Conferência anual sobre o Brasil em Oxford

Maurício Rands
Advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford

Publicado em: 10/02/2020 03:00 Atualizado em: 10/02/2020 08:57

É sempre com emoção que Patrícia e eu retornamos à nossa querida Oxford. Onde civilidade, história, arquitetura e conhecimento se combinam para provar que a humanidade é capaz de coisas grandiosas. Não foi à toa que 53 de seus acadêmicos foram reconhecidos com o Prêmio Nobel que ainda hoje nunca agraciou um brasileiro. Visitamos meu antigo College, o St Antony’s. Mas também os mais antigos University College, Balliol, Merton, fundados entre 1249 and 1264. Assim como a University Church of St Mary the Virgin, a Radcliffe Camera da Bodleian Library e o Sheldonian Theatre. Voltamos à livraria dos meus sonhos, a Blackwell, que temia encontrar fechada. Tristeza que havia experimentado ao tentar revisitar as duas livrarias Barnes & Noble de Washington. Era na Blackwell onde eu admirava a generosidade do governo japonês que conferia aos seus bolsistas uma quota destacada para compra de livros. Enquanto nós os bolsistas brasileiros pouco dela podíamos adquirir. Por isso, ficávamos na Bodlean Library até sermos tangidos pelos bibliotecários no horário derradeiro. Com os adoráveis Cristovam e Gladys Buarque, voltamos ao “The Eagle and Child”, o velho pub em St. Giles onde Tolkien, Lewis Carroll e Charles Williams todas as terças-feiras se reuniam para discutir suas obras. Lembrei que Vinícius de Moraes, o primeiro bolsista brasileiro em Oxford, dela se encantou a ponto de mais tarde declarar que aquele foi um dos seus momentos de mais inspiração lírica. Que lhe foi magicamente transmitida pelo contato com a poesia dos eruditos, mas também do underground nos pubs da velha senhora de 1167.

A conferência anual sobre o Brasil foi organizada com esmero e competência por Andreza de Souza Santos, uma jovem brasiliense professora no Centro Latino-Americano de Oxford. Com o forte apoio do diretor do centro e profundo conhecedor do nosso país, o prof. Timothy Power. Painéis onde acadêmicos do mundo inteiro que estudam o Brasil puderam apresentar seus papers. O tema geral desse ano: ‘as práticas informais no Brasil: exclusão e privilégio’. O que permitiu a apresentação de estudos sobre temas como Lava-Jato, populismo e desafios à democracia, reflexos políticos da informalidade, avanço evangélico na política brasileira, percepções dos beneficiários de políticas públicas como o Minha Casa Minha Vida, questão indígena, judicialização do acesso à saúde, crédito popular, organizações do crime (PCC), educação como estratégia para o desenvolvimento, desigualdades de gênero, baixa efetividade dos direitos, debilidades da Justiça e outros. Notada a força da presença de Pernambuco. Por ter sido a sede de alguns desses estudos. Como o do holandês Martijn Koster, sobre o “repensar das políticas populares no Recife”. Mas também pela ampla participação de acadêmicos do estado. Cristovam Buarque, Marcos André Melo, Marcos Nóbrega e eu apresentamos e debatemos nossos últimos livros, que brevemente serão lançados no Brasil. Outros painéis e debates contaram com a participação de pernambucanos como Mariana Batista, Marcelo Medeiros, Gauss Cordeiro e mais de uma dezena dos nossos conterrâneos.  

Que bom voltar à Oxford dos grandes intelectuais que moldaram a história ocidental. David Hume, Adam Smith, Thomas Hobbes, Thomas More, John Locke, T. S. Elliot, Oscar Wilde, Indira Ghandi, Tolkien, Lewis Carroll, Joseph Stiglitz, Amartya Sen, T S Eliot e Linus Pauling. A eles acrescento Hermínio Martins, meu orientador no doutorado, um dos homens mais eruditos que já conheci. Quando nos preparávamos para ir visitá-lo, nosso estimado Timothy Power deu-nos a triste notícia do seu passamento. Esta crônica a ele vai dedicada com toda a minha admiração e gratidão eterna.

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