Saúde

Cuidados com as mãos são fundamentais para evitar acidentes e fraturas

Publicado em: 23/01/2019 20:49 | Atualizado em: 23/01/2019 21:07

Paulo dos Santos sofreu um acidente de trabalho quando trabalhava em uma fábrica. Crédito: Nando Chiappetta/DP

Elas são usadas quase em tempo integral, sobretudo depois do crescente uso de aparelhos celulares e computadores. As mãos são essenciais para a rotina produtiva e até mesmo de lazer, mas geralmente não se costuma cuidar muito delas. Um simples anel, por exemplo, multiplica as chances de uma lesão, contudo muita gente sequer sabe disso. Um reflexo dessa realidade é a quantidade de acidentes envolvendo essa parte do corpo no ambiente de trabalho. A cada 48 segundos, acontece um acidente de trabalho no Brasil. Um em cada três deles, de acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social, ocorrem nos membros superiores. Desses, seis em cada 10 acontecem com as mãos e punhos.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão mostram que 20% das urgências que chegam aos hospitais brasileiros envolve lesão nas mãos. “É um índice muito alto. A gente percebe que a questão da prevenção não funciona adequadamente. As mãos são estruturas completas, nobres, precisamos delas 24 horas por dia”, afirmou a médica especialista em cirurgia da mão e criadora do Instituto Help Your Hands, Etelvina Vaz.

Segundo ela, as lesões mais frequentes acontecem no setor da indústria, seguido pelo de construção civil. Segundo o Instituto Nacional de Seguro Social, as fraturas no punho e na mão lideraram o ranking das 20 principais causas de afastamento por acidentes e adoecimentos no trabalho em 2017, com mais de 22 mil casos registrados no país. Ferimentos na mão e punho, fraturas, luxações, entorses e distensões são as situações mais frequentes.

Com Marcos Santos, 27 anos, tudo aconteceu em alguns segundos. Quando chegou ao trabalho, ele sentou na cadeira para iniciar mais um dia de expediente e em seguida se virou para falar com um colega. Nesse momento, o equipamento tombou e ele caiu. Tentou colocou as mãos para se apoiar e teve uma luxação no dedo médio da mão direita. Foram sete dias afastado do serviço. Com Paulo Santos, 37, o prejuízo foi maior. “Trabalhava com uma máquina de fechar embalagens e me disseram que ela estava regulada. Quando fui usar, ela caiu em cima do meu dedo. Perdi parte da falange”, disse.

A professora do curso de segurança do trabalho no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) Bruna Flor afirma que os acidentes com maior gravidade são a amputação e o esmagamento, que podem acontecer com mais frequência em determinadas profissões, mas não só eles devem preocupar o trabalhador e as empresas. “Há também cortes em tendões e perfurações. Quando a gente pensa no assunto, sempre considera o pior cenário, mas há outros casos que podem gerar incapacidade, perda de movimento, perda da força, da agilidade. Isso tudo torna a vida mais difícil, tanto a profissional quanto a pessoal”, explica.

Por isso, é fundamental que haja uma ação dupla de conscientização. Por parte das empresas, seguindo normas de segurança, fazendo treinamentos e manutenção nos equipamentos. Por parte do trabalhador, também cumprindo as normas de segurança e redobrando a atenção.

Também se deve estar atento aos cuidados com a mão quando se se realizam serviços domésticos ou nas horas de lazer. Um dos acidentes mais graves, diz Etelvina, ocorre com anéis que ficam preso em algum lugar. “São lesões difíceis de reconstruir cirurgicamente, pois levam tendões, vasos, nervos. Muitas vezes não temos sucesso no reimplante. Orientamos retirar anéis, alianças, quando for fazer qualquer tipo de trabalho manual”, afirmou a médica.

Inflamações estão mais frequentes

Um dos tipos de lesões com as mãos que mais vem crescendo são as inflamações nos tendões, como a tendinite, sobretudo nos polegares. O uso recorrente de equipamentos eletrônicos, como computadores e telefones celulares, tem contribuído para essas estatísticas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão. A orientação para quem trabalha com intensidade com esse tipo de ferramenta é realizar pausas momentâneas nas atividades, alongamentos ao longo do horário de trabalho.

“As tendinites são inflamações nos tendões justamente por uma sobrecarga. Os tendões são responsáveis pela movimentação, dão a mobilidade às nossas mãos”, explicou Etelvina Vaz Segundo ela, qualquer pessoa pode desenvolver uma tendinite, mas aquelas que realizam trabalho de digitação constante estão mais propensas. E quem já teve uma crise, tem mais chances de voltar a ter novamente. “O que orientamos é realizar uma pausa de 15 a 20 minutos, fazer alongamentos, antes de retomar as atividades. Se sentir alguma dor, procurar um profissional para fazer uma avaliação”, disse.

Além da dor, o inchaço também é outro sinal de alerta. Em alguns casos, os mais graves, as tendinites podem levar a tratamento cirúrgico. Segundo Bruna Flor, há normativa específica que orienta as empresas a oferecer um ambiente ergonomicamente saudável. “É preciso observar se a mesa está na altura adequada, se a cadeira permite a manutenção da postura”, diz.
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