Diario de Pernambuco
Busca
Era Lula pernambucano?

Alexandre Rands
Economista, PhD pela Universidade de Illinois

Publicado em: 30/11/2019 09:00 Atualizado em:

A vinda da refinaria Abreu e Lima, contratos para estaleiros locais e a criação do polo fármaco no estado geraram a impressão de que Pernambuco agora tinha força no governo federal e por tal voltaria a crescer em ritmo acelerado. Um corolário dessa percepção era que a economia local passaria a crescer mais do que a média regional e nacional. Por conseguinte, voltaríamos a ter mais protagonismo nacional e reassumiríamos uma posição de liderança regional. Infelizmente, esses sonhos, promessas e conclusões mostraram-se enganosos. Passados os anos, vê-se que essas visões eram ilusórias. De acordo com dados de contas regionais do IBGE, o PIB de Pernambuco cresceu em média 3,63% ao ano entre 2002 e 2014. Essa média foi de 3,93% para a região Nordeste e de 4,14% para o Ceará. Desempenho mais medíocre do que o nosso na região, somente Alagoas (3,43%), Bahia (3,59%) e Rio grande do Norte (3,04%). No período somente referente ao Governo Lula, 2003 a 2010, o PIB de Pernambuco cresceu em média apenas 3,79% ao ano, enquanto o do Nordeste e o do Ceará atingiram as marcas de 4,28% e 4,36%, respectivamente. Ou seja, considerando efeitos defasados ou não, o desempenho de Pernambuco não impressionou e ficou abaixo do regional.

Apenas se considerarmos os oito anos do governo Eduardo Campos (2007 a 2014), que era aliado do presidente Lula e também de Dilma (no primeiro mandato), a média anual do crescimento do PIB de Pernambuco foi de 4,02%, um pouco acima da média regional, de 3,98%, mas ainda abaixo do desempenho do Ceará, de 4,08%. Ainda assim, esse desempenho foi apenas o quinto melhor da região. No entanto, o crescimento pífio da Bahia, maior economia do Nordeste, puxou a média regional para baixo, permitindo nossa ligeira superação. Ou seja, não há evidências de que o efeito Lula foi relevante para Pernambuco, como muitos esperavam pelo fato de o ex-presidente ser pernambucano. É possível pensar que continuaríamos a afundar mais relativamente e que o efeito Lula nos salvou, fazendo com que ao menos retardássemos essa perda de desempenho relativo. Mas não há evidências para dar suporte a essa hipótese.

Em todos esses períodos, pode se notar que o crescimento do estado do Ceará foi pujante. Sempre entre os líderes da região e acima de Pernambuco. Então cabe tentar entender o que ocorreu de diferente naquele estado. Após visita a Fortaleza para discutir o Plano Ceará 2050, pude perceber que três são os segredos dos bons resultados alcançados por aquele estado. Primeiro, entendeu-se que o objetivo maior do governo não pode ser pagar salários e benefícios dos funcionários públicos. Por isso manteve-se sempre os gastos com pessoal sob controle e uma boa capacidade de investimentos do setor público. Essa postura fiscal e a prioridade para investimentos alavancadores da economia local proporcionaram grande impulso às atividades privadas. Em segundo lugar, o governo estadual sempre teve uma postura desenvolvimentista, não permitindo que as ideologias antiempresários dos funcionários públicos reduzissem a confiança desses na possibilidade de desenvolvimento de suas atividades. Em terceiro lugar, já há cerca de trinta anos decidiu-se dar prioridade à qualidade da educação pública naquele estado. Apesar de muito ainda precisar ser feito, o Ceará já se destaca como possuidor de uma das melhores educações públicas do país. O impacto desse investimento é lento, mas esse esforço e determinação já começam a dar resultados concretos para o crescimento do estado. Talvez os governos de Pernambuco devessem aprender com as lições que o Ceará nos ensina.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL