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A qualidade do ensino

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 17/07/2019 03:00 Atualizado em: 17/07/2019 10:24

Numa hora em que tanto se berra e tantos protestos se fazem em defesa da educação, contra cortes de verbas e tamanhas outras inomináveis violências contra nossos alunos mais do que exemplares e nossos professores absolutamente geniais, valia perguntar pela qualidade do ensino que se está ministrando e pelo nível dos estudantes que estão sendo graduados – e, portanto, devolvidos à sociedade, para nela exercerem os mais variados e importantes misteres. Penso que estamos diante de assombrosa decadência. O nível das escolas de hoje é muito inferior ao da escola de meu tempo, e o da do meu tempo já era muito inferior ao da escola de meus pais. Falo do ensino todo –  fundamental, médio e universitário. Digam o que quiserem os posudos doutores e pós-doutores de hoje, a universidade brasileira (pelo menos, na minha área) é muito inferior àquela em que estudei, e em que não havia tão imponentes figuras.

Não há exercício escolar em que não me depare com 5, 6 provas com erros crassos de português – concordância, verbo haver no plural, “tratam-se” no plural seguido de um “de” como se o que se segue fosse sujeito, erros de grafia, “subjulgar” por exemplo em vez de “subjugar”, etc. Há muito defendo que, diante do nível de certas provas,  o professor deveria poder indicar alguns alunos para uma prova tríplice: leitura; ditado; e redação infantil (tipo “uma tarde na praia”) – tendo de sair da universidade os que fossem reprovados.  Porque há alunos que simplesmente não têm a menor condição de frequentar um curso superior: não sabem redigir nada, até nem conseguem ler, distinguindo pontos e vírgulas. E o pior é que essa prova tríplice precisava ser aplicada também a alguns docentes, como afirmei expressamente quando, certa vez, alguém, num alto colegiado da universidade, pensou que eu estivesse brincando.

Doutra feita arrumei um pretexto para me esquivar de participar da banca de um pedido de revisão de prova porque, lendo a petição do aluno e lendo o despacho do professor, julguei que teria de manter a nota baixa do aluno mas precisaria também pedir a reprovação, ou a demissão, do professor...

Já denunciei, em artigo de jornal, o nível deprimente de uns doutores avaliadores, que vieram avaliar o curso de Direito da Federal daqui. No relatório final, espantaram-me os seus vários erros de português. Um, em especial, me horrorizou. Escreveram os dois ilustres doutores avaliadores: “o curso existe a mais de 185 anos”. A mais?  Não seria o verbo haver, não seria “há mais”? Poderia ser um erro de digitação. Mas esse erro se repetia várias vezes... Não, o problema era ignorância mesmo, era despreparo. E eram doutores e pós-doutores e avaliadores dos outros...

Há alguns anos, ao me agradecer uma colaboração, ilustre professor doutor me escreveu dizendo que “por hora” o livro sairia em versão digital, não física. Por hora? Por que não “por minuto”, ou “por mês”? Pensa ele que “por hora” e “por ora” são a mesma coisa?

Os alunos das universidades querem respeito? Os docentes querem autonomia e mais verbas? Que tal se darem a respeito começando a estudar? Cumprindo a obrigação elementar de fazer e escrever razoavelmente bem a língua nacional? E para minimamente corresponderem ao imenso custo com que a sociedade toda os mantém?

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