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Editorial O senhor da argila, do fogo e das telas

Publicado em: 20/12/2019 03:00 Atualizado em: 20/12/2019 09:04

Nada substitui o prazer de acordar com um mínimo de saúde, receber no rosto a brisa de uma bela manhã e olhar para o céu azul cheio de nuvens brancas, dizia Francisco Brennand, numa imagem que ele afirmava remeter ao cotidiano do Nordeste, região onde nasceu e viveu até ontem, quando morreu, aos 92 anos.

Brennand achava que sua existência estava longa, talvez até excessivamente longa – disse isso ano passado, aos 91 anos. Não fazia a afirmação como lamúria, mas como comparação com o seu pai, empresário do ramo da cerâmica, que faleceu aos 84 anos. Sua arte, porém, esta ele considerava que não estava concluída – nenhum artista pode dizer isso, afirmava.

Nascido no Recife, em 11 de junho de 1927, ele teve a atenção para a cerâmica como material artístico conquistada durante viagem que fez a Paris, em 1949, guiado por Cícero Dias. Até então, achava que cerâmica era uma “arte menor”. Preferia trabalhar com pintura a óleo sobre tela. Mas, ao visitar em Paris exposição de Picasso, viu centenas de peças do artista em cerâmica. Depois, mesma estupefação com peças de Joan Miró, Fernand Léger, Gauguin… Todos haviam trabalhado com cerâmica. A partir daí Brennand venceu sua relutância em relação ao que considerava “arte menor” e aderiu ao uso do material – que se transformou em sua principal produção, embora também continuasse a pintar.

Na obra mundialmente conhecida de Brennand não tem cangaceiro nem maracatu – o que há de brasilidade em seu trabalho é a liberdade, dizia ele. Outro ponto que destacava era o fato de utilizar barro, tinta e pincel a mão, itens que se destacam nos dias de hoje, quando, afirmava ele, “a arte é eletrônica”. Não fazia a diferenciação por divergência com a contemporaneidade, e sim como definição de características.

Ao longo de sua trajetória como artista, Francisco Brennand imprimiu em sua obra a marca da grandeza e monumentalidade. A morte dele significa para todos nós,  em particular, e para a arte, em geral, uma perda tão grandiosa quanto o legado que deixou.

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