Editorial Desafios do acordo UE-Mercosul

Publicado em: 06/07/2019 03:00 Atualizado em: 08/07/2019 09:11

“As árvores querem ficar quietas, mas o vento não deixa.” O provérbio chinês vem ao encontro de fato que sacudiu o país na semana passada. Depois de 20 anos de idas e vindas, Mercosul e União Europeia assinaram acordo histórico, que criou a maior área de livre comércio do mundo. O acerto mereceu aplausos dos 32 países que comporão o bloco. E deixou claros os desafios que precisam ser enfrentados com urgência.

É a primeira vez que o Mercosul se associa a parceiro desenvolvido e de enorme relevância internacional. São 780 milhões de pessoas — a maioria educada e com exigências de qualidade nos bens e serviços que consome. O Brasil tem de satisfazê-los. É verdade que dispõe de prazo para fazê-lo. A redução ou eliminação de tarifas seguirá um calendário fixado de comum acordo. Paralelamente, impõe-se criar as condições indispensáveis para tirar proveito da realidade.

Nunca ficou tão nítida a existência de dois Brasis. De um lado, o agronegócio — moderno, dinâmico, bem-equipado, competitivo, apto a fazer frente aos concorrentes mais sofisticados do mundo. Segmentos frágeis, como o do vinho, terão amparo para se inovar e, com isso, não só manter o mercado, mas também conquistar fatias adicionais. É o que anunciou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina,  nesta semana. Não por acaso o agro teve peso significativo na árdua negociação que resultou no êxito diplomático.

De outro lado, está a indústria. A longa crise econômica por que o país passa feriu fundo o setor. As empresas têm grande capacidade ociosa, não investem em inovação e perdem relevância no Produto Interno Bruto (PIB). Desestimulada, a maior parte se concentrou em sobreviver. Esqueceu-se — ou precisou se esquecer — de se modernizar, de acompanhar o salto qualitativo que se observa em nações que traçam sua política industrial e nela investem recursos e tecnologia. Quem para, vale lembrar, regride. Os concorrentes avançam e o deixam para trás. Os últimos, ao contrário do que diz o ditado, não serão os primeiros. Serão os últimos, ou ficarão no caminho.

Por sorte, novos ventos sopraram. Há que aproveitá-los. As árvores, que estavam quietas, são obrigadas a reagir a uma década com crescimento anual abaixo de 1%, a dívida pública se aproximando de 80% do PIB, ao desemprego de 13 milhões de pessoas e a falência dos governos federal, estaduais e municipais, sem recursos para investir. A reforma da Previdência avança. A tributária parece segui-la. Privatizações, investimentos em infraestrutura, redução da burocracia, diminuição do custo Brasil e outras medidas são iniciativas importantes para devolver a confiança no país, incentivar investimentos e fazer o bolo crescer.

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