Aniversário
Ginásio Pernambucano faz 190 anos unindo tradição e inovação
Mais antigo colégio do Brasil investe na modernização e educação dos alunos
Por: Anamaria Nascimento
Publicado em: 08/02/2015 14:00 Atualizado em: 09/02/2015 14:35
Ginásio Pernambucano na década de 1950 e atualmente. Foto: Arlindo Marinho/Aquivo e Paulo Paiva/DP/D.A.Press. |
Hoje, o colégio é referência no estado por ter sido o primeiro da rede pública a implementar o ensino integral, em 2004. Diariamente, 700 alunos e 29 professores passam pelos corredores já visitados pelo imperador Dom Pedro 2 em 1859. “Com uma história rica, o Ginásio Pernambucano se tornou referência em meados da década de 1950, quando viveu seu ápice. A marca da escola era a rigidez. Tanto a seleção para ingressar como as provas eram bastante rigorosas. O colégio tinha orgulho da severidade e por ter os melhores alunos do estado”, conta o historiador Geraldo Barroso Filho, autor do livro O Ginásio Pernambucano nos anos 1950.
Socorro Lopes estudou no GP na década de 1970 e hoje é professora. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press |
Quando Socorro Lopes, 57, foi selecionada para estudar no Ginásio Pernambucano, as primeiras turmas mistas do colégio estavam sendo abertas. Até o início da década de 1950, a escola só aceitava alunos do sexo masculino. Os professorest eram todos homens. As meninas só começaram a frequentar a instituição de ensino em 1955, mas em turmas exclusivamente femininas. Elas iam ao colégio no turno da tarde, enquanto os alunos estudavam de manhã ou à noite.
As turmas “misturadas” só surgiram em 1970, ano em que Socorro ingressou no Ginásio Pernambucano. “Viver aqui como estudante era um sonho realizado por poucos. O colégio sempre foi referência e nos dava muito orgulho”, lembra. A vontade de permanecer na escola foi tão grande que ela, depois de formada em química, voltou ao colégio como professora. “Já estou aqui desde 2004, quando implementamos o ensino integral. O brio que eu tinha como estudante foi substituído pelo orgulho de ser professora nesta escola”, revela.
![]() | |
Suany (esq.) e Rebeka (dir.) firmaram amizade na década de 1990. Foto: Teresa Maia/DP/D.A.Press |
Os corredores do Ginásio Pernambucano foram palco dos primeiros encontros de amigos e casais que mantiveram as relações mesmo depois da conclusão dos estudos. Foi o que aconteceu com a advogada Suany Dias Gomes, 36, e a professora Rebeka Abreu, 37. A amizade entre elas começou na escola, onde estudaram de 1992 a 1997. O contato permaneceu depois do fim das aulas. “O GP foi muito importante na minha vida. Foi onde fiz grandes amigos e onde encontrei o meu marido”, afirma Suany.
Ela começou a namorar com o funcionário público Karllos Gomes, 36, no colégio. O casal oficializou a união há 9 anos. “O Ginásio é uma escola para a vida. Aprendi não só os conteúdos, mas lições para a vida além de ter feito grandes amigos. Escolhi ser professora graças à influência dos bons mestres que tive lá”, confessa Rebeka. “Nossos amigos do colégio se encontram até hoje. Alguns vêm do interior só para nos reunirmos. Somos uma grande família”, diz Suany.
Jackson concluiu o ensino médio no Ginásio Pernambucano e passou no vestibular da UPE. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press |
Na década de 1990, o Ginásio Pernambucano, na época chamado de Colégio Pernambucano, foi da glória à ruína. Ao entrar em decadência, a escola foi fechada por conta das péssimas condições de infraestrutura. Foi quando um grupo de empresários - liderados pelo ex-aluno e então presidente da Philips do Brasil e América Latina, Marcos Magalhães - decidiu recuperar a estrutura física do prédio. Uma renovação na gestão da instituição foi iniciada. Em 2004, a unidade de ensino foi pioneira num modelo de ensino médio integral.
O projeto pedagógico foi copiado em outras escolas do estado além de replicado em redes de ensino do Ceará, Rio de Janeiro, Sergipe e Piauí. Os resultados foram sentidos imediatamente, e os alunos voltaram a se destacar nos vestibulares. “O corpo docente é muito bem preparado. Minha mãe não tinha condições de pagar um cursinho para mim. Passei no vestibular com os conhecimentos adquiridos no GP”, destaca o estudante Jackson Almeida, 17 anos. Ele ingressou no novo Ginásio Pernambucano e foi aprovado no Vestibular 2015 da Universidade de Pernambuco (UPE) para cursar administração.
Mayara estuda no colégio mais antigo do país, seguindo os passos dos pais. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A.Press |
Mesmo com o peso de uma história de quase dois séculos, o Ginásio Pernambucano procura se modernizar a cada ano letivo iniciado. Sala de aula com robótica, clube de tecnologia, laboratório de informática são alguns dos espaços que contrastam com o acervo centenário de livros na biblioteca. A modernização da escola atrai os estudantes cada vez mais conectados. O colégio oferece ainda disciplinas eletivas de acordo com as áreas de interesse dos alunos.
Os estudantes com afinidades comuns formam grupos, mesmo não sendo da mesma turma ou tendo a mesma idade. “Meus pais estudaram aqui numa época muito diferente. Hoje eu tenho aulas de robótica, participei de projetos de mini-empresa e mediação de conflitos além de participar do clube de tecnologia. Sou apaixonada pelas atividades que o colégio oferece”, ressalta a estudante do 3º ano do ensino médio Mayara Oliveira, 15 anos.
Saiba Mais:
O Ginásio Pernambucano na história
Fundado em 1825 com o nome de Liceu Provincial de Pernambuco
Passou a se chamar Ginásio Pernambucano em 1855
Mudou-se da Rua Gervásio Pires para a Rua da Aurora em 1866
O prédio na Rua da Aurora foi projetado pelo engenheiro José Mamede Alves
Em 1859, recebeu visita do imperador Dom Pedro 2
Mudou de nome para Instituto Benjamim Constant em 1893
Voltou a ser chamado de Ginásio Pernambucano em 1899
O nome foi alterado para Colégio Pernambucano em 1942
Só voltou a ser denominado Ginásio Pernambucano em dezembro de 1974
Até o início da década de 1950, só aceitava alunos do sexo masculino
As primeiras turmas femininas só foram criadas em 1955
Turmas mistas, formadas por alunos de ambos os sexos, só surgiram em 1970
Estudaram no Ginásio Pernambucano…
Clarice Lispector, Claudionor Germano, Ariano Suassuna e Celso Furtado estudaram no Ginásio Pernambucano |
Amaro Quintas, historiador e advogado
Ariano Suassuna, escritor
Celso Furtado, economista
Clarice Lispector, escritora
Claudionor Germano, cantor
Epitácio Pessoa, presidente do Brasil entre 1919 e 1922
Valdemar de Oliveira, médico e teatrólogo
Fontes: Fundação Joaquim Nabuco e historiador Geraldo Barroso Filho
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS