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Aniversário Ginásio Pernambucano faz 190 anos unindo tradição e inovação Mais antigo colégio do Brasil investe na modernização e educação dos alunos

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 08/02/2015 14:00 Atualizado em: 09/02/2015 14:35

Ginásio Pernambucano na década de 1950 e atualmente. Foto: Arlindo Marinho/Aquivo e Paulo Paiva/DP/D.A.Press. (Arlindo Marinho/DP/D.A Press/Aquivo e Paulo Paiva/DP/D.A.Press)
Ginásio Pernambucano na década de 1950 e atualmente. Foto: Arlindo Marinho/Aquivo e Paulo Paiva/DP/D.A.Press.
A instituição de ensino mais antiga em atividade do país fica no coração do Recife. Às margens do Rio Cabibaribe, na Rua da Aurora, o Ginásio Pernambucano chega em 2015 aos 190 anos procurando se modernizar, mas mantendo a tradição. Pelas bancas da unidade de ensino já passaram ilustres estudantes, como os escritores Clarice Lispector e Ariano Suassuna, o economista Celso Furtado, o historiador Amaro Quintas e até um presidente da República: Epitácio Pessoa, que governou o país entre 1919 e 1922.

Hoje, o colégio é referência no estado por ter sido o primeiro da rede pública a implementar o ensino integral, em 2004. Diariamente, 700 alunos e 29 professores passam pelos corredores já visitados pelo imperador Dom Pedro 2 em 1859. “Com uma história rica, o Ginásio Pernambucano se tornou referência em meados da década de 1950, quando viveu seu ápice. A marca da escola era a rigidez. Tanto a seleção para ingressar como as provas eram bastante rigorosas. O colégio tinha orgulho da severidade e por ter os melhores alunos do estado”, conta o historiador Geraldo Barroso Filho, autor do livro O Ginásio Pernambucano nos anos 1950.


Socorro Lopes estudou no GP na década de 1970 e hoje é professora. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press (Paulo Paiva/DP/D.A.Press)
Socorro Lopes estudou no GP na década de 1970 e hoje é professora. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Ex-aluna, agora professora
Quando Socorro Lopes, 57, foi selecionada para estudar no Ginásio Pernambucano, as primeiras turmas mistas do colégio estavam sendo abertas. Até o início da década de 1950, a escola só aceitava alunos do sexo masculino. Os professorest eram todos homens. As meninas só começaram a frequentar a instituição de ensino em 1955, mas em turmas exclusivamente femininas. Elas iam ao colégio no turno da tarde, enquanto os alunos estudavam de manhã ou à noite.

As turmas “misturadas” só surgiram em 1970, ano em que Socorro ingressou no Ginásio Pernambucano. “Viver aqui como estudante era um sonho realizado por poucos. O colégio sempre foi referência e nos dava muito orgulho”, lembra. A vontade de permanecer na escola foi tão grande que ela, depois de formada em química, voltou ao colégio como professora. “Já estou aqui desde 2004, quando implementamos o ensino integral. O brio que eu tinha como estudante foi substituído pelo orgulho de ser professora nesta escola”, revela.

Suany (esq.) e Rebeka (dir.) firmaram amizade na década de 1990. Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press (Teresa Maia/DP/D.A.Press)
Suany (esq.) e Rebeka (dir.) firmaram amizade na década de 1990. Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press
Amizades para a vida toda
Os corredores do Ginásio Pernambucano foram palco dos primeiros encontros de amigos e casais que mantiveram as relações mesmo depois da conclusão dos estudos. Foi o que aconteceu com a advogada Suany Dias Gomes, 36, e a professora Rebeka Abreu, 37. A amizade entre elas começou na escola, onde estudaram de 1992 a 1997. O contato permaneceu depois do fim das aulas. “O GP foi muito importante na minha vida. Foi onde fiz grandes amigos e onde encontrei o meu marido”, afirma Suany.

Ela começou a namorar com o funcionário público Karllos Gomes, 36, no colégio. O casal oficializou a união há 9 anos. “O Ginásio é uma escola para a vida. Aprendi não só os conteúdos, mas lições para a vida além de ter feito grandes amigos. Escolhi ser professora graças à influência dos bons mestres que tive lá”, confessa Rebeka. “Nossos amigos do colégio se encontram até hoje. Alguns vêm do interior só para nos reunirmos. Somos uma grande família”, diz Suany.  


Jackson concluiu o ensino médio no Ginásio Pernambucano e passou no vestibular da UPE. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press (Paulo Paiva/DP/D.A.Press)
Jackson concluiu o ensino médio no Ginásio Pernambucano e passou no vestibular da UPE. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Qualidade de ensino reconhecida
Na década de 1990, o Ginásio Pernambucano, na época chamado de Colégio Pernambucano, foi da glória à ruína. Ao entrar em decadência, a escola foi fechada por conta das péssimas condições de infraestrutura. Foi quando um grupo de empresários - liderados pelo ex-aluno e então presidente da Philips do Brasil e América Latina, Marcos Magalhães - decidiu recuperar a estrutura física do prédio. Uma renovação na gestão da instituição foi iniciada. Em 2004, a unidade de ensino foi pioneira num modelo de ensino médio integral.

O projeto pedagógico foi copiado em outras escolas do estado além de replicado em redes de ensino do Ceará, Rio de Janeiro, Sergipe e Piauí. Os resultados foram sentidos imediatamente, e os alunos voltaram a se destacar nos vestibulares. “O corpo docente é muito bem preparado. Minha mãe não tinha condições de pagar um cursinho para mim. Passei no vestibular com os conhecimentos adquiridos no GP”, destaca o estudante Jackson Almeida, 17 anos. Ele ingressou no novo Ginásio Pernambucano e foi aprovado no Vestibular 2015 da Universidade de Pernambuco (UPE) para cursar administração.

Mayara estuda no colégio mais antigo do país, seguindo os passos dos pais. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press (Paulo Paiva/DP/D.A.Press)
Mayara estuda no colégio mais antigo do país, seguindo os passos dos pais. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press
Inovação e tecnologia para estudantes
Mesmo com o peso de uma história de quase dois séculos, o Ginásio Pernambucano procura se modernizar a cada ano letivo iniciado. Sala de aula com robótica, clube de tecnologia, laboratório de informática são alguns dos espaços que contrastam com o acervo centenário de livros na biblioteca. A modernização da escola atrai os estudantes cada vez mais conectados. O colégio oferece ainda disciplinas eletivas de acordo com as áreas de interesse dos alunos.

Os estudantes com afinidades comuns formam grupos, mesmo não sendo da mesma turma ou tendo a mesma idade. “Meus pais estudaram aqui numa época muito diferente. Hoje eu tenho aulas de robótica, participei de projetos de mini-empresa e mediação de conflitos além de participar do clube de tecnologia. Sou apaixonada pelas atividades que o colégio oferece”, ressalta a estudante do 3º ano do ensino médio Mayara Oliveira, 15 anos.

Saiba Mais:

O Ginásio Pernambucano na história

Fundado em 1825 com o nome de Liceu Provincial de Pernambuco

Passou a se chamar Ginásio Pernambucano em 1855

Mudou-se da Rua Gervásio Pires para a Rua da Aurora em 1866

O prédio na Rua da Aurora foi projetado pelo engenheiro José Mamede Alves

Em 1859, recebeu visita do imperador Dom Pedro 2

Mudou de nome para Instituto Benjamim Constant em 1893

Voltou a ser chamado de Ginásio Pernambucano em 1899

O nome foi alterado para Colégio Pernambucano em 1942

Só voltou a ser denominado Ginásio Pernambucano em dezembro de 1974

Até o início da década de 1950, só aceitava alunos do sexo masculino

As primeiras turmas femininas só foram criadas em 1955

Turmas mistas, formadas por alunos de ambos os sexos, só surgiram em 1970

Estudaram no Ginásio Pernambucano…
Clarice Lispector, Claudionor Germano, Ariano Suassuna e Celso Furtado estudaram no Ginásio Pernambucano (Montagem de imagens: Alexandre Gondim/DP/D.A.Press; Arquivo DP e Reprodução da Internet)
Clarice Lispector, Claudionor Germano, Ariano Suassuna e Celso Furtado estudaram no Ginásio Pernambucano

Amaro Quintas, historiador e advogado
Ariano Suassuna, escritor
Celso Furtado, economista
Clarice Lispector, escritora
Claudionor Germano, cantor
Epitácio Pessoa, presidente do Brasil entre 1919 e 1922
Valdemar de Oliveira, médico e teatrólogo

Fontes: Fundação Joaquim Nabuco e historiador Geraldo Barroso Filho



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