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O baobá e O Pequeno Príncipe

Jacques Ribemboim
Economista

Publicado em: 21/08/2019 03:00 Atualizado em: 20/08/2019 22:10

Ao final dos anos 20, andou pelo Recife um francês de Lyon chamado Antoine de Saint Exupéry. Alojava-se no núcleo hoteleiro da cidade, no bairro de Santo Antônio. À época, era apenas um anônimo aviador a serviço do Aèropostale, cumprindo a rota dos correios aéreos do Atlântico Sul. Nas horas de folga, passeava na Praça da República, observando as palmeiras imperiais e o impactante baobá, plantado próximo ao Palácio do Campo das Princesas.

Anos depois, seu livro O Pequeno Príncipe tornava-se um sucesso editorial, angariando milhões de leitores ao redor do mundo. A fama, contudo, lhe seria efêmera. Ao que tudo indica, o avião que pilotava foi abatido pelos alemães, perto da costa de Marselha, no estertor da Segunda Guerra. Em homenagem ao herói, o aeroporto de Lyon leva seu nome.

Os desenhos que constam no livro são belíssimos e foram feitos pelo próprio autor. Os originais têm sido disputados em grandes casas de leilões, alcançando cifras milionárias, a exemplo da aquarela em que aparece o personagem do astrônomo ensinando fórmulas matemáticas, vendida por quinhentos mil euros, em 2015.

Em um dos desenhos, veem-se baobás. Na história, são árvores daninhas, prestes a engolir o diminuto planeta do reizinho louro. Muitos se perguntam de onde Saint Exupéry as teria copiado. Ele, sim, estivera na África, de onde são originárias, e talvez as tenha visto em Dakar. Mas ali as árvores se dispõem em florestas e não aparecem na praça central da cidade.

No Brasil, é provável que os baobás tenham sido trazidos nos nefastos navios negreiros e que no jardim botânico de Maurício de Nassau já houvesse exemplares, no século 17. Recentemente, o jornalista Marcus Prado fez uma notável pesquisa fotográfica, registrando treze deles em solo pernambucano, ressaltando que o número total pode ultrapassar uma centena de indivíduos.

Saint Exupéry decerto conheceu o baobá do Campo das Princesas. Pode, também, ter se deparado com a árvore que existe em Natal, no bairro de Lagoa Seca, que dificilmente teria sido a árvore inspiradora, pois se encontra muito distante do centro (embora se ateste que o escritor tenha ficado em uma casa das redondezas em uma escala na capital norte-rio-grandense).

Dentre essas conjecturas, não soaria forçado supor que a troncuda planta recifense tenha sido a que lhe serviu de modelo. Seria nosso, dos pernambucanos, o baobá mais famoso do mundo: cerca de duzentas milhões de pessoas o conhecem por meio dos pincéis de Saint Exupéry.

O bairro de Santo Antônio é um tesouro de afeições. Quando por ali passarem, não deixem de visitar a árvore do petit prince, imaginando o escritor ao seu lado, rabiscando figuras para sua obra-prima. E isso não lhes custará muito: o essencial é invisível aos olhos!

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