jovens estamos sujeitas mais facilmente ao assujeitamento imposto por séculos de educação opressora e de uma construção de invólucros sob a égide da régua (in?)moral de boas moças. Nada menos elogioso para o espírito libertário feminino do que rédeas quando desejamos asas para os nossos sonhos e infinitude para os nossos espíritos!

Mas daí atingimos a maturidade e com ela nos apercebemos que a nossa luta é sobre o protagonismo das nossas vidas pessoais - profissionais e que jamais aceitaremos menos! Essa construção existencial é forte e bonita pena que a sociedade como um todo, o estado e (especialmente !) os homens temem a força das mulheres e tentam a todo custo silenciar nossas vozes. Muitas vezes sob a alcunha de loucas, outras tantas vezes nos chamando de excessivamente livres e na atualidade apontando o dedo para as nossas rugas e cabelos brancos como se fosse um pecado envelhecer.

Eu não tenho medo da velhice, tenho pavor de não viver minhas escolhas, de me perder de mim mesma e de esquecer que no ato de ser fêmea eu desconstruo ao lado de outras mulheres diuturnamente o machismo e suas opressões. Viva as rugas, os pés de galinha, a força gravitacional que nos lembram todos os dias que somos donas de nossas escolhas!

Sejamos livres, velhas ou novas, mas nunca esqueçamos da nossa força feminina! A Madonna que habita a minha alma saúda a Madonna que habita a sua!

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