E o Nordeste, vai crescer bem?

Alexandre Rands
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 08/02/2020 03:00 Atualizado em: 08/02/2020 08:22

As perspectivas de crescimento da economia brasileira, pouco acima de 2,0% agora em 2020, são bem conhecidas. O Boletim Focus do Banco Central na semana passada trouxe uma média de 2,3% para este ano e de 2,5% para os três anos subsequentes. Essa última é a taxa de equilíbrio que os economistas supõem que o Brasil é capaz de crescer sem se entregar a sobressaltos. O FMI, por sua vez, em janeiro, anunciou previsões de 2,2% neste ano. Com aumento para 2,3% e 2,4% nos próximos anos. Essas taxas são abaixo do que essa instituição prevê para o mundo, sempre acima de 3,4% nos próximos anos. Diante desse cenário, o que se pergunta é se o Nordeste vai conseguir acompanhar o Brasil ou mesmo superá-lo nos próximos anos. Apesar de ter havido um aumento da proporção do PIB nordestino em relação ao brasileiro desde 2002, ele foi bem pequeno. Tanto que nosso PIB passou de um total de 13,9% para 14,5% do PIB nacional em 2019. Essa é uma variação muito pequena.

Na semana passada vimos que uma série de restrições atualmente inibem o crescimento do PIB brasileiro a taxas elevadas. Como elas são de ordem institucional ou cultural, também se estendem ao Nordeste. Ou seja, nossa região também tem dificuldades para crescer rápido. Uma dessas restrições vem de uma ética católica atrasada (os protestantes no Brasil possuem a mesma ética) e um poder institucional muito forte dos governantes nas diversas esferas de poder. Por mais que o ministro da economia tente reduzir um pouco esse poder, e equilibrar mais as relações, os desejos sempre esbarram no Legislativo, principalmente agora, às vésperas de eleições. Além disso, vale observar que essa ética católica exagerada e a visão de que a sociedade é produto do Estado é bem mais forte no Nordeste. Os italianos e alemães vieram para o Brasil com concepções um pouco diferentes. E eles não vieram muito para o Nordeste.

Além disso, o governo atual já está reduzindo as políticas sociais. Como consequência, a região mais pobre está recebendo menos transferências do setor público. Espera-se que, eventualmente, até as regras de distribuição de recursos via Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e Fundo de Participação dos Estados (FPE) sejam alteradas e levem a mais redução nos superávits da região. Ou seja, o governo deverá contribuir ainda mais para reduzir as perspectivas da região em relação ao resto do Brasil. Diante desses dois componentes, mais presença de elementos inibidores aqui e menor atuação do setor público para reduzir as disparidades regionais, o Nordeste deverá crescer menos nos próximos anos.

Entretanto, há um determinante de longo prazo que poderá redimir a região. A expansão dos investimentos em educação nos últimos mais de 20 anos levou a uma redução no gap de educação entre o Nordeste e resto do Brasil. Enquanto em 1998 a proporção dos anos médios de estudo do Nordeste para a média nacional era de apenas 73,5%, essa proporção se elevou para 84,9% em 2018. Obviamente, isso foi conseguido a custos sérios da qualidade. Mas expansão rápida assim sempre está sujeita a esse tipo de problema em qualquer lugar do mundo. Nos próximos anos deverá haver um amadurecimento da educação na região e isso deverá reduzir os empecilhos ao nosso crescimento nos próximos anos. Ou seja, há ainda uma luz no fim do túnel, mas ela não nos iluminará nos próximos poucos anos.

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