Rain24° / 26° C

DIA DO TRABALHADOR

No Dia do Trabalhador, especialistas alertam para cuidados com a saúde mental

Dados recentes revelam que a Síndrome de Burnout, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno ocupacional desde 2022, se consolida como uma epidemia. Em Pernambuco, transtornos mentais e comportamentais afastaram 13 mil trabalhadores de suas atividades em 2024

Publicado em: 01/05/2025 06:31 | Atualizado em: 02/05/2025 10:18

 (Foto: Freepik)
Foto: Freepik

Neste Dia do Trabalhador, o que antes era apenas símbolo de luta por direitos e valorização da mão de obra ganha também o reforço para o cuidado da saúde mental. Segundo o Ministério da Previdência Social, mais de 13 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais foram registrados no estado apenas nos três primeiros meses de 2024, o maior número da série histórica. Entre os diagnósticos mais recorrentes está a Síndrome de Burnout, o esgotamento profissional reconhecido desde 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno ocupacional.

A epidemia silenciosa, como tem sido chamada por especialistas, esconde rostos e histórias por trás dos números. São profissionais que seguem atuando sob a pressão de metas inalcançáveis, jornadas extensas e o medo constante da demissão. Para muitos, reconhecer que o sofrimento emocional tem origem nas condições de trabalho ainda é um desafio. E denunciar, mais ainda.
 
No setor público, os sinais do esgotamento são ainda mais evidentes. Uma pesquisa interna da Secretaria Estadual de Educação revelou que 62% dos professores da rede relataram sintomas compatíveis com Burnout, insônia, irritabilidade, fadiga constante e perda de motivação. A sobrecarga de tarefas, a violência escolar e a escassez de recursos materiais agravam a situação.

A crescente demanda por apoio psicológico também tem pressionado os serviços públicos de saúde mental. No Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Casa Forte, no Recife, o número de trabalhadores com sintomas de esgotamento profissional cresceu 35% entre 2022 e 2024. Embora o CAPS não faça atendimento exclusivo para transtornos ocupacionais, a equipe relata aumento expressivo de casos com vínculo direto ao ambiente laboral.
 
Apesar do avanço no reconhecimento do Burnout como transtorno laboral, a reação institucional ainda é tímida. O ambiente corporativo nem sempre está preparado, ou disposto, a lidar com o problema. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), prevista para entrar em vigor em 26 de maio, exigirá das empresas o mapeamento e gerenciamento de riscos psicossociais como estresse, sobrecarga e assédio moral. 
 
Os dados reforçam a urgência. Entre 2022 e 2024, os benefícios concedidos por adoecimento mental cresceram 134% no Brasil. Em Pernambuco, setores como educação, saúde, comércio e instituições bancárias se destacam. Neste último, por exemplo, a participação nos afastamentos acidentários passou de 9,3% em 2012 para 20% em 2024.
 
O enfrentamento do Burnout como problema de saúde pública ainda esbarra na subnotificação. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, entre 2021 e 2025 foram registrados 252 casos de Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (TMRT) no sistema de notificação de agravos (SINAN). Apenas 25 — o equivalente a 10% — foram relacionados diretamente à Síndrome de Burnout. O número, porém, é considerado subestimado.
 
Para tentar mudar esse cenário, o estado tem investido em capacitações e ações intersetoriais. O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) lidera iniciativas em parceria com sindicatos, ouvidorias, conselhos de saúde e o próprio MPT, com foco na identificação de fatores organizacionais nocivos à saúde dos trabalhadores.
 
Para Adriana Gondim, procuradora do Ministério Público do Trabalho em Pernambuco (MPT-PE), apesar dos canais de denúncia como o do MPT-PE, que aceita inclusive relatos anônimos, o medo ainda silencia muitos casos. “É comum o trabalhador se sentir culpado por adoecer, como se fosse uma falha individual. A cultura da produtividade a qualquer custo inibe a responsabilização das empresas”.
 
Por outro lado, novas gerações vêm redefinindo o que esperam do trabalho. Em Pernambuco, jovens profissionais rejeitam estruturas hierárquicas rígidas e ambientes tóxicos. Buscam relações laborais mais humanas, que conciliem propósito e bem-estar. Segundo a Associação Brasileira de Recursos Humanos em Pernambuco (ABRH-PE), empresas que não se adaptarem a essa mudança correm o risco de perder os talentos mais qualificados.
 
O Dia do Trabalhador deste ano, convida não apenas à celebração de conquistas históricas, mas à reflexão sobre os desafios contemporâneos do mundo do trabalho. 

Mais notícias

Acompanhe o Diario de Pernambuco no WhatsApp
Acompanhe as notícias da Xinhua