Educação sanitária em tempos de pandemia

Liziê Franco
Sanitarista e trabalha no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE)

Publicado em: 18/07/2020 03:00 Atualizado em: 18/07/2020 07:13

O cenário da pandemia decorrente do novo coronavírus nos submete à reflexão e preocupação com a promoção em saúde. A adoção de medidas simples de cuidado em saúde, principalmente, relacionadas ao combate da doença tem significativo impacto no curso da pandemia. O país em plena ascensão de casos da Covid-19 e longe de alcançar o pico da curva opta por reabertura gradual da economia devido à pressão por parte dos empresários, ainda que desprovido de um plano nacional de diretrizes sanitárias unificadas. Logicamente, cada estado e região têm suas particularidades, mas um planejamento estratégico nortearia as decisões em conjunto ou isoladas.

A escassez de políticas públicas efetivas em saúde por parte do governo federal, através de testagem na população em massa, na qual teríamos a possibilidade de rastrear a pandemia, como também ausência de uma política de promoção à saúde, reflete diretamente no aumento do número de casos. É desafiador o momento, pois uma parte da população não se mostra receptiva às orientações sanitárias propostas pelas autoridades de saúde. Historicamente, podemos citar  em 1930. A educação e saúde estavam intimamente integradas entre si e o ministério criado no mesmo ano chamava-se Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP). Em 1941, foi criado o Sistema Nacional de Educação Sanitária (SNES), órgão responsável na elaboração e supervisão de atividades destinadas à educação sanitária.

As atividades de rotina eram a divulgação de educação sanitária com o apoio do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O SNES apostou em publicações de folhetos, cartilhas ilustrativas, realização de palestras via rádio, conferências em escolas, filmes, além da coordenação de propagandas sanitárias. Momento este que a saúde passou a ser vista como uma questão pedagógica. O conceito principal era a higiene que orientava as políticas, contribuindo para práticas preventivas. Passados quase oito décadas desse modelo ora já arquivado, podemos nos submeter à análise criteriosa dessa estratégia em saúde visto a atual e célere pandemia do novo coronavírus e a necessidade obrigatória do convívio com o vírus.  Estamos vivenciando um novo paradigma. A educação sanitária torna-se fundamental, porque não dizer prioritária.

Considerando as diferentes regiões do país com diferenciados perfis demográficos, crenças pessoais, culturais e sociais que influenciam nas escolhas do indivíduo no seu modo de cuidar de si e da coletividade. A interiorização dos casos de Covid-19, onde as diferenças sociais são desumanas, em algumas regiões do país, observa-se a escassez ou inexistência do alcance à informação e à qualidade com que ela chega. Manifestam-se questionamentos nesse sentido: De que forma promover saúde a populações que não têm acesso à internet? As estratégias de promoção em saúde precisam está consolidadas em propostas pedagógicas e enfatizadas na atenção primária à saúde para a construção de um pensamento reflexivo e crítico nas populações, produzindo dessa forma significado e sentido para as recomendações repetitivas de higienização das mãos, distanciamento social e uso de equipamentos de proteção individual, como máscaras mitigando assim os efeitos drásticos do coronavírus.  

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