Saúde
Tese de doutorado da UFPE aponta psicoeducação no tratamento da bulimia nervosa
Pesquisadora Tatiana Bertulino analisou duas formas de tratamento: a terapia cognitivo-comportamental e a psicoeducação
Publicado em: 29/03/2017 17:19 Atualizado em:
A insatisfação corporal é muito comum, principalmente entre as adolescentes. Meninos e adultos também estão sujeitos. Na busca pelo corpo magro, o “ideal”, de acordo com os padrões de beleza da sociedade, transtornos alimentares, como a bulimina nervosa, anorexia nervosa e a compulsão alimentar, tornam-se frequentes. Para tratá-los, há diversos tipos de intervenções, que vão desde terapias até o uso de medicamentos.
Na tese de doutorado “Terapia cognitivo comportamental versus psicoeducação como tratamentos em adolescentes diagnosticados com bulimia nervosa”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento (Posneuro) da Universidade Federal de Pernambuco, a pesquisadora Tatiana Bertulino analisa duas dessas formas de tratamento: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a psicoeducação, que, além de fazer parte do tratamento na TCC, também é uma forma de prevenção e intervenção de apoio.
Orientado pelo professor Everton Botelho Sougey, o estudo revelou que os dois tratamentos demonstraram diminuição dos sintomas, contudo, a redução não pôde ser considerada significativa quando avaliada individualmente. Apesar disso, constatou-se que a psicoeducação pode, sim, ser utilizada como forma de tratamento em pacientes não crônicos, em um primeiro momento.
Diagnosticadas com sintomas de bulimia nervosa, 11 meninas, com idades entre 12 e 17 anos, participaram do ensaio clínico. Ao todo, 13 reuniões foram realizadas semanalmente e as adolescentes foram divididas em dois grupos: um grupo experimental, formado por seis meninas, tratadas com a psicoeducação; e um grupo de controle, composto por cinco adolescentes, no qual o tratamento realizado foi o de terapia cognitivo-comportamental. Variáveis como os sintomas de bulimia, comportamentos de compulsão alimentar e a insatisfação corporal foram analisadas. A autora do estudo ainda contou com o apoio de sete pessoas, entre terapeutas e outros profissionais da área de saúde, no acompanhamento dos grupos.
Na bulimia nervosa, normalmente, a insatisfação corporal é maior, porque, após episódios de compulsão alimentar, que ocorrem em um curto espaço de tempo, o paciente fica com sensação de culpa e, assim, busca métodos purgativos inadequados como indução de vômitos, jejuns e exercícios intensos para compensar. “Desde a minha graduação eu estudo transtornos alimentares e entre esses transtornos, a bulimia nervosa, justamente por ser um grupo de psicopatologia pouco conhecido e sofrer alguns preconceitos”, conta a pesquisadora.
Segundo Tatiana, de maneira geral, os transtornos alimentares ainda têm baixa adesão ao tratamento, devido a fatores como o diagnóstico tardio e as causas desconhecidas. “Além da insatisfação corporal, também há contribuição da genética, da personalidade e do meio social (família, mídia, escola,)”, explica. Em 2012, a pesquisadora Tatiana Bertulino defendeu sua dissertação de mestrado, cujo título é “Prevalência de sintomas de transtornos alimentares e insatisfação corporal em jovens recifenses”, também na Posneuro. Assim, ele pôde identificar que a prevalência de transtornos alimentares vem aumentando e, a partir disso, debruçar-se sobre uma forma de tratamento que não é a convencional.
CONHECIMENTO | Segundo o estudo, a terapia cognitivo-comportamental com psicólogo (somada ao acompanhamento médico psiquiátrico e clínico, além de nutricionista e apoio, principalmente, da família) ainda é considerada uma das formas mais eficientes no tratamento de transtornos alimentares, abordando fatores cognitivos, emocionais, comportamentais e interpessoais. Já a psicoeducação atua no sentido de esclarecer o transtorno ao paciente. Para isso, materiais audiovisuais, lúdicos e explanações podem ser utilizados.
Segundo a pesquisadora, estudos a respeito da psicoeducação no tratamento de transtornos alimentares ainda são raros, principalmente porque ela é muito utilizada com alguma outra intervenção. “A psicoeducação possui resultados muito bons nos mais variados transtornos, é algo que a prática clínica já estabeleceu, porém, por ser tão pouco reconhecida, poucos estudos se debruçaram sobre ela para saberem o quanto a psicoeducação sozinha é responsável pela melhora do indivíduo”, explica Tatiana Bertulino.
A pesquisadora conseguiu observar uma tendência de melhora maior no grupo experimental (psicoeducação) no que fiz respeito à insatisfação corporal. De acordo com o estudo, isso pode ter acontecido porque a psicoeducação está mais voltada para a melhora na satisfação com a própria percepção corporal, enquanto que a terapia cognitivo-comportamental está “focada na diminuição de comportamentos bulímicos e flexibilização dos pensamentos em relação ao comportamento alimentar”.
Quanto aos sintomas gerais da bulimia nervosa, o estudo apontou uma tendência de redução mais intensa no grupo experimental (32%) do que no grupo controle (19%). “A TCC atua nas crenças que a adolescente possui e os estudos ainda não afirmam se as crenças levam ao desenvolvimento do transtorno ou se é o próprio transtorno que constrói essas crenças.”
Sobre a diminuição da gravidade do transtorno, a tendência de redução foi maior no grupo grupo controle (TCC) (25%) do que no grupo experimental (14,5%).Quanto à compulsão alimentar, não houve modificação nos sintomas em nenhum dos grupos. A pesquisadora ainda explica que as adolescentes foram avaliadas a cada três ou quatro semanas para se ter uma visão melhor dos avanços. “Os estudos que somente realizam a avaliação no inicio e no final do tratamento não possuem informações intermediárias. Ao dividirmos esse estudo assim (em quatro tempos), nossa equipe de pesquisa conseguiu um número maior de dados”, afirma a autora da pesquisa.
O estudo conseguiu mostrar que a psicoeducação proporcionou um aumento da satisfação com a imagem corporal e pode ser uma importante aliada no tratamento de transtornos alimentares. “A psicoeducação é totalmente viável na saúde pública, pois, para este modelo de intervenção, o profissional de saúde não precisa ser hiper especializado”, conclui. Assim, as pacientes conseguiriam apoio mais rápido, uma vez que muitas ainda precisam ficar em filas de espera por falta de vagas com os profissionais especializados na área.
Da UFPE
Na tese de doutorado “Terapia cognitivo comportamental versus psicoeducação como tratamentos em adolescentes diagnosticados com bulimia nervosa”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento (Posneuro) da Universidade Federal de Pernambuco, a pesquisadora Tatiana Bertulino analisa duas dessas formas de tratamento: a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e a psicoeducação, que, além de fazer parte do tratamento na TCC, também é uma forma de prevenção e intervenção de apoio.
Orientado pelo professor Everton Botelho Sougey, o estudo revelou que os dois tratamentos demonstraram diminuição dos sintomas, contudo, a redução não pôde ser considerada significativa quando avaliada individualmente. Apesar disso, constatou-se que a psicoeducação pode, sim, ser utilizada como forma de tratamento em pacientes não crônicos, em um primeiro momento.
Diagnosticadas com sintomas de bulimia nervosa, 11 meninas, com idades entre 12 e 17 anos, participaram do ensaio clínico. Ao todo, 13 reuniões foram realizadas semanalmente e as adolescentes foram divididas em dois grupos: um grupo experimental, formado por seis meninas, tratadas com a psicoeducação; e um grupo de controle, composto por cinco adolescentes, no qual o tratamento realizado foi o de terapia cognitivo-comportamental. Variáveis como os sintomas de bulimia, comportamentos de compulsão alimentar e a insatisfação corporal foram analisadas. A autora do estudo ainda contou com o apoio de sete pessoas, entre terapeutas e outros profissionais da área de saúde, no acompanhamento dos grupos.
Na bulimia nervosa, normalmente, a insatisfação corporal é maior, porque, após episódios de compulsão alimentar, que ocorrem em um curto espaço de tempo, o paciente fica com sensação de culpa e, assim, busca métodos purgativos inadequados como indução de vômitos, jejuns e exercícios intensos para compensar. “Desde a minha graduação eu estudo transtornos alimentares e entre esses transtornos, a bulimia nervosa, justamente por ser um grupo de psicopatologia pouco conhecido e sofrer alguns preconceitos”, conta a pesquisadora.
Segundo Tatiana, de maneira geral, os transtornos alimentares ainda têm baixa adesão ao tratamento, devido a fatores como o diagnóstico tardio e as causas desconhecidas. “Além da insatisfação corporal, também há contribuição da genética, da personalidade e do meio social (família, mídia, escola,)”, explica. Em 2012, a pesquisadora Tatiana Bertulino defendeu sua dissertação de mestrado, cujo título é “Prevalência de sintomas de transtornos alimentares e insatisfação corporal em jovens recifenses”, também na Posneuro. Assim, ele pôde identificar que a prevalência de transtornos alimentares vem aumentando e, a partir disso, debruçar-se sobre uma forma de tratamento que não é a convencional.
CONHECIMENTO | Segundo o estudo, a terapia cognitivo-comportamental com psicólogo (somada ao acompanhamento médico psiquiátrico e clínico, além de nutricionista e apoio, principalmente, da família) ainda é considerada uma das formas mais eficientes no tratamento de transtornos alimentares, abordando fatores cognitivos, emocionais, comportamentais e interpessoais. Já a psicoeducação atua no sentido de esclarecer o transtorno ao paciente. Para isso, materiais audiovisuais, lúdicos e explanações podem ser utilizados.
Segundo a pesquisadora, estudos a respeito da psicoeducação no tratamento de transtornos alimentares ainda são raros, principalmente porque ela é muito utilizada com alguma outra intervenção. “A psicoeducação possui resultados muito bons nos mais variados transtornos, é algo que a prática clínica já estabeleceu, porém, por ser tão pouco reconhecida, poucos estudos se debruçaram sobre ela para saberem o quanto a psicoeducação sozinha é responsável pela melhora do indivíduo”, explica Tatiana Bertulino.
A pesquisadora conseguiu observar uma tendência de melhora maior no grupo experimental (psicoeducação) no que fiz respeito à insatisfação corporal. De acordo com o estudo, isso pode ter acontecido porque a psicoeducação está mais voltada para a melhora na satisfação com a própria percepção corporal, enquanto que a terapia cognitivo-comportamental está “focada na diminuição de comportamentos bulímicos e flexibilização dos pensamentos em relação ao comportamento alimentar”.
Quanto aos sintomas gerais da bulimia nervosa, o estudo apontou uma tendência de redução mais intensa no grupo experimental (32%) do que no grupo controle (19%). “A TCC atua nas crenças que a adolescente possui e os estudos ainda não afirmam se as crenças levam ao desenvolvimento do transtorno ou se é o próprio transtorno que constrói essas crenças.”
Sobre a diminuição da gravidade do transtorno, a tendência de redução foi maior no grupo grupo controle (TCC) (25%) do que no grupo experimental (14,5%).Quanto à compulsão alimentar, não houve modificação nos sintomas em nenhum dos grupos. A pesquisadora ainda explica que as adolescentes foram avaliadas a cada três ou quatro semanas para se ter uma visão melhor dos avanços. “Os estudos que somente realizam a avaliação no inicio e no final do tratamento não possuem informações intermediárias. Ao dividirmos esse estudo assim (em quatro tempos), nossa equipe de pesquisa conseguiu um número maior de dados”, afirma a autora da pesquisa.
O estudo conseguiu mostrar que a psicoeducação proporcionou um aumento da satisfação com a imagem corporal e pode ser uma importante aliada no tratamento de transtornos alimentares. “A psicoeducação é totalmente viável na saúde pública, pois, para este modelo de intervenção, o profissional de saúde não precisa ser hiper especializado”, conclui. Assim, as pacientes conseguiriam apoio mais rápido, uma vez que muitas ainda precisam ficar em filas de espera por falta de vagas com os profissionais especializados na área.
Da UFPE
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS