Pernambuco e o Japão Oliveira Lima, a embaixada brasileira em Tóquio e a imigração japonesa no Brasil (1)

Rafael Cavalcanti Lemos
Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco

Publicado em: 28/01/2021 03:00 Atualizado em: 29/01/2021 07:46

Encontra-se na praça recifense Governador Paulo Guerra um marco alusivo aos cem anos, em 2008, de imigração japonesa ao Brasil.

Muitos conhecem dentre nós o Japão apenas como o país da delicadeza e da tecnologia. Um país distante. Fisicamente distante embora, histórica e culturalmente mais próximo dos pernambucanos do que se ordinariamente concebe.

Há na capital pernambucana uma Associação Cultural Japonesa (ACJR) fundada em 1972, ali funcionando a Escola de Língua Japonesa do Recife, atualmente com aulas on-line para todas as idades. A ACJR promove todo ano no bairro do Recife Antigo a Feira Japonesa do Recife, que teve a sua 24ª edição em 2020 (apenas on-line em razão da pandemia do novo coronavírus).

Desde 2018 o Consulado-Geral do Japão no Recife, cuja área de atuação abrange quase todo o Nordeste (exceto Maranhão e Piauí), coopera, ofertando treinamento, com a Polícia Militar de Pernambuco na implementação do policiamento comunitário “k%u014Dban” em nosso estado: pequenas unidades policiais de bairro buscando aproximar-se das comunidades em que instaladas por meio de atividades conjuntas (o que aumenta a confiança da sociedade civil nos policiais militares) além de patrulhas a pé e visitas (sendo deste modo mais rápido o atendimento em situações de emergência).

Foi Hermilo Borba Filho, pernambucano de Palmares (cidade natal de minha mãe, Dorinha, antes de que houvesse sido criado o município de Joaquim Nabuco), quem redigiu o prefácio de Lendas do Japão, de Kikuo Furuno, livro impresso em Tóquio com distribuição no Brasil, traduzido ao português por José Yamashiro. Conta-nos Hermilo: “Naquele distante ano de 1927, em Palmares, uma cidade açucareira na zona sul de Pernambuco, um casal de italianos que havia enriquecido soldando tachos viajou para a Itália e voltou, passados alguns meses, com uma porção de novidades para nossos olhos de crianças fechadas entre o rio e as montanhas.

Havia uns cartões-postais com mulheres de olhos repuxados à sombra de cerejeiras, casas esquisitas meio parecidas com bolos de noiva e guerreiros de má catadura, grandes espadas à cinta: era o Japão. Depois, nos acostumamos a ouvir nomes complicados e sem grande significação aparente: samurai, ‘gueisha’, haraquiri. Todas estas palavras, porém, estavam carregadas de uma atmosfera poética e nos transportavam para uma terra de legenda. Chegamos a improvisar brincadeiras de aventuras onde os japoneses entravam por conta de uma fita em série que estava sendo levada no cineminha local: O homem dos olhos de vidro. Com o passar dos anos aprendemos que o Japão era uma nação tão importante quanto outras, porém jamais conseguimos esquecer o halo poético que envolvia aquelas palavras aprendidas na primeira infância”.

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