Se chegaste aos 45 anos, sorria, pois serás mais feliz doravante

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 25/01/2020 03:00 Atualizado em: 27/01/2020 09:04

Recentemente vários estudos econômicos têm se dedicado a identificar os momentos da vida em que nós humanos somos mais felizes. Eles têm utilizado várias enquetes, realizadas em vários países no mundo, em que as pessoas avaliam seu próprio nível de felicidade ou satisfação. Tais estudos analisam a relação entre felicidade ou satisfação com vários possíveis determinantes, como nível de renda, situação no mercado de trabalho, status matrimonial, gênero, nível de instrução e idade. Métodos estatísticos permitem isolar o efeito de cada um desses determinantes. A partir de tais métodos, é possível estimar a relação entre idade e nível de felicidade. Entre esses estudos, vale destacar trabalho recente de David Blanchflower, professor do Dartmouth College, publicado como NBER Working Paper, número 26641, nesse mês de janeiro de 2020. Ele analisou dados para 132 países e concluiu que há uma relação em formato de U entre idade e felicidade, que é comum a todos esses países.

No início da vida as pessoas são felizes, mas a partir de então enfrentam um longo e persistente período de queda do seu nível de felicidade. Mas ao atingirem cerca de 45 anos, começam a ter esse nível aumentando novamente. Por isso, o formato de U tem sido a representação preferida para definir a relação analisada. Essa idade mínima varia um pouco entre países e formas de mensurar a felicidade. Nos países desenvolvidos, ela parece ser atingida em patamares um pouco mais elevados do que entre aqueles em desenvolvimento. Apesar de não haver consenso entre os diversos estudos, de que essa relação realmente é em formato de U, a maioria dos mais recentes tem apontado para essa conclusão quanto ao formato da relação entre idade e felicidade.

Provavelmente, ao conhecermos mais do mundo real e os problemas envolvidos na vida em sociedade, o medo e a ansiedade tomam conta de nós. Com o passar do tempo, nos tornamos mais angustiados, dadas as demandas que recaem sobre nós e os riscos a que somos persistentemente expostos. Ao acumularmos mais maturidade e entendermos melhor os limites do sofrimento e dimensionarmos melhor os riscos a que estamos sujeitos, reduzimos a ansiedade e aprendemos a obter satisfação de coisas mais simples, as relações humanas entre elas. Daí nos tornamos mais felizes a cada dia. Paralelamente, o acúmulo de experiência profissional e a consolidação de nossa posição no mercado de trabalho reduzem a percepção de risco a que estamos sujeitos. Isso também contribui para nossa maior felicidade a partir dos 45 anos, idade que Jean Paul Sartre cunhou como a idade da razão.

Os economistas possuem uma bem sedimentada teoria sobre a relação entre renda e idade. Ela é a chamada Teoria do Ciclo de Vida, desenvolvida pelo ganhador do prêmio Nobel em Economia Franco Modigliani. Ela diz que no início da vida as pessoas geram renda baixa e sobrevivem de “empréstimos” que recebem dos seus responsáveis (pais, etc.). Com o passar dos anos, aumenta a sua geração de renda paulatinamente, atingindo um máximo. Depois os indivíduos passam a despender menos tempo no engajamento produtivo e vão diminuindo a renda gerada a partir de tal esforço. Eles passam a manter seu padrão de vida recorrendo ao estoque de riqueza acumulado a partir de rendas anteriores (e juros que ele gera). O esforço produtivo vai caindo paulatinamente, até o fim da vida. Estudos empíricos indicam que a geração de renda atinge seu máximo pouco acima dos 50 anos de idade em países desenvolvidos e um pouco antes em países em desenvolvimento.

A proximidade no momento da vida dessas duas reversões de tendências não é casual. Ela indica que quanto maior a necessidade de gerar recursos financeiros mais infelizes somos. Ou seja, a combinação desses dois resultados parece indicar que dinheiro pode até não trazer felicidade, mas a necessidade ou maior responsabilidade pela sua geração realmente reduz a felicidade. Vale salientar que esses resultados são padrões de comportamento, não necessariamente refletindo a vida de todos.

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