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Genocídio para retirada de órgãos na China

Cláudio Lacerda
Cirurgião. Professor da UPE e da Uninassau

Publicado em: 27/01/2020 09:00 Atualizado em:

A comunidade médico-científica internacional da transplantação de órgãos recebeu com perplexidade e indignação o relatório final do “China Tribunal”, que veio a público recentemente. E passou a entender, afinal, porque esse país tem feito um número tão grande de transplantes por habitante, tornando-se o de menor tempo de espera em lista do mundo, apesar de ser uma nação cuja cultura não aceita o conceito de “morte encefálica” e, por isso, raramente viabiliza a doação voluntária.

Depois de meses de investigação e análise de centenas de evidências documentais e testemunhais, Sir Geoffrey Nice, Presidente da Comissão Internacional de Investigação sobre Transplantes de Órgãos Antiéticos na China (composta por proeminentes juristas, defensores dos direitos humanos e cirurgiões transplantadores), concluiu que aquele país pratica a retirada sistemática - e em larga escala - de órgãos de prisioneiros executados, entre eles criminosos comuns e dissidentes políticos, além de membros da seita Falun Gong e da minoria muçulmana Uigur. Como agravante, boa parte dessas cirurgias é realizada em hospitais privados, em estrangeiros que têm recursos para financiar o transplante, mas, pela gravidade da doença, não podem esperar na lista dos seus países.  

As questões éticas envolvidas nos processos de doação e transplante vêm sendo discutidas amplamente nos últimos anos. Embora a legislação de alguns poucos países permita até a comercialização, tornou-se consenso internacional que a doação deve ser um gesto voluntário e altruísta. Nenhuma nação admite legalmente a retirada compulsória de órgãos, mesmo de condenados à pena capital.

Nos Estados Unidos, por exemplo, isso não é possível, sequer entre aqueles que, no corredor da morte, manifestem esse desejo. Pessoalmente, vejo certa contradição e até hipocrisia nisso e fico a imaginar quantas vidas seriam salvas se tais órgãos fossem aproveitados, com total gratuidade, sendo a doação voluntária ou não.

Mas isso, evidentemente, não se aplica ao caso da China, onde, pelo que tudo indica, órgãos são retirados em escala industrial de prisioneiros “de consciência”, muitas vezes com objetivo de lucro.  Um crime contra a humanidade.

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