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Editorial Chega de rancor

Publicado em: 26/12/2019 03:00 Atualizado em: 26/12/2019 10:09

Dois mil e dezenove vai chegando ao fim como um ano em que muito se prometeu e pouco se cumpriu. O desemprego seguiu alto, o desalento bateu recorde, investimentos não vieram e a tão sonhada retomada econômica não decolou de vez. Afundado em uma crise já longa demais para a saúde da esperança, o país parece viver, todo dia, uma espécie de prorrogação do dia anterior. A inércia preocupa, angustia.

Verdade que temos hoje a taxa básica de juros mais baixa da história, de 4,5% ao ano. Verdade também que o Congresso Nacional conseguiu aprovar a reforma da Previdência, que promete aliviar as contas públicas a médio prazo. As boas notícias, no entanto, não foram capazes de animar os mercados, impulsionar as empresas, tranquilizar a classe média ou aliviar a vida dos trabalhadores. Ao contrário, embora sinalizem o caminho, parecem deixar claro que não há mais combustível para seguir por ele.

As polêmicas envolvendo o presidente da República e seus ministros contribuíram para dispersar os esforços e para atrasar negociações políticas importantes, incluindo aí todas as mudanças anunciadas e, em seguida, derrubadas; decisões reformadas e vetos de lado a lado. A impressão, às vésperas de 2020, é de que muito caminhamos e pouco nos deslocamos rumo ao Brasil que queremos. O país está cansado. Houve muito esforço para pouco resultado e os números não permitem afirmação diferente.

Um novo ano, no entanto, se aproxima. Oportunidade nova de repetir ou transformar. O governo precisa priorizar o crescimento econômico sobre todas as coisas, todos os dias, horas e minutos do ano que se aproxima. Isso significa frear seus arroubos beligerantes, amaciar suas convicções conservadoras, fazer esmorecer o rancor contra os inimigos e olhar mais para frente do que para trás.

De alguma maneira, o governo precisa, em 2020, repetir o que todas as famílias brasileiras se esforçam para fazer na noite de Natal. Superar as diferenças em nome do bem comum. Priorizar, perdoar e acolher. A política, ciência de governar, se vale muito mais da arte da conciliação que das estratégias de guerra. A polarização pode causar à nação prejuízo comparável ao da corrupção, visto que amarra as discussões de fato importantes a uma pauta ideológica infinita por natureza. Da diversidade devem nascer soluções, não impasses.

Unir esforços contra o verdadeiro inimigo deve ser a primeira resolução de ano novo para o Brasil de 2020. Isso, no entanto, envolve muito mais que a classe política, ainda que deva ser ela a primeira a ensinar pelo exemplo. Para chegar onde precisa, o país depende do esforço conciliador de cada cidadão, do compromisso irrestrito de levar adiante o traço confraternizador que aflora durante as festas. A retomada da economia, com geração de emprego e renda, em uma era virtuosa para os brasileiros em geral depende cada vez mais da vitória da inteligência sobre o ódio.

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