Há 199 anos, em 5 de outubro de 1821, era assinada em Pernambuco a chamada Convenção de Beberibe, documento pacificador resultante de um processo histórico ainda desconhecido por muitos, mas que fez Pernambuco tornar-se autônomo, governando-se a si mesmo, sem dar satisfações a Portugal ou ao Rio de Janeiro, onze meses antes do Grito do Ipiranga.

Os antecedentes históricos desse movimento emancipatório guardam relação estreita com a Revolução do Porto, conflagração iniciada na cidade portuguesa de mesmo nome, em agosto de 1820, que reivindicava uma Constituição escrita, com a criação das chamadas Cortes Constituintes, e o regresso de Dom João VI a Portugal, reestabelecendo-se o pacto colonial com o Brasil em todos os seus termos.

Em 29 de agosto de 1821, na Vila de Goiana, um segmento das elites pernambucanas instalou uma Junta Governativa Provisória, com o objetivo de aderir à política das Cortes Constitucionais portuguesas e desautorizar o governo do representante maior do monarca em Pernambuco, o governador Luiz do Rego Barreto, algoz da Revolução Pernambucana de 1817. Durante quase um mês, a Junta de Goiana coexistiu com o Conselho Governativo do Recife, presidido pelo General Rego Barreto, ao ponto de as desavenças acentuarem-se e o conflito armado tornar-se inevitável.

A pacificação do confronto foi acertada por Gervásio Pires Ferreira e Francisco de Paula Cavalcante de Albuquerque, com a assinatura da Convenção, no local onde hoje está situado o bairro de Beberibe, região entre o Recife e Olinda, no qual as forças arregimentadas pela Junta de Goiana estacionaram, com o propósito de atacarem as forças de Rego Barreto, vindas do Recife.

Ambas as partes concordaram que fosse convocada uma nova eleição de uma única Junta Governativa em Pernambuco, decidindo-se pelo retorno imediato de Rego Barreto a Portugal, que partiu em 26 de outubro de 1821, com familiares e alguns portugueses que residiam em Pernambuco. Gervásio Pires foi eleito presidente da Junta, que foi chamada pelo povo de Junta Democrática e Independente. Eis o resultado deste movimento que se iniciou em Goiana aos 29 de agosto de 1821 e encerrou-se com a Convenção de Beberibe, no dia 5 do mês de outubro: bem antes do 7 de setembro, a independência já aportava em Pernambuco, que passou, por conta própria, a deliberar os seus assuntos internos e a modular a sua relação com Portugal, sede do Reino, que, neste solo, já perdia a condição de metrópole.

Daqui a um ano, estaremos comemorando o bicentenário deste fato histórico. Trazê-lo ao conhecimento de todos está na ordem do dia. Salve a Convenção!