MÚSICA
Diablo Angel aborda prazer feminino e introspectivo em terceiro disco
'O que te dá prazer', terceiro álbum da banda pernambucana Diablo Angel, deságua em sonoridade indie pop e nas diversas expressões do prazer
Por: Allan Lopes
Publicado em: 29/11/2023 12:57 | Atualizado em: 29/11/2023 13:14
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Novo trabalho da banda vai ganhar prensagem em vinil (Crédito: Kamila Ataíde/Divulgação) |
Embora as amarras do patriarcado ainda estejam na música brasileira, as mulheres estão compondo e cantando cada vez mais para reivindicar seu devido lugar. Da saúde reprodutiva à invisibilidade de mulheres negras, várias pautas que costumavam ser negligenciadas no debate público agora ganham impulso em vozes femininas. O prazer, sexual ou não, encontra expressão na letra e no vocal de Kira Aderne, cantora, guitarrista e compositora do grupo pernambucano Diablo Angel, que completou dez anos e lançou o terceiro álbum de estúdio “O que te dá prazer”, com distribuição do Selo Estelita.
O estudo “Por Elas Que Fazem a Música”, promovido pela União Brasileira de Compositores (UBC), registrou que a representação feminina entre os associados aumentou 151% em 2022. Porém, a desigualdade de gênero na indústria se mantém e, por consequência, a feminilidade se dissipa em poucas obras. “O Brasil inteiro é machista, e Pernambuco talvez seja um dos piores estados nesse quesito”, lamenta Kira. Ela e Nívea Maria, nova integrante e tecladista, confrontam a hegemonia masculina na presença e no discurso. “É uma força que se multiplica por dois”.
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Kira e Nívea são as integrantes femininas da Diablo Angel (Crédito: Kamila Ataíde/Divulgação) |
“O Que te dá Prazer” foi pensado em 2019, mas gestado durante a pandemia da Covid-19. As mensagens de esperança e alegria entoadas pela vocalista vão na contramão do pessimismo e do isolamento decorrentes da crise sanitária. “É um disco alegre, pra cima e muito celebrativo da vida e da mulher”, comenta. Entre as nove faixas inéditas, “Quero que o mundo se importe” se destaca pela delicadeza dos versos sobre o amor em tempos individualistas.
Os álbuns Fuzzled Mind (2016) e Futuro (2019) apresentam uma parcela significativa das canções em inglês e espanhol, mas o português emerge como língua soberana na nova era do Diablo Angel. Apenas “The sun is shining on me” é cantada na língua inglesa. “Fizemos o primeiro disco em inglês por uma questão de sonoridade. No segundo, houve uma vontade de me expressar também em português. Agora, a gente realmente explora a nossa língua maravilhosa. Fiquei muito feliz de poder me expressar em português e deixar claro as pautas que abraço”, celebra Kira.
Com assinatura de Pedro Diniz, baixista da Mundo Livre S/A, “O que te dá prazer” incorpora sintetizadores entranhados no indie pop, sem abrir mão do rock alternativo que é a marca registrada da banda pernambucana. “Nação Zumbi e Mundo Livre possuem elementos eletrônicos, então acho que tem um pouco da mistura da música pernambucana”. Mathias Severien, do Estúdio Pólvora, elaborou a mixagem, enquanto a masterização esteve a cargo de Léo D.
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Kira Aderne afirma que álbum é consequência da 'mistura pernambucana' (Crédito: Kamila Ataíde/Divulgação) |
Apesar de ser um dos expoentes da cena alternativa em Pernambuco, a Diablo Angel só começou a receber cachê para suas apresentações recentemente. Kira já arregaça as mangas para o Carnaval após tocar no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) e no São João de Caruaru. “As bandas estão rodando e o público chega nos eventos. A gente está a todo vapor para fazer os shows e ter a experiência maravilhosa de compartilhar música com o público. Não há outra expressão que haja tanto envolvimento com o público igual à música”, aponta a vocalista.
Enquanto são feitos os últimos ajustes para shows em dezembro, o grupo monta a lista de resoluções de Ano Novo. A primeira turnê fora do Nordeste está nos planos. “Estamos nos articulando junto ao Selo Estelita para ir a São Paulo, um grande consumidor de música independente. Chegou o momento da Diablo Angel alçar novos voos”, afirma Kira. Em janeiro, “O que te dá prazer” ganhará prensagem em vinil. “Foi um grande investimento. São poucas as bandas que tem essa possibilidade”.
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