Inundação
Chuva deixa rastro de lixo em Olinda
Móveis estragados pela água e pela lama se amontoam nas esquinas da cidade
Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco
Publicado em: 02/06/2016 18:15 Atualizado em: 03/06/2016 08:50
![]() | |
Móveis se amontoam nas ruas dos bairros afetados pelas inundações em Olinda. Foto: Mariana Fabrício/DP |
O medo constante de perder móveis, eletrodomésticos, documentos e outros objetos pessoais faz parte da rotina de centenas de famílias moradoras de Olinda. Na última segunda-feira, elas viram suas casas inundadas. Mais de 100 moradores, de acordo com a prefeitura da cidade, ficaram desabrigados depois que a lama invadiu as ruas dos bairros de Jardim Fragoso, Rio Doce e Jardim Atlântico, principalmente. Depois do pesadelo, resta às famílias tirar da lama o que a água não levou. Montes de guarda-roupas, fogões, colchões e roupas estão em várias ruas dos bairros mais afetados.
A porteira Elisete Viscente, de 54 anos, precisou alugar um quarto para ficar com seus dois filhos enquanto a casa dela, na rua Belo Horizonte, em Rio Doce, está revirada. "Foi tudo muito rápido. Perdemos televisão, geladeira, fogão, liquidificador, roupas, documentos. Tudo a água levou e o que ficou está cheio de lama", conta. Elisete aproveitou que a energia e a água voltaram na região, após três dias, para começar a limpeza.
"Acordei às 5h da manhã e quando botei o pé no chão vi que já tinha água. Às 7h já não dava para recuperar mais nada. Veio rato, cobra, até uma tartruga apareceu na nossa sala. Se a gente ficasse, a água iria nos cobrir. Parecia cena de filme de terror", relata a autônoma Flávia Patrícia, 31, filha de Elisete. Além do desespero, veio a preocupação, já que as casas abandonadas foram invadidas por assaltantes. "Deixamos uma gaveta com as roupas para levar em cima do muro. Quando voltei, já não estava lá. Precisamos vir todos os dias em casa, mesmo sem condições, para verificar se o que ainda estava aqui não tinha sido roubado. Infelizmente, Olinda está entregue. Só resta trabalhar mais para comprar tudo de novo", reclama.
Em Jardim Fragoso, a dona de casa Rosineide Oliveira, 63, se preocupa com a previsão de mais chuva. "Estão dizendo que vem uma tempestade pior. Se vier, como a gente fica?", se pergunta enquanto estende as roupas molhadas de lama. "O que a chuva estragou eu já joguei fora. Agora preciso secar essas roupas porque nem água chegou depois do temporal", diz.
![]() | |
Aos poucos, os moradores tentam voltar à rotina após o temporal do começo desta semana. Foto: Mariana Fabrício/DP |
Uma das maiores queixas da população é de que a obra de revestimento do canal na Bacia do Fragoso II, da PE 15 até Jardim Atlântico, estaria piorando os alagamentos. A construção começou em 2013 e, apesar do prazo inicial de ser concluído em 18 meses, a atual previsão é que só termine no final de 2018, de acordo com a Secretaria de Habitação do Governo do Estado.
"Moro aqui há mais de 40 anos e nunca vi chegar nessa situação. Moro uma rua atrás do canal e com certeza é por causa dessa obra. A gente não sabe nem quando vai acabar e fica nessa incerteza. Perdi uma impressora nova, de R$ 300 que dei a minha filha, e muitos móveis. Aqui todo mundo perdeu alguma coisa", conta a cabelereira Sandra Ferreira, de 42 anos, moradora da rua Rua Frei Querubim, próximo à Bacia do Fragoso.
Em entrevista ao Diario, o Secretário de Habitação de Pernambuco, Marcos Baptista, afirmou que a obra não afeta na inundação da localidade. "Esta obra acontece justamente para acabar com os alagamentos na região, que já é uma reivindicação da população há décadas. Essa foi a maior chuva que caiu na região desde 2011, provocando esse cenário", explica.
![]() | |
Moradores culpam obra em canal pela grande inundação em Olinda. Foto: Mariana Fabrício/DP |
O valor total inicial da obra superou R$ 72 milhões, oriundo dos cofres estadual e federal. A justificativa para o atraso, segundo o secretário, foi a fase inicial de desapropiação, além da parte de engenharia entre a Via Metropolitana Norte e o Fragoso II. Sobre a falta de trabalhadores no local, Baptista contou que nos meses de chuva há uma redução de trabalho que só retoma à normalidade em períodos de sol.
Quanto à limpeza dos entulhos, o secretário de Serviços Públicos de Olinda, Manoel Sátiro, disse que o trabalho de recolhimento começou nesta quinta-feira e para qualquer solicitação ou reclamação, a população pode entrar em contato pelo 3429-0866. Já para quem deseja ajudar os moradores com doações, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Cidadania e Direitos Humanos está recolhendo os donativos na Avenida Getúlio Vargas, número 536. As informações pode ser pelo teleone 3429-6777.
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS